Poemas do Nordeste
Infância seca!
a seca é o pior enredo
pelo destino que lança
a sede, a fome e o medo
segue o fio da esperança
e o menino sem brinquedo
vira homem logo cedo
mesmo sendo uma criança.
Tempos.
Aquele joguinho de prego
eu não esqueço jamais
mas hoje me sinto cego
com esses jogos virtuais
na saudade eu me apego
e aquela infância não nego
porque fui feliz demais.
Eita vida!
A vida no sertão
é diferente da cidade
não existe discussão
onde há simplicidade
cada amigo é um irmão
e todo aperto de mão
tem respeito e amizade.
Ser nordestino!
O cabra pode ser idoso
seja rapaz ou menino
não conheço um medroso
que se esconda do destino
nunca vi um preguiçoso
e eu me sinto orgulhoso
de também ser nordestino.
Nordestina!
No sul tem moça bonita
lá no sudeste é um harém
no norte é cada pepita
no centro oeste também
mas numa roupa de chita
e uma beleza infinita
só a nordestina que tem.
Que o dia seja assim
brilhante ao amanhecer
sem ter nada de ruim
que possa me entristecer
o que eu espero pra mim
também desejo pra você.
Vida simples.
Vamos viver sem receio
ser feliz não se compara
quando o momento tá feio
a tristeza o tempo sara
ter amizade no meio
se manter de bucho cheio
e ter um sorriso na cara
No sertão!
A lua cheia quando sai
só se põe no outro dia
assim que a noite cai
no sertão o tempo esfria
bença mãe e bença pai
que amanhã é um novo dia.
Gula.
quem quiser fazer regime
eu desejo boa sorte
mas eu jogo noutro time
onde só tem cabra forte
se comer muito for crime
vou pegar pena de morte.
Bem viver.
Eu só tenho a poesia
e gente boa ao meu redor
mas não tenho a garantia
do valor do meu suor
mas espero ter um dia
tudo aquilo que eu queria
para um mundo bem melhor.
Saudade deles!
Que saudade do roçado
das andanças pela feira
do cavalo na cocheira
painho chegando cansado
mas trazia o apurado
que garantia o cuscuz
hoje mainha é a luz
que ao lado de painho
ilumina o meu caminho
com as bençãos de Jesus.
No sertão.
Isso é vida de sertão
aqui a seca é massacrante
onde a dor de cada irmão
mina os traços no semblante
quando hoje tem um pão
amanhã ninguém garante.
Seca medonha!
Essa dor que a seca gera
faz nosso povo sofrer
cada dia mais severa
não permite o grão crescer
ai meu Deus... quem dera
que na próxima primavera
não falte água pra beber.
Perguntado sobre o respeito ao povo nordestino, Matheus respondeu em verso:
"- Respeito a um povo que, com muitos motivos para chorar, segue em frente a sorrir. Pois desistir no dicionário sertanejo não existe, o negócio aqui é insistir."
Crie um caso de amor com você, seja o melhor que pode ser, e, no mais, plante suas melhores sementes para colher suas melhores laranjas.
(trecho da crônica "Crie um caso de amor com você mesmo", do livro "Matuto Poeta - Histórias Rimadas no Sertão", de Matheus Boa Sorte)
Sustentação.
A seca traz sofrimento
acaba com nosso chão
a poeira sobe no vento
não nasce o trigo do pão
o sertanejo sem alimento
sai em busca do sustento
bem distante do sertão.
A ida.
A seca está possuída
já não me deixa plantar
abre no peito uma ferida
que nem o tempo vai curar.
e a dor que é mais doída
é ter que trocar de vida
pra viver em outro lugar.
"Oxe!
Menino mas o que é "Oxe?
alguém pode me responder?
"Oxe é Oxe e vice versa
cuidado pra não esquecer
"Oxe é a parte do "Oxente...
que na linguagem da gente
a gente gosta de dizer!
A volta.
Na seca ninguém investe
sem planta e sem animais
parti de rumo ao sudeste
onde eu trabalhei demais
hoje voltei pro nordeste
e não tem seca da peste
que me tire dos meus pais.
Culinária nordestina.
Tem comida extraordinária
da França, Itália e da China
tem também da ordinária
e tem aquela que é granfina
tem da chic e da primária
só não tem na culinária
quem supere a nordestina.
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