Poemas de Ternura
'O ONTEM'
Estamos cansados. Aflitos.
O amanhã será o hoje
e isso nos aterrorizará novamente.
Asfixiar-nos deveras.
Olharemos para a mesma janela.
O mesmo clarão se aproximando.
Lentamente. Pontiagudo.
O calor do sol será mais intenso.
Mais um dia se repetirá.
Nossas células não serão as mesmas.
Estamos perecendo a cada dia.
A cada por do sol.
As perguntas continuam desde sempre,
com a diferença que elas estão mais invasivas.
Mais sutis. A ostentação adquirida desvaneceu.
A veemência que tínhamos cessou.
O castelo diluiu-se.
A vida levou o que tanto construimos.
Caímos na negligência que criamos e
carregamos o peso das incertezas.
A prática dos abraços que não aconteceram.
O Sorriso nos momentos de tristezas não acontecidos.
A humildade nos momentos de altivez que não foram cedidos.
As palavras que tanto machucaram.
O perdão que ficou no esquecimento.
Foram tantas as faltas...
Porém, no 'agora', não há indulto.
Somente a dor da pena que só aumenta e
os pensamentos vivos que estraçalham o espírito.
Mas temos uma certeza que dilacera:
a de que ficaremos desprezados no esquecimento.
A isso, chamamos vida.
Lógico, numa outra perspectiva.
A do autêntico.
'ELA PRETÉRITO'
Perdeu. Ganhou. Poderia ser discreta, mas os amores passados deixaram-lhe cicatrizes. Olhando do fastígio, as perdas são claras. Mais ainda quando poderia tocar outras formas. Sentir outros sabores. Deveria seguir em frente. Construir outros sonhos. Levantar muralhas. Percorrer outras trilhas. Porém, reclusa está. Dominada pela paixões fúnebres. Presa na mais plena liberdade.
Seguir outros rumos deixa-lhe calafrios. Sonhar outras vidas, infeliz lhe deixará. Medonha nas escolhas deixadas de lado, prefere a palidez. Sabotadora de si. Atrofiada na desesperança.
Pensando em tudo isso há quem diga que é sofredora. Amargurada ou coisa assim. Os pré-conceitos arrepiam-lhe a espinha e o que tanto aterroriza, deixa-lhe forte a cada movimento. Estaria menos infeliz percorrendo paraísos ou seu inferno estaria mais escaldante? Não sabemos! Deixe-la com seus desafetos. Suas reflexões. Dona do seu destino.
'SOLIDÃO'
Nos momentos de solidão, sentimo-nos desertos, deveras um atleta que não consegue chegar ao objetivo essencial. Lembramo-nos do pouco que vivemos. Os pensamentos sempre voltam-se para os aprendizados passados. A experiência é o cerne. O medo de errarmos novamente, tira-nos o sono. Perguntas intrigantes fazem parte do cotidiano como uma criança interrogando ao progenitor o 'porque' de tudo.
A análise do que nos transformamos vem à tona feito um tiro de canhão que acerta o alvo por centenas de vezes. Chegamos a conclusão que somos a metamorfose do improvável. Somos o irreal que transformou-se no genuíno. Porque não excêntricos? Sentimo-nos mais prudentes. Estamos no ápice dos estágios de mutação. Uma borboleta com seus traços já definidos.
Percebemos e compreendemos que fazer parte desse 'aglomerado insólito' deixa-nos insanos. Vira-nos ao avesso todas às vezes quando a flecha da solidão acerta seu alvo. A cada piscar de olhos, os pensamentos ficam mais intensos. Sentimos o poder da mudança. Só não sabemos por onde começar. Traçamos o caminho a percorrer, só não conseguimos dar os primeiros passos.
Um dos piores fracassos é quando temos um caminho à frente, mas, por razões sucintas, não conseguimos trilhá-lo. Um dos atalhos é olharmos para o céu azul. Se não gostarmos do azul, podemos imaginá-lo amarelo, verde, marrom. Nossas escolhas dependem da intensidade com que vemos o mundo, como sentimo-lo e como saímos dele para o nosso exclusivamente particular e íntimo.
A solidão nos propicia essa 'saída', esse reencontro do 'eu' com a 'reflexão'. Solidão também é sinônimo de mudanças. Mistura de isolamento com aprendizado. Solidão é tão óbvio para os seres humanos que a maioria tentam burlá-lo. Tentam escondê-lo sem eficiência. Sendo inevitável para o amadurecimento que precisamos, a solidão é o amigo para as horas incertas e horas profundas de transformação.
AQUELA GAROTA
Um sentimento de angústia
A vida parecia não ter sentido
Era apenas "eu", o vazio e o silêncio
Quisera poder ter desaparecido
Foi uma ferida cruel
Como pude eu machucar aquela garota?
