Poemas de Ternura
'CONTINGÊNCIA'
Apreciamos ventos,
Mudanças.
A veemência dos mares,
Raízes,
Esperanças.
O brotar da vida,
Gritos,
Reciprocidades.
O trovoar dos pássaros,
Melopeias,
Possibilidades...
Seguramos estrelas,
Estrelas do Mar,
Quebrando sombras,
Correntezas.
Canções no ar,
Arremessando ilhas,
Pedras vulcânicas,
Mordaz.
Belas canções,
Sutis,
Temporais...
Admiramos sonhos,
Dor diluída!
Coração filete,
Amordaçado,
Papéis em tiras!
Delidos,
Torcemos o presente,
Loucuras,
Criança no asfalto,
Aqui dentro...
Alaridos de ruas!
'AUSÊNCIA'
No terreiro: palmeiras sem ventos, galhos amarelos. Plantas sem
águas, folhas sem elos. Muro caído e o cachorro, fiel e amigo,
resiste na escuridão. Há um letreiro de nuvens discursando a
falta de chuvas ...
Na cozinha, há muito a cadeira está vazia, análogo, o armário
triste lamenta tuas mãos. Uma artilharia de traças ainda
corrói o velho violão solitário, acorrentado, soando inexistência, inutilidade de cheiros ...
No quarto, a cama solitária insiste no silêncio que congela. As dobradiças, as dobradiças resignadas estão emudecidas. As luzes pediram descanso, falta biografia, estão empoeiradas, sem vida, morosas no remanso, mero utensílio, pairando insuficiência, ausência ...
'TALVEZ LINA'
Tento desnudar, a cada promessa não dita, os teus segredos mais profundos. Sem perceber, na serenidade das noites, ousei invadi teus sonhos para que eles se tornassem reais e os seus olhos Sirius: sumptuosos e sedutores! Porquê não traguei barreiras? Não sei! Talvez a flecha da paixão não estivesse pontiaguda. Talvez a força do meu olhar estivesse sem...
Viajo nuvens de anseios, abraços nos dias de calor, romaria além dos horizontes. Vejo-te segredos, clave harmônica, essência das minhas loucuras. Sinto fome de você, tradução da minha essência. Jeito menina. Tão pequenina e violentamente graciosa...
Devorar-te-ei nas minhas ficções diárias. Desde então, as noites são fantasmas. Fecho o mundo criado! Esbarro decididamente covarde. Estiveste tão perto e num sopro, distanciou-se. Deixou ausência, carência, mancha inspiração, bolha sabão...
'ESCURECER'
Açoite.
Pernoite.
O céu estufado.
Corre José!
Vislumbra a escuridão,
Violenta e cortês,
Exausta o coração.
Berra!
Vocifera!
Adormece as crianças,
Na cama doente.
Sem castiçal,
Anjos devoram,
O sonho mortal.
Suplica demônios.
Aluvia as igrejas.
Desaponta o acaso,
Há tempo na vida!
Peregrina...
Corre José!
Foge morfina!
A cada escurecer,
O coração grita vida:
Vem! Vem! Vem!
Aqui! Galgas o peito.
'PONTO PARÁGRAFO'
O amor perde-se no vento e
as vicissitudes da alma afaga o coração.
A releitura da arte que criamos
vai desmaterializando às minguas até o ponto fulminante.
Identidade sem labirinto.
Período de sobejos,
sem beijos.
E as novas formas abrem uma cortina
dilacerada em preto e branco.
Época dos grandes sismos em
que gigantes descobertas chegam de rotina,
afunilando a luxúria,
a soberba, a arrogância.
Tempestades gritam ao ouvido
verdades rejeitadas.
A apreensão silencia a voz.
As noites ficam inquietas
falando dos desejos já amaldiçoados.
É a nova 'lei dos contrários' que chega de supetão,
águia sem visão,
indagando-nos dos zigue-zagues traçados.
Tudo passageiro!
O grande livro tornar-se inautêntico
com suas páginas rabiscadas.
E o tremor das mãos que não para,
interrompe as novas páginas que estão no porvir.
E o 'tudo' totaliza-se no utópico
com seus amores e injúrias, poemas mórbidos,
fragrâncias esquecidas: penúrias!
'HODIERNO'
- Perdeu o ofício?
- Sim. Mas tenho novos voos,
Nos ventos: pulmões!
Visito rochedos.
Pra quê receios,
Da vida,
Do freio?
Subo em árvores.
Névoas de crônicas.
Tombo montanhas.
Fobias transformadas.
Perito em bater asas
Quebro horizontes
Céu Transmutei em pousadas.
Agora quadrilátero
Saúdo trovões
Amorteci os medos
Transmito, agora sim,
Meu louco grito
Alma imensurável
Sons ambíguos...
'INACABADO'
O amor passou.
Vertiginoso.
Modesto nas suas facetas.
Com ele,
Fomos juntos.
Escalamos montanhas.
Desafiamos o poder da admiração.
Olhamos nos olhos,
Recitamos palavras expressivas.
As lembranças
Que [ele] nos esculpiu,
Perpetuam um passado presente.
