Poemas do Nordeste
O mundo é para todo mundo, mas nem todo mundo é para o mundo.
No dia em que você sair de suas raízes, vai deixar muito mais do que uma vida para trás. Vai deixar cheiros, vozes, risadas que se perdem no vento. Vai sentir o vazio de quem partiu carregando a esperança no peito, mas também o peso de não saber se, ao voltar, encontrará tudo do jeito que deixou.
Quando você conquistar o que veio buscar, quando finalmente decidir retornar às suas raízes, perceberá que o lugar que um dia foi seu porto seguro não existe mais do jeito que você lembrava. Talvez as ruas sejam as mesmas, as casas de portas abertas ainda lá, mas dentro de você, um silêncio se instalará. O tempo passou para todos, e as marcas que ele deixou são mais profundas do que imaginávamos. Talvez você perca alguém importante no caminho, ou talvez perceba que os amigos, aqueles de infância, já não riem das mesmas piadas. Quem sabe a saudade que você sentiu por tanto tempo se torne agora uma presença distante, como uma sombra que você não consegue mais tocar.
E aí, nesse retorno, você vai entender que não foi só o mundo que mudou. Foi você. Você já não pertence mais ao lugar onde cresceu, porque os seus olhos enxergam mais longe agora. Voltar para onde tudo começou é perceber que a única coisa que não mudou foi o cenário. Mas você? Você se transformou. O que um dia foi o seu ‘eu’ já não existe mais. E aí você chora, não por tristeza, mas porque crescer também dói. Dói deixar para trás quem você foi, os sonhos que já não fazem mais sentido, e as memórias que vão ficando embaçadas.
Você amadureceu. E no fim, percebe que o maior desafio não foi ter deixado suas raízes, mas aceitar que, mesmo voltando, nunca mais será o mesmo. E talvez, isso seja o mais difícil: entender que não há retorno para quem se perdeu ou se encontrou pelo caminho.
Renovo do Sertão
Novembro tá chegando, a seca vai embora,
O sertão resplandece, é festa que aflora.
Com timidez, o verde começa a brotar,
O mato se enfeita, vem pra nos alegrar.
Os riachos que antes só guardavam saudade,
Agora cantam vidas com a nova umidade.
Água corrente e fresca, dá gosto de ver,
É bênção do céu que faz a gente renascer.
A alegria do nordestino é pura emoção,
Quando as chuvas dançam na palma da mão.
Trovoadas ressoam, é música no ar,
Armazenando esperanças pra um ano de plantar.
Assim, o sertão se veste de esperança e cor,
Cada gota é um sonho, cada chuva é amor.
Novembro é renovo, é vida a florescer,
No coração nordestino, sempre vai prevalecer.
Nasci e me criei no Ceará.
E tendo alma de poeta,
A dor não me afeta
Pois a sina é superar.
E se vejo alguém rimar
Sobre chuva no Sertão
Dou graças pelo feijão,
A canjica e o bovino.
Eu também sou Nordestino
Do jeito que vocês são.
Pra dançar uma quadrilha
Tem que escolher seu par
Vestir roupa caipira
Saber coreografar
Cumprimentos, balancê
Se o noivo for você
No final tem que casar
Raiz.
Sou dessa terra... menino
sou nordestino valente
que fala oxe e oxente
e que não teme o destino
sou raça de Virgulino
sou esse cabra da peste
que honra o couro que veste
e respeita aquele que planta
e quando o orgulho levanta
é pra dizer... SOU NORDESTE.
Faça sempre sua parte
Seja bom e não espere
E com a melhor essência
O seu coração tempere
Pois um dia irás colher
Tudo o que merecer
Não se vingue quem te fere.
Minha sorte!
Terra seca e rachada
não tem quase nada
que alimente o sertão
é a sorte que vaga
sem ter quem lhe traga
um pedaço de pão!
CAJUÍNA-MENINA
(Ode à cidade de Teresina)
Diante de mim, a cajuína-menina
do campo, Moça meiga e valente.
À beira do Poti, a estátua imponente
do Cabeça de Cuia. Hora vespertina.
Mas o Riso de anjo da pequenina
atravessava a ponte, águas correntes;
e o Rio Parnaíba, à minha frente,
cortava a cidade-luz, Teresina.
E enquanto eu declamava Torquato
e Costa e Silva, rio abaixo, rio arriba,
quando nem havia ponte estaiada,
o Sol fulgurante, no artesanato,
vinha alçar-se, no céu, lá em riba,
brilhando no rosto de minha amada.
Viaje mais na leitura,
Ande na imaginação,
Siga mais o coração.
Beba da literatura,
Abasteça de cultura.
Vai viciar em beber,
Mas livre você vai ser,
Vai amar o diferente.
O leitor planta na mente
a semente do saber.
(Mote: Ataídes Silva, o poeta de Ibitiara-BA)
SOU NORDESTINO!
Eu nasci em um mundo
em Terra de solo nordestino
meu torrão tem mentes brilhantes
esse é MEU destino
não precisa fazer citação
Nordeste é a Região
basta olhar o peregrino.
J .Wilamy Carneiro.
21/01/2022
OXE
A palavra é popular,
dita, assim, literalmente.
Resumida, fica "oxe",
por extenso é "oxente".
Não se vê no dicionário,
mas tá no vocabulário
usual de muita gente.
IPÊ AMARELO
Quem acha que no sertão
só vai ver planta morrendo,
tá muito mal informado
sobre a flora aqui crescendo.
Olhe o ipê amarelo,
mais parece caramelo,
é o Nordeste florescendo.
CULINÁRIA DE PERNAMBUCO
A pessoa em Pernambuco
tem uma fome arretada...
num prato tem dobradinha,
e no outro tem buchada.
Sobremesa lhe dão bolo,
chamado Bolo de Rolo,
com recheio de goiabada.
RECIFE ILUMINADA
Cai a noite em Recife,
logo fica iluminada.
Olha só, que visual...
todinha repaginada!
Terra de "cabra da peste",
coração do meu Nordeste,
ô cidade arretada!
DICIONÁRIO DE PERNAMBUQUÊS III
O confuso é "azuretado",
um pedaço é "cotôco",
já botão é um "pitoco",
que pode estar "acochado",
contrário de "afolosado".
Tem o cara valentão,
"metido a cavalo do cão",
vai ser muito do "briguento",
"virado no mói de coentro",
e achar "massa" uma confusão!
Isso é nosso!
O nordestino fala oxente
ôxe ou visse é da raiz
vôti e apoi isso é da gente
que arretado aqui se diz
respeita o que é diferente
toca a vida e vá em frente
que o importante é ser feliz.
Dor doída!
Sem chuva na minha terra
não há semente que cresça
não há planta que floresça
não há cabrito que berra
não existe um pé de serra
não tem uma flor erguida
não há verde, não há vida
não tem raiz que segure
não tem remédio que cure
a dor que dói na despedida.
Dura vida do sertanejo.
A seca é um tormento
que assola a região
quem caminha no relento
não merece humilhação
quem não tem conhecimento
não entende o sofrimento
de quem vive no sertão.
Minha volta!
A seca me fez correr
me abrigar pelo sudeste
eu só tenho a agradecer
o trabalho que me deste
se a chuva não aparecer
nem que seja pra morrer
mas eu volto pro nordeste.
Fé.
A seca que arrebenta
não apaga meu desejo
o trabalho me sustenta
sem precisar de sobejo
a esperança nos alimenta
e Jesus é quem orienta
a família do sertanejo.