Logo ela que me olhava com ternura
Enquanto eu insistia na loucura
Na beira de um abismo
Sem saber o que fazer
Minha cabeça girava
Era morrer ou viver
O tempo passava
Eu continuava parada
Mas decidi mudar
Resolvi voltar
Voltei a infância
Resgatei aquela criança
Que me recebeu com um sorriso
E me levou ao paraíso
Eu amo aquela garota
Ela me levou a verdadeira loucura
A loucura de saber viver
Aquela garota sou Eu em 'Ser'.
[Sâmara Santana Câmara]
(19/12/2013)
'TARDE CALMA!'
Tarde calma, exceto pelos ventos abrasivos,
abrasivo meu coração, uniforme!
O bafo instiga o fogo,
deixa um rastro vivo: incandescência!
Fito-o por alguns segundos,
brasas recantos viajam, indefinidos!
Partículas se vão, casual,
sob o vento céu: desastroso!
Partes vão se apagando,
galhos verdes, supérfluos!
Gravetos perdem vida,
algum tempo: chama perfeita!
"BOM DIA ANJO AMIGO"
Se eu fosse a lua,
realizaria todos os teus sonhos.
Se eu fosse o sol,
no inverno aqueceria o teu coração.
Se eu fosse um caminho,
te levaria para uma viagem fantástica.
Mas como sou apenas aprendiz de Anjo
vou flechar tudo a tua volta,
setas de felicidade
para que te amem de verdade,
e sua vida se torne repleta de felicidade!
Um dia de muitas alegrias
para você pessoa linda!
BEIJOS CIDIÑA FELIZ
'EU QUERIA UM SENTIDO...'
Eu apenas queria,
e chegaste mudo,
forçado.
Fitando as madrugadas insônias,
cervical.
Extravasando improbidade,
sadismo.
Trazendo frio,
calafrio,
noites febris.
Carregando obstinação,
permanecendo há períodos.
Empantufado,
vai dilatando,
no peito não cabe.
E o ar rarefeito,
já falido,
desorienta,
sinuoso,
sem abrigo.
És opaco,
no turvo teatro,
solitário.
Senhor de brasões,
porém medicante,
com seus díssonos.
Poucos te condenam,
ou conhecem.
Mas sempre aparece,
desnudo,
com natureza particular.
Sem se expor a contento,
vai deixando rastro,
lamento.
Eu queria um sentido,
sentido ridículo.
Entre aspas simples,
para deixar evidente.
Inequívoco,
como as nuvens,
que se transformam no vento.
Que fosse escasso,
nada retórico.
Pode vir sem aspas,
para deixar confuso,
mais intruso,
menos cênico.
Que me abraçasse,
aconchegante,
desesperado.
'EU FELICIDADE?'
Calor intenso,
puxada [...], telha baixa.
Criatura não conhece:
- Que sujidade!
Assembleia diária,
papos em dia:
cornagem, piadas, cachaças, religião, pescarias.
A roda é veemente,
ela sempre acontece, à tardinha,
quando se começa a ver a poeira da rua,
[feia e esquecida] abarrotando o cabelo.
Parcialmente esquecido,
o bairro todos admiram.
Ar de tranquilidade,
costume de 'sítio', todos se abraçam:
Vagabundos, padres, alcoólatras, senhoras, prostitutas!.
A vida congela,
o olhar fala[...], o mundo fala:
- Estou tracejado em dissabores!
Experiências peculiares,
vida empurrada no ombro.
Como anda a vida,
como a vida anda?
- Bem, graças a Deus, se melhorar estraga!
Fala-se de felicidade,
muitos acenam, apreciam a vida como ela é:
Orações,
fé.
Vida difícil!
Pitada de euforia.
Arco-íris nas nuvens,
temporais, chuvas.
A releitura é diária,
abraçar o primordial é primordial.
Facetas?
Nada tira o ar [felicidade],
mesmo que aparente.
Importante é levar a vida,
[atemporal].
Diagnosticada, risadas.
Aperto de mãos,
devorar o improvável.
E a vida,
ficando mais vida, a cada rodada.
'RETRATOS'
Olhares fixados na Nebulosa que dá vida. Sorrisos obscuros, talvez verdadeiros. Abraços gigantes, protetores, outros singelos. Mãos escorregadias. A meia órbita exige uma corrente que comove uma nova linguagem. A fóton miragem é sempre imitante. Assim como os vasos ornamentais, o melhor alvo tem que ser lapidado, trabalhado com as mãos. Refeito às suas indisposições.
O passado congelado. Vivificado com suas folhas sob o chão de lama. A trilha encontra-se letárgica, atônica. E os pássaros voando sob o céu fatigado? A lagoa onde reavivávamos a vida ainda resiste? Nessa outra, o violão fala diversas possibilidades: harmonias, melodias, melopeias. A 'nova criatura' reflete o nobre, o profano, a vida, a morte.
