Poemas de Ternura
'SER...'
Sou rima,
lençol,
pecado...
Semente esparramado,
seca,
freático...
Soldado ferido,
insensato,
solitário...
Calabouço,
místico,
para-raios...
Perdido em multidões,
nuvens,
bárbaros...
Embatucado,
solstício,
açoitado...
Sou pedras,
lanças,
armaduras...
Loucuras,
ferraduras,
homem de aço...
'SOMOS ARTISTAS...'
A vida pendurada na janela.
Avenidas em molduras,
martelos.
Antes a paisagem fosse risonha,
cantada à beira-mar,
neblinas suaves,
amplificadas.
A vida sempre ecoa,
mistérios,
limoeiros,
marteladas...
Pequenos e grandes passos se vão,
agora nevoeiros,
escadarias.
Matéria diluída,
sem paradeiro,
saguão.
Deixar-nos-emos saudades.
Eis o retrato da vida:
passageiro como trem!
Bela arte,
invenção...
'HIPERTEXTO'
Absorvo cliques secretos,
cursor entre páginas,
colunas.
Anônimo sem eco.
Virtual,
visceral,
subscrito...
Ausento realces,
linhas,
endereços.
Incógnito 'fontes',
cobertores,
diálogos.
Plagio códigos,
bibliotecas...
Ratifico o abandono,
trilho embaraçado.
Invento faces,
ego gelado.
Sou impressão nos dias de chuva,
'Web matéria',
punhados de agravos...
'JOSÉ ERA SINOPSE'
José era sinopse,
linhas vazias,
extinção.
Apanhara estrelas,
sonhos avulsos.
Jogara com o destino.
Equilibrou partidas.
Abandonou-as.
Caiu,
levantou-se...
José era sinopse
Imbuíra melancólicas pressuposições,
caminhos tortuosos,
veredas.
Correra de encontro aos ventos,
equilibrando-se em cordas,
fumaredas.
Sem orações,
abraços,
ou reiterações...
José era sinopse,
mas transformou-se é compêndio,
documentários.
Fixou amor,
caracteres,
permanência.
Redige a própria história.
Com seus conglomerados temas,
tenta haurir reflexões,
escrever trajetórias,
poemas...
'ANO POLÍTICO'
Tempo de cidadania,
dos indecentes.
Das escolhas dos representantes,
do 'NADA SERÁ COMO ANTES'.
Dos reflexos que não mudam,
mudas que não brotam em meio a tantos fertilizantes,
terra boa para plantar,
cultivar...
Elegemos nossos reflexos.
Elegantes estampados na tribuna,
triunfantes.
Roedores sem identidade?
Que nada!
Fazemos parte!
Há muito da nossa cultura no palanque,
cultura irritante...
É também o ano das equivalências,
cidadãos plantando esperanças em meio ao sol.
Dos que tentam transformar o desequilíbrio das formas.
O céu não transmudará repentinamente,
já é tarde!
Esperarmo-lo ei há tantos anos.
A 'identidade' já estar enraizada em naufrágios,
sufrágios,
símbolos covardes...
'DECODIFICAR'
Nas margens do rio Tapajós,
na ribanceira,
a casa de taipa,
coberta de palha e uma paisagem deslumbrante à frente.
O rio enorme provocara admiração.
As casas eram próximas uma das outras.
O acesso dava-se por uma trilha,
onde,
na escuridão,
dificilmente se saía dele...
Nas noites de lua cheia,
sempre nos reuníamos,
sentados à frente da paisagem para ovacionar aqueles reflexos que batia na face.
O retrato ainda é real e intrigante.
Sentados em 'rodas',
ficávamos a cantar em coro com a ajuda de um velho violão abatido.
Nas tardes frias e cinzentas,
gostávamos do frescor dos ventos.
Eles falavam uma linguagem que só agora,
depois de muito tempo,
começamos a decodificar....
Mais de nós
.
Informe eu era
Até que veio me encontrar,
Sou agora como queres
Se me queres pra amar...
.
Sou terra, ar e fogo...
Eu sou o que você me faz
Se me queres pra amar.
.
Se te me entrego nesse ímpeto
É pra não ser mais tão igual
Como eu era sem te amar...
.
