Poemas de Ternura
'SABOR: CIÚMES'
Me vi louco, debruçado sob o idoso sofá de alcatifa. Dia antes, você passara com outro à minha frente. Não tão de repente, meu coração disparou: pistola automática com tiros se reciclando ininterruptamente!
No sol de verão, em meio a multidão, a rua saborosa de
ausência, sinalizava dano. "Aperto de mãos". Não mais que isso! E já te imaginava minha. Te devorava nos meus olhos e você, você passou com outro!
Justo agora que te convidaria para um sorvete. Se bem que um de açaí, me tiraria daqui: zelo criado por mim! Detesto quando falam que sou acanhado! Dia desses, dei um soco num larápio. Sorte a minha que não acertou e saí aligeirado.
Mas você Rosalinda! A que seria mulher dos meus cinco filhos. A que ficaria atônita, esperando minha chegada, a quem eu amestraria para ser amada. Ainda obstúpido, fico a viajar nos meus mares, sem lugares, sem ares!
Ei! Agora lembro-me do calhorda! É seu primo Rufino! E eu que passei a noite às claras pensado você nos braços de outro. Pura quimera! São quase seis da manhã, daqui a pouco, tentarei criar coragem e te convidarei para um sorvete de açaí ou qualquer outro sabor!
'HOJE'
Hoje: alvorecer!
Gritei palavras,
Mas elas ficaram imensas,
Pesadas.
Amanheci dialético,
Tentando dizer: te amo!
Mas não proferi.
Montanhas despedaçara a bravura.
Despencar-me-ei amortalhado,
Chorarei granizo,
Horizonte perdido,
Paralelepípedos.
Aventurarei mistérios incógnitos.
Seduzirei criar riscas,
Loucuras mortais,
Melodia!
Hoje: alvorecer!
Chorei palavras,
Mas elas tornaram-se monstros,
Quiçá...
Sem fim
.
Meu amor não é pequeno
Quando nele cabe agente
E não me tenho aí contigo...
Sombras do passado
Refrigeram a minh’alma
De vívidas lembranças de um sorriso
No teu mundo já perdido.
E nesse mundo diminuto
Que me tens num pensamento
Que o tempo registrou
Virou meu elo tão perdido
De um amor adormecido.
Se tivesse uma medida
Eu veria o nosso fim,
Mas não me chega um limite
Nesse amor que é sem fim...
.
Edney Valentim Araújo
1994...
Criação
.
Se a vida fosse uma arte
Onde se traça em branco quadro
Os caminhos do amor,
Teria vida nessa arte abstrata
Os contornos do tracejo de se amar...
Seria a arte um momento
Em que se funde autor e criação
Em vívidas cores de emoção...
E nestes traços outrora informes
Vai-se a distante imensidão
Desfazendo a solidão...
Agora o rabisco de um instante
Em que reluz eterna ascensão
Fulguraria o árduo fogo da paixão...
Seria as bordas tenaz linha
Em que desenha a amada minha
Minha vida e meu contento,
Onde derrama as cores
Infundidas do infindo quadro vívido
Agora posto autor e criação.
.
Edney Valentim Araújo
1994...
Alma Almada
.
Mude a vida a história
Antes dita como não,
Risque os traços do destino
Imperfeitos de ilusão
Alma amada com paixão...
.
Dela eu fui,
A ela eu serei...
.
Cada dia um novo dia
Onde encontro o meu perdão.
Não tenho os traços do destino
Como um conto de emoção,
Estendo a ela meus caminhos
Imerso de paixão...
Ção, te chamarei de Ção.
Alma minha amada com paixão
Onde está meu coração.
.
Semente posta ao chão
Imolando ao coração
Levedado de emoção...
Volta e meia penso nela
Alma viva de paixão.
.
Edney Valentim Araújo
BRENNAND
A cerâmica é arte,
onde fazem esculturas.
As mãos de um grande artista
criam obras e pinturas.
Mas, pra ser um imortal,
além de pintar mural,
tem que ter muita ternura.