Capturando estrelas, profundezas. Em cavernas colecionando meteoros. Andando descalços. Desnudo. Confuso. Sorrindo. Algumas dizem adeus, esclerosadas com o acético do tempo. Exteriormente cabulosos, mas na alma, uma infinidade bucólica, sementes, lembranças.
Não queremos perspectivas, esboços, formas livres, abstrações ou tampouco efeitos caóticos. Queremos paraíso, Ícaro. Desvenda-nos a cada olhar turvo. Faz-nos ausente, presente, poeta, singular.
'REENCONTRO'
Serei neurastênico ao vê-la. Esguichar-me-ei pelas ventanas como um louco paralisado pelos terremotos vivos. O relógio amordaçado falará aos quatros ventos enquanto ficarei na calçada ambígua.
Afundarei silente, ruidoso tal qual um quarto escuro, exceto pelo cintilar das insônias. Descobrirei textos frágeis e não sonharei palavras. Saudarei raios, trovões, penúria, chuva, sete mares.
A luz que nascera na maternidade se tornará rupestre, corpo celeste e o escalar das montanhas será avesso. O elo, com sofreguidão, irá distanciar-se do intermitente alvo. Dizer 'adeus' sempre foi atrito, dilema. Não mais que um bocejar: desconforto!
Sem memória
Dedico a alma do ontem sem memória do acaso Estou junto com a saudade Longe do perfume que exala meu coração Quero poder estar com o toque suave da canção da poesia Meu coração anseia por ti a espera do momento em memória Trago comigo o gosto da manhã Sinto o cheiro suave de hortelã
* * *
Vem a aurora Vem a saudade Vem a dor aguda na mente sem consciência Não vou pensar Não vou sofrer, abro os braços em direção a vida Sento e espero a resposta, vejo o sangue correr sem pressa e sinto minha alma Levitar em meditação ao cosmo. Com vibração ao infinito anseio a espera da luz
Soneto da Saudade
Trago nos olhos...
Lágrimas de saudade.
Sentimentos doces e velhos.
Guardados ao longo da minha idade.
Até me fiz poeta.
Para lembrá-lo em versos.
E regar esse soneto é minha meta.
Com pingos ungidos do universo.
Ah, saudade intensa.
Vá de mim...evapora, por clemencia.
Não vê que estou sem meu porto seguro?
Deixa-me abrir os olhos com ternura.
Seca minhas lágrimas dessa amargura.
Dessa saudade, sentimento duro.
Som do abalo
O som harmonioso me contamina
um som que foi amado por gerações e se apagou
um som onde existiu nas rádios e agora não existe mais
um som onde ficou nas mentes, e nos corações
foi um som variante que transformou gerações
mutações sofreu variando a cada década
do puro ao misturado abalando gerações
uma sinfonia a qual histórias mudou
seja da fantasia até mesmo a realidade triunfou
deu esperanças a aqueles que precisam
mudou pensamentos e atitudes
um abalo sísmico universal
uma força estranha que mudou gerações
um som que pega, e não se desgruda mais
um som harmonioso até seu fim que nunca chegará
O som e ninguém mais
abalando gerações.
Geração y2.0
Uma nova era está prestes a surgir,
Mas não vamos dizer era,
Mas sim fase!
Uma nova fase onde está a amizade,
A época de glória está chegando,
Pare e pense se for possível reflita,
Nossa alma está prestes a se elevar,
Nossas vidas vão ser ligadas uma a uma,
A válvula de escape voltou à ativa,
A fúria terminou, agora só existe ternura,
A falta para muitos dela já foi preenchida,
Ela é como a roda de samsara,
Sempre retorna forte e renovada,
O que era horripilante, agora é engraçado,
A morte só uma partida para um novo estado.
Agora!
Vamos nos juntar,
Vamos girar e cantar,
Ele entrou e fará o coro agora,
Sim, vamos lá!
'CASAMENTO'
Era magro como os arbustos secos.
Olhos turvos.
Sorriso deformado no caule.
Pele escura queimada ao sol.
Desprezível na altura.
Camisa de botões aberta acima até embaixo,
surrada.
Na parte de baixo,
vestira algo como um bermudão maior do que lhe coubera,
amarrado com uns cipós enfraquecidos.
Facão enferrujado,
andar distorcido...
Morava nas matas,
sentia-se dono.
Receoso de diálogos.
Mãos calejadas e aspecto casando.
José plantava moisaicos,
cozia na lenha molhada.
Asfixiava peixes com as mãos.
Engolia banho de rios.
Pouco insinuava na terra seca que morava.
Colhia o que lhe davam,
tinha poucos afetos...
