Poemas de Rosa
para Rafael Dietrich
Acordei meio nostálgico
Estava tentando disfarçar
E enganar a mim mesmo
Mas com uma sede aqui dentro
De que tudo passasse além e aquém do tempo
ANO NOVO
Lá vem ele!
Como jovem que é, vem chegando descontraído, contagiado pela alquimia dos sonhos, alimento imprescindível para nutrir a esperança de cada dia.
Vem repleto de novidades, abrindo um leque de infinitas possibilidades, de novas experiências, de viagens mirabolantes.
Ele vem no seu melhor estilo. Com leveza, reverencia o Velho Ano e perfuma os nossos ambientes internos antes de chegar, para que sejam inesquecíveis todos os dias do ano deixado para trás.
Ele dá o aviso: hora de se desapegar, hora de seguir em frente, hora de se renovar. Não importa quanta tristeza você teve, se pessoas amadas e queridas desceram do trem da vida, se alegrias e conquistas foram emoções que nos tiraram do chão.
É hora de embrulhar tudo isso e se libertar cada situação. As dores deverão ser embrulhadas no pacote do perdão geral e irrestrito. No pacote do perdão a nós mesmos.
O Ano Novo é um mágico cheio de gás e energia. Uma caixinha cheia de surpresa que fará a vida seguir em momentos novos e inesperados.
O lance, então, é abrir nossos corações e mente para receber e hospedar com alegria, gratidão, entusiasmo, compreensão e paixão esse jovem que nos chega com tanta energia e vitalidade.
Mas será sempre inevitável a dor, no exercício do amor.
O rigor da sensibilidade e a magia poética,
naturalmente, criam mistérios que ora, provocam alegrias incontidas ora, incandescentes infernos.
SANTIFICADO SEJA
Santificado seja o dia, em que o brado é poesia.
Santificado seja o tempo, em que o acalento é vento.
Santificada seja a hora, quando a tristeza vai embora.
Santificado seja o minuto, quando o amor é o tributo.
Santificado seja o segundo, quando o choro tem razão.
Santificada seja a dor, quando se desfalece por amor.
Santificada seja a ilusão, quando se mora na paixão.
Santificado seja o medo, quando se desconhece o segredo.
Santificado seja o abraço, quando sela um grande laço. Santificados sejam todos os beijos, que trocam os namorados.
Santificadas sejam as alegrias, quando se cicatrizam todas as feridas.
Santificados sejamos todos nós, que não estamos sós, porque temos a vida.
M U L H E R E S
PARAFRASEANDO ADRIANA CALCANHOTO
Mulheres são bonitas
Mulheres são bacanas
Mulheres são charmosas
Mulheres são guerreiras
Mulheres são modenas
Mulheres são espertas
Mulheres são direitas
Mulheres NÃO GOSTAM
DE DIAS NUBLADOS
Mulheres nascem bambas
Mulheres nascem craques
Mulheres fazem charme
Mulheres são alegres
Mulheres são atentas
Mulheres são tão sexys
Mulheres são tão bravas
Mulheres abrem todos os sinais fechados.
PEDAÇOS DO MEU EU
Sob meus pés o chão e um rumo certo.
Na minha cabeça, pensamentos em profusão.
Na minha garganta, a voz que se cala.
No meu coração, um pássaro sem ninho
No meus sentimentos, “o avesso do avesso”.
No meu momento, a felicidade sem tempo.
Nos meus braços, um balaio de abraços.
Na minha boca, um sorriso e um carinho.
Na minha alma, marcas da saudade.
No meu desejo, a paz do equilíbrio.
Nas minhas mãos, as luzes do infinito.
BRINCANDO COM CLARA
Clara tá na cozinha.
Clara - não gema
Clara tá na piscina.
Clara - bóia.
Clara fala mentira.
*Clara - mente
Clara tá na aula de matemática.
Clara - metade.
Clara acende a luz.
Clara - idade.
Clara advinha coisas.
Clara - evidência.
Clara está rezando.
SANTA CLARA!
Podemos dar um soco na cara do outro, podemos dizer mentiras sobre o outro.
Pois nada fará tanto sentido, nada será mais forte do que a saudade que eu tenho de quando estávamos aqui. De quando brigávamos e depois se entendíamos.