Falou tanto e,
Como um raio,
Partiu sem direção.
Construiu o impossível
E disse adeus,
Deixando nossas almas inacabadas,
Soltas aos ventos...
'NASCER'
Chegamos tão frágeis e a alma tão pequenina. Surgimos vibrando no trapézio. É a velha vida que brota do espanto e vem aos poucos, despercebido, nos cantos/melodias...
Não se demora e o 'tempo' torna-se declinante, com seus batimentos cansados impedindo o contemplar das imagens que criamos. Almejamos obstinados os dias que sugamos, imperceptíveis, se espairecem nas varandas, estafados, avistando paisagens íngremes, com seus ciclos e fim definidos...
Para onde foram os sonhos/invenções? Asfixiados, estão vagando nos túmulos. Expirando-se no tempo que resta. Poema desbotado, patéticos na gaveta adormecida. E os círculos sem impressões ofuscam o azul dos horizontes. O azul que sonhara-se de início, nas montanhas, sentado sob o luar maravilhoso, estarrecedor...
Novos nascimentos quebram o silêncio inesperado. Relatando-nos que ainda resta esperança no choro. No afago materno. Na alegria que inflama a alma quando da primeira respiração. Quando abraçamos o mundo minúsculo e tão vasto. Quando apertamos as primeiras mãos e dizemos: estou 'pronto' para exalar a vida que dar sonhos e para os sentimentos que encapsulam os dias no frio...
Se o ser humano tivesse a inocência de uma criança, saberia o que realmente é ser feliz...
...Ser feliz é ter um olhar de ternura,
...Ser feliz é ter um sorriso sincero,
... Ser feliz é ter o aconchego de um abraço,
... Ser feliz é amar sem receber nada em troca.
Ser feliz...
É fácil amar quem te ama.
Quero ver amar quem te odeia, quem te despreza.
Ser feliz é ser como uma criança e contagiar todos, até os corações mais endurecidos.
Poucos sabem o que é amar.
E o olhar cheio de ternura, de uma criança transmite esse amor.
'EU AMO ITA'
Eu amo 'Ita'
Calor intenso
Calor pegajoso
Calor que orbita
Inclinada nas praias
Fazendo castelos
Mirando horizontes
Suspiros singelos
Eu amo 'Ita'
Incógnita nos ares
Incógnita nos cheiros
Incógnita 'Levita'
Reclinando travessias
Ascendendo paralelos
Bafo de nuvens
Resvalando no belo
Eu amo 'Ita'
Cidade de 'Pedras'
Cidade 'Fumaça'
Cidade 'Pepita'
Sonhada nas praças
Já foste bonita
Minando progressos
Poetizando as escritas
'FACETAS'
Verdades sobrepujadas e as milhares de faces pairando nas noites sem Luar,
Poesia retangular,
Quadrática.
Maquilagens nos 'sofás disfarçados'.
Quadros 'seminus' nas 'salas mascaradas'.
Vitalidade invejável,
Por trás das sombras:
Tudo impecável/relevâncias...
Na capa dos diários,
Frases de um violino apontando corpos celestes,
Mas o teor dos poréns,
Sucumbiram-se nos vácuos/matérias.
Escorregadia nas mãos sem melodias.
São as Montanhas,
Geradoras Vãs de alegrias,
Gladiando e hostilizando o 'eu',
Criando estigmas,
Ar rarefeito,
Apagando as estrelas...
Portas cilíndricas,
Quebradas,
Se perdem por trás das cortinas,
Estilhaçando as facetas em construções.
Clarão e sons emblemáticos corrompem as mesclas inexpressivas dos olhos.
A assimetria da vida pede novas jornadas,
Seguindo resiliências insípidas,
Abraços.
E os dias brilhantes/patéticos transmudam-se em dormências,
Sem figuras titãs,
Espaços...
Do Amor
Lembro de cada pinta em sua pele
E de cada particularidade do seu corpo.
Absorto me recordo de cada beijo seu
De cada instante que me pertenceu.
Todo dia cedo, eu peço para Deus
Para ele dar-te um amor maior que o meu
E se não for pedir demasiadamente
Que o seu amado em definitivo seja eu.
Seu jeito de apenas observar a vida
E de se tocar intensivamente e com carinho
Me faz subir desejos e calafrios pelo corpo
Me enterneço todo com o seu amor por animais.
Sua beleza me faz a deixar sem graça
Quando como uma obra de arte, a venero.
Meus abraços escandalosos a deixam zonza
E nossos beijos demorados quase arrancam a pinta que tens na boca.
Você me rouba o sono e a vida quando estamos separados
E me devolve a vitalidade e a paz quando estamos juntos
Sofro em abstinência quando está distante
E sou o ser mais completo e feliz quando está presente.
'TROPEÇOS'
Tropeçamos nas indecisões/decisões. Cores sem tintas. Abstrações. Painéis lúgubres. Quadro sinuoso, sem repouso. Metáforas em pincéis. Colinas...
Tropeçamos nas sombras do último vagão. Nas dores que tornaram-se horrores. Fumaça embaçando a visão. Peito fatigado sem proteção, morada. Fatalidades abertas, enferrujadas...