Sou um pouco de mim,
Muito mais de nós,
E tudo aquilo que o amor nos faz...
.
Edney Valentim Araújo
1994...
A natureza é perfeita
Até nas imperfeições
Assim como a mão direita
Quando toca os corações
Tudo tem o seu lugar
Seu tempo na arquitetura
As vezes bem devagar
Com imperfeita ternura
A ela
É desejo de quem ama
Se entregar em um abraço
E para sempre ali ficar...
Nesse amor que me completa
Parte dela em mim está,
Só não deixou parte de mim
No coração dela se abrigar...
E como veio um dia foi,
Só não se foi sublime amor
Que a ela ei de entregar.
Edney Valentim Araújo
1994
TI HAVIA
Não sei se eu existia
Quando em mim
Não ti havia,
Sei que quando
Em parte eu era
Nem mesmo em parte
Eu existia...
O inverno e a vida fria
A todo tempo se fazia,
Mas os ventos que te trouxe
Trouxe a junto à alegria.
Agora por você
Tudo é primavera
Com outono e verão.
E nem mesmo o inverno frio
Esfria mais meu coração.
Edney Valentim Araújo
1994...
Mesmo estado decepcionado comigo, eu não irei desistir de você
Mesmo que não comendo a minha comida, porque falhei consigo
Mesmo assim não irei de parar de dar comida a você
Só não se esqueça que amo muito você
Estarei sempre ao seu lado torcendo para o seu bem estar, chorar com as suas derrotas e regozijar-me com suas conquista!
Lhe vem
.
Um dia veio a ela
Essa magia tão divina
Desse fôlego infindo
Que o Divino chama vida.
.
Alma vívida de breve vida
Tão cercada de carinho
No caminho do Eterno.
.
Seus dias se te contam
Como água que se “aconcha”
Em saudosas frágeis mãos.
.
Passa o tempo e leva o vento
Estes dias que te foi sereno,
E conta-se agora os dias que lhe vem.
.
Hoje é o tempo,
Que se lhe colhe mais um ano
No que outrora foi o ontem…
E faz eterno o sentimento
De que mais vida se lhe vem.
.
Edney Valentim Araújo
Como pode ser o alicerce da sua mente ?
Se não fazes o que tu sentes e não deixas rebater
como pode ser o tesouro da sua alma, se nem ao menos encontra a calma no instante do viver, como pode ser a vitória que tu pregas se o amor você deixa a cegas demonstrando sem querer
não faças aquilo que não desejas mas também não prometa o que não sejas para depois não se arrepender, cuide da sua instancia no momento de importância da sua vida sem viver
Livre, finalmente LIVRE !!!
Estou em estado de graça...
Já sinto os pingos
da grande "Chuva de Felicidade",
nada mais me abala,
nem ninguém nela interfere...
Descansada,
Sigo a vida com ternura,
confiança
e leveza...
Deus está presente,
e já é mais que suficiente...
Deixo o passado para trás..
Inerte, morto.
O que me importa é o "HOJE"
e toda essa Beleza,
Alegria e Paz !
Em você li a frase: É PROIBIDO AMAR-ME!
Mas como? Se te li nas entrelinhas, do avesso e direito.
Senti um aroma da mistura de doçura e amargura.
Inebriante, viciante, você é!
Sem ao menos falar-te já te lia, sentia, percebia, te vivia.
Antes do primeiro oi, sinceramente,
já te tinha em pensamentos…
Mesmo proibindo-me de amar-te, já te buscava e queria! Não há quem ordene ou dome um apaixonado coração.
O meu é completamente fiel,inclusive, ao que deseja.
É PROIBIDO AMAR-ME!
Como se fosse possível conter, o encantamento da alma.
Vem florear
.
Essa flor do meu encanto!!!
Tem perfume e seus espinhos,
Mas não perde o meu amor...
.
O tempo passa
Tão alheio a tua beleza
Sem roubar-lhe a fragrância desse amor.
.
É como vinho envelhecendo
No carvalho do meu peito
Fermentando o coração...
.
Do nascer ao por do sol
Ela embriaga a minh’alma
De encanto e magia...
.
Há!!! Essa flor tão bela,
De estação em estação
Vem florear meu coração...
.
