Poemas do Nordeste
Homem do tempo.
Um olhar firme e sisudo
de quem já foi peregrino
a esperança é o escudo
que protege o nordestino
quem na vida fez de tudo
se forma sem ter estudo
nas escolas do destino.
Bons tempos.
As vezes sinto saudade
dos tempos de garanhão
do vigor da mocidade
de correr de pé no chão
mas o peso da idade
só pede a tranquilidade
que hoje tenho no sertão.
A volta do sertanejo.
O sertanejo não quer sair
tem amor pelo seu chão
vai embora sem querer ir
mas deixa o seu coração
esperando a chuva cair
e se nosso Senhor permitir
ele volta para o sertão.
Chapéu de couro!
Nossa terra vale ouro
onde Deus está presente
o trabalho é duradouro
mas o vaqueiro é valente
corre, cuida, pega o touro
e só tira o chapéu de couro
em respeito a nossa gente.
A chuva e o verde.
Quando chove no sertão
o verde é quem predomina
cada semente no chão
uma por uma germina
pra colher na plantação
o melhor de cada grão
da culinária nordestina.
O sertanejo.
O sertanejo de verdade
é aquele que ara o chão
mostra a sua dignidade
por cada calo na mão
da chuva sente saudade
enfrenta a dificuldade
mas não deixa seu sertão.
Num sorriso amarelado
Ainda vejo um olhar brilhar
Mesmo em meio a fraqueza e fome, ele só quer trabalhar
Sonho e esperança carrega
De um dia abraçar
A família nordestina que deixara para trás
As lágrimas lavam a sua alma
E as migalhas alimentam o seu desgosto
Enquanto o suor nordestino, lhe escorre pelo seu rosto
E assim ,dia após dia ,em meio à nostalgia
Vai sonhando encontrar
A felicidade prometida pela vida, que ficou do lado de lá
De joelhos, ele clama, para Deus não o abandonar
E que chova o bastante, para ele regressar.
Enquanto soluça, e diz a si mesmo:
-Eita terra esquecida, mas é lá o meu lugar.
Tinta verde.
Que a seca faminta
não tire o que veste
do couro e da sinta
do pouco que reste
antes que seja extinta
o verde da tinta
que pinta o nordeste.
Pintou o arco - íris.
A chuva não veio ainda
mas já deu uma posição
serás sempre bem vinda
aqui na nossa região
e quando a seca finda
nasce a imagem mais linda
que existe no sertão.
Origem
Posso até mudar de país
mudar de pobre pra grã-fino
mudar de triste pra feliz
posso até mudar de destino
só não mudo a minha raiz
porque o talo é nordestino.
Toda honra.
O trabalho tem honra e garantia
é da terra que brota o sustento
toda fé, oração e Ave Maria
no coração recai o livramento
antes chorar de barriga vazia
do que a alma sofrer sem alimento.
Banquete.
O meu café é uma riqueza
mesmo sem ter rabanete
não tem queijo de Veneza
nem tem creme de sorvete
mas se tiver cuscuz na mesa
isso pra mim já é banquete.
Nordestinês.
Inconveniente é amostrado
conversa fiada é leseira
moça bonita é faceira
cabra de sorte é cagado
com dinheiro é estribado
e dar uma bronca é carão
de repente é supetão
jarra de barro é um pote
pescoço aqui é cangote
e o puxa-saco é babão.
Nordestinês.
Cabra bom... é arretado
meia garrafa... é meiota
mal vestido... é marmota
gente boba... é abestado
perdeu tudo... tá lascado
falar mal... já quer frescar
vai embora... é arribar
se tá triste... é jururu
gente feia... é cafuçu
e não cumprir... é fulerar.
A mulher nordestina.
A nordestina é fascinante
por sua cumplicidade
pela fé da retirante
pela dor de uma saudade
pela força da gestante
pelo doce da amizade.
Nordestino.
Isso é coisa da gente
por aqui tem que ser macho
do tipo que fala oxente
não tem medo de despacho
dá um gole na aguardente
e tira a pitomba do cacho
Forte... até quando?
Quando a esperança some
enfraquece o homem forte
se a dor machuca o nome
a alma quem sente o corte
quando seca traz a fome
a fome conduz a morte.
Ser Nordestino.
Ser nordestino é ser
homem de grande valor
não reclama o padecer
planta paz e colhe amor
não tem medo do sofrer
e desconhece a própria dor.
Nosso povo.
Esse é o povo brasileiro
nordestino de verdade
que trabalha o ano inteiro
não ganha nem a metade
por aqui falta dinheiro
mas sobra dignidade.