Beleza primaveril: A essência do Amor.
A tarde adormece, quente e calma
O anoitecer anuncia um clima de suave brisa
No céu, um colorido, audaz
De luminosidade astral
Anunciando que a bela natureza
Se avizinha, com suas centelhas clorofiladas
A mirar num futuro
Bem próximo
A encantadora primavera
Doce leveza de amor
A inundar de beleza e ternura
Os campos, bosques e jardins
Colorindo o espaço terrestre
Com seu meigo jeito de SER
Estabelecendo uma eclosão de confusão de belezas.
Primavera e você, a rara essência do AMOR
Estrela perdida
Procurarei na imensidão do universo,
Buscarei alguém que se assemelhe a você.
Procurarei a minha estrela perdida,
Alguém que mereça o seu lugar.
Se encontrar, entregarei o meu corpo.
Quem sabe ela resgate o meu coração,
E traga de volta para nós dois
O melhor de mim que ficou com você.
Entregarei o meu corpo
Para que ela ganhe o meu coração,
E com ele, amor que você não quis.
Edney Valentim Araújo
'SINTO FOME'
A fome tem gosto queimadura,
e queima a alma.
Grunhido latente apregoando penúria.
A missa ainda reza aos órfãos,
pobres nas calçadas!
Olhares martírios,
e tantas outras melancolias...
Urubus Garbosos,
- mirando pasmos entre si -
pulverizando o divino pernil jogado.
Sublinhadas orações passadas,
alertando o sino amordaçado:
é hora de avocar!
Mendigar acenos...
A luz penumbra,
lembra indumentários,
- e uma cama quentinha! -
Escuridão, escuridão!
Porquê embrulhas o tempo indelével?
Tempos de fome,
sonhado nas portas das igrejas...
Fome na espinha!
A triste viúva e seus rosários,
sem revindas no caminhar matinal.
O contemporâneo-bicho-papão,
e suas rezas não vindas.
Excêntrico que assusta,
fome de arrimos...
'ESCOLHAS - Fragmentos I'
Teus filhos dormem tranquilos,
sossegados.
A comida está à mesa,
tem sabor agrião e cansaço...
Espalha a felicidade por mais insano que sejas.
Não impedes o abraço,
e as fadigas que te vem,
no dia a dia embaraços...
Sabe-se,
és ferida pelas circunstancias das buscas.
Não tornar-te insignificante,
já és tão gigante...
Beijas as mães que geram vidas,
aos fortes,
aos fracos.
Torce a fatalidade nos braços...
E nas tuas diligências - ser diário -,
fazendo do coração: diamante!
Alucinante na mera intuição.
Tu decides!...
'NASCIMENTO'
Noite turva.
Frio na espinha.
À Pátria mãe clamava atalaias,
rondas.
Trabalho em círculo,
andar cansativo,
mas significante em épocas de chuvas...
Lembro-me o olhar de tubarão,
serras pontiagudas,
escorpião.
E as tantas palavras vãs.
Não eras soldado,
mas capitão,
metralhando hediondos adjetivos...
Ser eletrocutado no desprezível,
exímio de chorume,
fuligem nos olhos,
teve significâncias no tempo.
Acolhi o que dissestes para crescimento.
E cresci infindavelmente,
não sabes o bem que fizestes...
Sem asas,
mostrastes o infinito.
Sem forças,
nascera um gigante.
Houveram milhares de noites,
e inspirei-me apenas naquela...
Lembro quando verbalizavas 'desmerecimentos',
'fracassos'.
Não sabes o volume,
tampouco o tamanho da medida.
Mas me levantastes naquelas palavras bem arejadas,
tão bem colocadas...
Engraçado!
Teu nome de guerra era 'Nascimento'.
Mal sabias,
do renascimento a cada palavra mal adjetivada.
Eras grande no momento para que eu galgasse o meu mundo.
Obrigado pelo nascimento,
caro amigo 'Nascimento'...