Edney Valentim Araújo
Teus carinhos
.
Como poderia eu lembrar,
Fazer-me recordar
De quem nunca esqueci...
.
Não temos um passado
Nesse amor que é tão presente,
Vivo eu e só você em mim...
.
Passa o tempo
Marcando nossos corpos
Sem tocar a minh’alma apaixonada.
.
A menininha dos teus olhos
Abrandou o meu tímido grito
Sem me entregar teu coração...
.
Não me negaste teu sorriso
E os teus sonhos tão infindos,
Só não me deste a tua mão
E os teus carinhos.
.
Edney Valentim Araújo
1994...
Calmaria
Aqui, neste porto seguro,
pacífico, delicado, sem palavras, sem vento...
Deixo o silêncio chegar,
nesta bonança que me invade o peito,
e me toca a alma com ternura!
E o tempo passa, irremissívelmente progressivo...
-- josecerejeirafontes
'EU SÓ QUERO VIVER...'
Eu só quero viver. Esquecer a solidão que enche à alma de esperanças vãs. Aprender a chutar as amaldiçoadas sequelas da vida. Amanhecer e não ver as feridas nessas paisagens. Nem passagens medonhas cristalizando a alma a cada dia. O rio calmo definhando o coração espera-nos silenciosamente...
Eis de pôr as mãos nesse solo sagrado devastador. Deitar ao lado da escuridão e agradecer pela dores da vida. Por mais que sobrevivamos, quero agradecer os despenhadeiros trilhados, clãs vagando dolorosamente. Que a dormência acabe com os pesadelos periódicos, paradisíacos...
Quero abrir olhos e avassalar vaga-lumes alumiando os vernáculos. Adentrar a casa de palha que tanto sonha-se. Voltar a ser criança por um fio. Deixar o frio da madrugada percorrer a espinha nas horas incertas. Lembrar do filme que passa em segundos afugentando a trilha percorrida...
Vou respirar ares refutados. Esquecer as tristezas inesperadas que afagam o coração em formigamentos. Ter como sentimento a liberdade para ir e vir. Sonhar ao ver os olhos da esperança balançando bonança...
Só se quer alguns passos para abraçar pai e mãe infinitamente. Ver filhos brincando fazendo jardinagens. Olhar para a sinceridade cercando os dias felizes. Já tem-se outras vidas plantadas ao lado esbanjando Jovialidade. Pegar a imortalidade que aflige hábitos e costumes, fazer deles perfumes dos mais elaborados. Eu só quero a liberdade, de lado, suspirando outra vida...
'AMNÉSIA'
Recentemente, encontrei uma das minhas irmãs e dei-lhe um forte e longo abraço. Desses que nunca mais esquecemos. Eu não sabia onde morava. Tinha esquecido quem eu era. Para onde ia. Estava andando ao léu, talvez perdido como sempre. De repente, emocionado, falei-lhe:
- Sabia que eu sinto falta de todos vocês?
Naquele exato momento, o coração jorrava uma saudade repentina de tudo e de todos. Talvez do tempo perdido. Das conversas jogadas que nunca tivemos. Nós choramos por algum tempo abraçados...
Sua casa estava bem diferente da última lembrança. Tinha uma área bem simples na frente. Atrás, um lago enorme, onde dava para ver meninos pescando o almoço. Alguns peixes em fieiras estavam à mostra, ditando abundâncias. - O que você faz aqui?
- Estou meio perdido - Falei!
Os olhos dela estavam abatidos, mas por trás da retina consegui ver o brilho que tinha quando éramos crianças. Tomando banho na chuva. Fazendo traquinas. Vendo o pôr-do-sol em outra perspectiva...
Eu tinha uma lembrança e ela estava ali à minha frente, viva, pouco sorridente. Falando das coisas diárias e banais, outras surreais. de repente perguntei-lhe: - quem eu sou, onde moro?
- Você não lembra? Sua casa fica algumas quadras daqui. Vá direto e vire à esquerda, na terceira quadra.
- Quem você é? É uma pergunta difícil de responder. Você é o que é! E ninguém vai tirar isso de você! É um homem bom, com seus erros e acertos. Logo após, despedi-me e fui embora. A memória meio confusa, expressando a saudade de uma vida toda...