Tropeçamos nos rios estrangulando faróis. Maresias sem beira-mar, paraísos. Na práxis do tempo. Textos vazios. Chuvas ácidas, atormentando sangrias veladas....
Tropeçamos para nos tornarmos gigantes. Conquistadores do mundo glacial, abrasador e determinista. Para contemplarmos as estrelas soltas no infinito, com suas luzes intactas que nos enchem de sentimentos, acendendo os faróis desprovidos. Subjeção de estarmos vivos, abraçando o tempo remanescente, vindouro, incisivo...
'DISJUNÇÃO'
Carrego teus olhos nos meus,
Perdidos em sombras disfarçadas.
Participo das tuas noites perdidas,
Ludibriada em paixões lufadas...
Abraço-te não mais como a flor que imaginei,
A essência do perfume não mais existe.
Sonhos de outrora encarcerou-se,
Gracejos ficaram tristes...
'Direções' serão outras,
Não há culpados quando a dor é ausente.
Andar-nos-emos outros destinos,
Discorrendo-nos do presente...
Envolto nas pedras que seremos,
Nas almas acorrentadas em fragrâncias.
Seremos como velhos artigos:
'O aMoR oCuLtO eM lEmBrAnÇaS.'
'EU'
Ando descalço no mundo genuíno.
Não porque o abracei,
As terras temporárias são forasteiras.
No meu amplexo já cansado,
Diluo a espera.
No branco sem destino,
Na latência de sentimentos,
A fluorescência ofusca-me,
Assombra-me.
Sou migalhas de um pobre na dor que não cura...
Invento psicanálises nos dias perturbadores.
Adentro o espírito infértil vaga fortuito,
Probabilidades casuais,
Sedento de anseios como as infinitas variáveis no espaço,
Sem cabanas.
Sou inesperado,
Duvidoso,
Eventual tal qual os olhares distantes que se abraçam demorado...
As sátiras deixaram-me,
Corro feito louco,
Sem domicilio.
Abraço o improvável como se abraça os mares.
Os tantos mares que moram em mim,
Chegando tempestuosos,
De súbitos,
Embaçando a ficção aflorada.
Na incerteza,
Crio outros mundos,
Terras ditantes,
Aconchegantes para aliviar as dores.
As dores que outrora,
Tornaram-me identidade,
Sem essência,
Ou analogias...
'VASO'
Ruidoso, feito com as mãos,
Industrializado.
Sou natureza.
Ferro.
Do homem estraçalhado.
Cheiro/argila, cerâmica, madeira, polietileno, resina, palha, sintético.
Castiço...
Quando bem trabalhado, sou admirado, beleza, suspiros.
Decoro, adorno, alinho, ornamento, aformoseio.
Enfeito o imperfeito.
Sitio povoados, vidros temperados...
Sou dos cantos.
Dos lados.
Artificial.
Nas paredes pendurados...
Sou do arcaico, do homem abstrato, sarcástico, quadrado, redondo.
Aromo onde passo.
Encanto com minhas formas diferenciadas.
Tenho sabor tateado.
Expressão do humano: transparente, engraçado, pintado em infinitas cores.
Cristalizado ou inexpressivo.
Sem desígnios ou escritos, serei intuito,
Vaso qUeBrAdO...
Havia um tempo...
Chovia.
A chuva convidava: só para vê-la a gente saía.
Quanto mais chovia, mais a gente se queria.
Houve um tempo em que chover era nossa mais pura poesia...
'PRECISAMOS DE UM AMOR'
Que venha com a neblina
Que venha sem perguntar
Que venha sem cortinas
Que venha equalizar
Do tamanho do pulsar
Do tamanho do mundo
Do tamanho peculiar
Do tamanho profundo
Que transforme vida
Que transforme solidão
Que transforme avenidas
Que transforme coração
Que deixe o 'eu' empirista
Que deixe o 'eu' jesuítico
Que deixe o 'eu' futurista
Que deixe o 'eu' místico
Que tenha degraus
Que tenha lucidez
Que tenha litoral
Que tenha solidez
Para colar na emoção
Para colar na geladeira
Para colar nas mãos
Para colar na lareira
'EU AINDA ACREDITO'
No abraço que deixa o sorriso quebrado estilhaçar a alma em amplitude. Quando os olhares implicam sinceridade, e o que basta está acima das desigualdades, cor, raças...
Quando o amor se aproxima e cruza as barreiras do amor dissipado, dos contos e desencontros encarcerados. Nos trépidos prisioneiros, opressivos que não cedem em prol, mas que veem o sol, uma estrela...
Nas amizades que brilham imitando o cantar obcecado dos pássaros, cajados pelo cantar inexpressivo, mas íntegros e blindados, sem hipocrisias. No peito ardente, manando lisura, corrente, serenidade plena e pacífica, distraído na esperança que passa...
'Suga-me como um livro de romance e re/façamo-los diariamente a última página. Até que o 'sempre' permaneça, rodopiando duas vidas em uma.'
[Fgmts Poema 'PROCURA']