Hoje,
vi tua imagem,
com mãos ainda em formato de 'descansar'.
Ainda há tempo no moinho.
A vida dá voltas,
e o tempo nos ensina maravilhas....
'JANELA II' - [Fragmentos...]
Bebe-se uma tequila,
a fome é lembrar dela:
pobre vida!
Na madrugada ornamentando sequelas.
Recriando canções,
há de se sonhar com elas,
bravejando capelas,
sons oblíquos,
imensidão que não se vê.
A janela só tem sentido fechada...
'AMAR PORQUE...'
Quando se ama,
colhe-se as mais belas riquezas.
Doação sem trocas ou reparações...
Aprende-se [o eu] na mais bela essência.
Ser 'menos eu',
'mais doação'... .
Amar é,
não se importar p'ra vírgulas,
ou ponto final...
É despertar,
abstrato como o infinito.
Concreto na alma...
Amar é,
ter esperança,
bonança nas tempestades...
Sorriso,
quando tudo parece perdido.
Sinônimo de bem-querer...
Amar porque,
é dádiva.
É renascimento...
O amor e suas sementes,
plantadas em todas as estações.
Sem subjeções...
A finalidade do amor,
está nas pequenas ações.
Amar simplesmente por amar...
Porque é intrínseco aos humanos,
à moral.
Amar sem ser banal...
Amar mostra magnitude,
esperança e atitude.
Vamos amar até o final dos tempos...
'JANELA II'
A vida sempre leva,
o olhar p'ra vida aquarela,
janelas embaçadas.
Palco - pessoas cruas-,
não veem o clarão da lua.
Andam a despedaçar-se.
É o olhar circular,
"a vida pendurada na janela."
Corações crus,
fixados nas ruas desertas...
Bebe-se uma tequila,
a fome é lembrar dela:
pobre vida!
Na madrugada ornamentando sequelas.
Recriando canções,
há de sonhar com elas,
bravejando capelas,
sons oblíquos,
imensidão que não se vê...
Mudanças no tempo,
cancelando querelas.
Invisíveis nos olhos,
- a tal janela -.
E como se perdem!
Sem quê e sem porquês.
Ela tem atiradores,
sabor perspectiva p'ro mundo,
forma nas tempestades.
A janela só tem sentido fechada...
Ainda serei,
Esse 'poeta',
Tão chamuscado...
Cheiro de letras,
Peito apertado,
Criando ilusões...
Como os malabares,
Nas janelas,
Pendurados...
Abraçando letras,
Extraindo sequelas.
Vislumbrando sacadas...
Estradas criadas,
Amortecendo a ilusão.
Algodões em tigelas...
Faminto espalhando sonhos,
vida abstrata,
poeta...'
'MEU CORAÇÃO'
Meu coração, mar de indecisões. descompreensões e outras coisas que eu não entendo. Debilitado nas condições de amar. Relutante e inseguro como as pedras nas cachoeiras. Avistando abismos profundos. Preservando sequelas e outras enxurradas...
Meu coração, conflitante ao extremo. Sangrando palavras vãs. Mórbido nos limbos. Desencorajador de almas. Incógnita a relutar o futuro, vivendo à migalhas a cada manhã. Sou eco sem respostas. Existo? Não sei! Talvez! Só sei que, ser poço de indecisão, causa grande confusão. Ora sou eu! Ora não tenho horas para ser o que me pedem...
Meu coração, mórbido. Conflitante consigo. Tenta ser diferente, mas a verdade: é igual aos outros corações. Que deixam ser abatidos. Morrendo e parecendo ter vida. Corações sorriem e choram ao mesmo tempo. Sorrisos verdadeiros. Lágrimas escondidas. Coração é ter vida e se aproximar da morte a cada dia! É um pulsar, pulsando estranho. Tarântula escorregadia nos braços. Desprendendo veneno e revivendo o passado. Matando leucócitos enfraquecidos...