Intacto na linha do tempo,
José não tera casamentos,
conjugou-se com as quimeras,
chapéus de palhas.
Vivera a vida acaçapado,
perdidos entre matas.
Cantando entre pássaros,
criando melodias de uma 'vista perdida'.
Lá no fundo,
não afirma ser feliz ou se a vida é um tédio.
Sabe-se que tem nome forte,
e uma ostentação no respiro,
nada cotidiano visto por fora...
'ESTRANGULA-TE'
Molha teus pés nas praias desertas.
Elas te esperam medonhas,
curvando calor,
chuva,
vazão.
Pede morada nas pequenas cabanas,
enche-as de relíquias,
adormece.
Estrangula-te enquanto há tempo....
Cobri-te de vaga-lumes,
corre de encontro aos rebentos,
paredes de afagos.
Submerge a cabeça nas águas passageiras.
Suspira-as.
Engole o que te inflama olhando teu reflexo extraordinário,
repentino...
Donde vai tão mesquinho?
Sufoca-te e vê as neblinas até onde te sustentam.
Devora as flores que te contornam sentindo os contratempos nas hemácias!.
Celebra a vida com jeito de criança e a credulidade de quem dorme,
rescendendo montanhas,
terras molhadas...
'MADRUGADA FRIA'
A vontade era ser livre,
prosseguir com paladares,
coisas estranhas.
Livretos.
Histórias...
Advento,
a madrugada trouxe brusca trajetória,
destruíra pontes.
Não vira mais o rio que respira,
tudo outrora...
Esvaiu-se o tempo para compilar resumos,
resenhas.
Ficara tudo a fazer,
construir,
planejar...
Dilúvio!
Porquê permanece frio adentrando embaraços?
Sem avisar!
Meu sorriso esparramar!
As poucas horas findar!
Crivou-me às entranhas.
Plantou espaços,
saudades.
Abraçou-me e recusei.
Contou-me a última história e não tive interesse...
Aprisionou-me cativo.
No final a escurecer,
sem trilhos/avisos.
Tantas folhas perecer,
não haverá outra estação?
Saí de mim causadora leveza!
Leva teus faróis degradantes que planejou-me às escuras,
sem brilhos,
saídas.
Despir-me aquém essa misura?
Olhares no cômodo quadrângulo me despem,
mui reflexivos que eu.
Aguçados no coma que persegue.
Tristonhos,
silentes...
Aflições ou outros dilemas,
a ferida sempre finda.
Mera calada!
Pobre nos temas.
Geralmente na arquitetura não desejada...
Chegara o ápice dos velhos minutos,
já respiro águas brandas ,
metais desconhecidos.
Serei divindade em outras chegadas?
Mendigo?
Liberto estou das amarras,
o espírito não abandonei!
Eis o maior sarcasmo da vida:
trilhar novos caminhos/novos rumos,
não sei!!!
+++
Homenagem a mais um 'grande amigo'...
Que se foi (Jack)...
‘ÁLCOOL’
Às cegas, a cozinha definha.
Sozinho, a madrugada consome.
O gosto de vodca tem fome.
Paredes anunciam rotinas.
No estômago, a água declina.
Desequilíbrio a cabeça tortura.
Na vida, tudo amargura.
Vulneráveis pernas toxinas.
Metafísica a cadeira suporta.
Reflexos viajam no fardo.
Não atendera vozes de portas,
Ou sentimentos desesperados.
O vazio fingiu-se, desbota.
O álcool ficara calado!
'INIMAGINÁVEL'
Escrevo o inimaginável como quem compõe esboços na areia,
solto nos grãos,
livre de quedas,
Amparo-me às tantas luzes que se sacrificam,
homogêneas e dispersas,
luas lêvedas.
Imagino o mar acuando montanhas,
abatendo e aliviando correntezas.
Aconchego de calmas,
libertando prisões,
ventanias!
Assim crio,
sem tantas alegorias ou parâmetros,
figurado,
mortal...
Sucinto o inimaginável que peçonha o peito,
e rói uma habitude sempre infinda.
Posso ser íntimo,
campestre.
Rei,
miserável.
Os cárceres perguntam algo totalmente desfigurado,
invital.
Sou inimaginável,
mas cultivo existência.
Apascentando os supetões dos grande e pequenos alpendres,
avanço calmaria,
sem ode,
ou tesouro algum...
'SEI LÁ![2]'
Quero-te sei lá!
Convencional.
Inverídico.
Amar-te-ei como o mar?
Quero-te silenciosamente,
embaralhar...
Partículas no ar.
Sei lá!
Deletar meu coração.
Abrir corpos,
tencionar.
Insinuar outro mar...
Quero ausência cingir!
Titubear,
não só teu olhar.
Maquino detalhes,
litorais...
Sei lá!