Meu coração tem flechas. Matando sonhos que acordaram para vida a cada lançar-se. Ter vida é ter coração. Voltados pra razão ou qualquer coisa que pareça papiros. As pessoas sempre falam nas coisas do coração, como se isso fosse tão banal. Que truculência esse meu amigão. Corroído sonhos, artista sem intenção. Decidi: não quero mais tê-lo...
É chegada a hora de viver, sem vitalidade ou órgão algum. Sou perecível desde que nasci. Não preciso de sequelas, nem de costelas para abrasar a dor. Quero um coração de verdade. Desses que a gente joga no rio. E espera ele fazer o percurso. Provisório como não saber do calendário, ou do dia santo que passou. É chegado a hora de pulsar, respirar outras intenções, pintas outros quadros, fotografar imagens reais, cobertas de razões...
'VIR DA LAMA'
O velho destino abraçando o pesar. Um filme à céu aberto e o prato bestial do meio dia. Ainda tenho mãe à tiracolo, seu colo aquecendo o frio no ônibus matinal. Milhares de fúteis paisagens. Quatro da manhã o garoto fez-se homem de idade. Não decorou sobrenome, apenas ruas paralelas, banalidades...
A vida parece autêntica miragem, microfilmes. Turvos dias, apenas! O estômago a embrulhar ecos. O riso solto em projeções, sem foco principal, reflexos. Infância corroída nos aluviões, perdido como pedras nos rios mais profundos. Os dias não têm porquês. Longe de raciocínios, tudo vem, meio, sei lá pra quê...
Casa de palha. Entulhos e panos ao redor da vida baldia. Que chatice! Hoje tem escola. Mas a barriga ainda ronca. Vazia de pretérito. Uma, duas horas. Sou mais meus carrinhos de latas. fico a Imaginar outros meninos, fartos à vontade, fazendo trajetória, futuro promissor...
Histórias sem leitores. Quase nada mudou! Apenas retrocesso. Do processo circular estagnado, definhando pessoas. Sou da lama, quem se importa? Tenho sonhos. Faço lúdica minhas memórias. Sou leitor de um mundo melhor. Inventor correndo na chuva, íngreme em chamas. Utopizante em vitórias...
'QUERER'
Queremos tantas coisas essenciais,
outras fúteis.
Todas são relevantes.
Custa-nos descobrir a linha que realmente queremos seguir.
Descobertas assolam.
É conveniente guardarmos a sete chaves,
não adianta extravasarmos o que talvez,
irá nos pertencer um dia.
O contíguo sufoca,
e a distância nos alimenta...
Temos mundos diferentes,
porém,
a direção é a mesma.
E seguimos...
Sem saber o que realmente queremos.
Sabemos,
mas fingimos com habilidade.
Que nosso eu extravase.
Que sufoque!
É isso que nos deixa parcialmente vivos: o querer que inquieta e o extenso caminho a prosseguir...
Quisera termos a ingenuidade dos loucos.
Sim!
Desses que não se importam com a chuva e o sol.
Uma loucura aparente,
para um mundo aparentemente louco...
Encanta meu viver com a flores do teu carinho...
Abraça minha alma com suas cheganças...
Colhe em meu rosto a luz que brilha por ti...
Rega as flores do caminho com as lágrimas
Que o céu derrama...
Aquece meu peito com o sol do Criador...
Você é luz... ternura... amizade e amor.
Lembrar
Estou vivendo este momento,
De ter um tempo no tempo
Onde se vive os sentimentos...
Agora sou dois corpos
Num só coração
Transbordando em emoção.
Estou vivendo este momento,
De encontrar no teu sorriso
Motivos pro meu riso...
Vou dividir contigo este momento,
Um olhar, mãos dadas ao caminhar...
Pequenas coisas que nos fazem bem.
Estou vivendo este momento
De me entregar de coração
Sem saber aonde anda a razão.
Estou vivendo este tempo...
Que a todo tempo quer te amar.
Porque depois de tudo isso
Eu ainda vou viver nós dois.
Edney Valentim Araújo
1994...