A vida é assim, enquanto o dinheiro compra até o amor, pessoas estão se matando pela mesma dor: saudade.
Se eu escreve-se sobre a história da minha vida, desde o primeiro dia que nasci, desde o primeiro dia que sorri e chorei. Seria um dos meus erros mais complexos.
Porem o final seria feliz e triste. Não podemos mudar algo que fizemos no passado, más podemos fazer disso um futuro melhor.
Não me arrependo de nada, sabe foi cada erro que me mostrou o correto a se fazer.
Pode até julgar o meu passado de quatro anos atrás, más o agora quem pode julgar é somente eu!
Adoro a minha vida, como vivo e como ajo em relação á você.
Eu não dizia que o tempo o tinha roubado de mim, era só más um pretexto pra te trazer de volta, nem que seja por um único minuto.
Os dias sem você não me fizeram parar. Me deram sim um grande motivo de seguir em frente.
E, amanhã não sei se vou estar aqui, más que hoje sou muito feliz não nego. Até porque tenho pessoas que me dão motivos pra viver. E quando chegar o dia de mim ir, eu saberei que alguém aqui lembrará de mim, o alguém que passei os dias mais lindos da minha vida.
ALMA DE MENINA
Não me nego a envelhecer. Mas confesso, tenho uma alma menina.
Menina que por vezes chora de cansaço e de tristeza sem saber o porquê. Menina que também precisa de colo. Menina que suspira e ri de si própria. Essa menina erra, acerta, se joga em furadas, se machuca, se dá bem, tem dúvidas, tem certezas, tem expectativas, fica surpresa, fica com cara de boba, fica feliz. Ela tem sempre novos planos, novas metas, novos começos e se diverte muito com qualquer bobagem. Nem de longe questiona a preguiça e o desligamento de outras meninas e meninos. Ela compreende perfeitamente a indolência, o som alto nos ouvidos, a bagunça do quarto, os tênis no meio da sala de estar, o amo e odeio no mesmo patamar, e aquele susto de “a prova é hoje?”. Não nego de que essa menina é uma privilegiada. Ela mora dentro de uma mulher vivida e é, cuidadosamente, vigiada dia e noite. Uma mulher que lhe diz menoooossss, maiiisssss, devagar, depressa, pé no chão, coragem, em frente, vale a pena, hora de parar. Essa mulher de ouvidos atentos para ouvir também outros corações, tem olhos para captar o brilho de outros olhos, lágrimas sufocadas, medos escondidos de outras meninas e meninos ainda meninos. Não lhe falta colo, palavras, carinho, respeito e até puxão de orelhas. E por isso, ganha abraços, beijos, risos, afeto grátis que, sem cerimônia, acordam a sua menina. Aquela que sonha como as meninas e os meninos de verdade.
SEJA O QUE DEUS QUISER
Faz frio. O frio me aquece as palavras. Arrepia saudade. Doem vontades. Baixa a névoa das lembranças. De branco e cinza pinta meu coração. Congela o tempo. Umedece sentimentos Bate do lado de fora e de dentro de mim. Não vejo o horizonte e minhas asas estão molhadas, mas levanto vôo mesmo assim em busca de sol. E nesse vôo cego, rego os meus sonhos, rego o meu dia. O meu céu não é um lugar qualquer. Mesmo quando não tem sol, tem perfume no ar. Perfume que faço questão de carregar. Voar é supersônico. Tem vantagens. Não é preciso contar passos, nem as horas do momento. Muito menos de saber aonde vai se chegar. Não importa mesmo onde o vôo vai dar. Por isso, seja o que Deus quiser, o tempo frio abre as portas da gaiola da realidade para os vôos. Sem medo, abro minhas asas e me concedo total e irrestrita liberdade. Não me questiono. Apenas vôo.
Esse tal de tempo. Ai...ai!
O tempo atravessa a janela. Debanda atarantado pelos dias, pelos corpos, pelas ruas. Marca horas Desenha rugas. Pinta pintas pelos corpos. Corre nos pés que vão e voltam. Marca passos. Marca caminhos. Vira esquinas. Vira páginas E não olha para trás, jamais. Vai que nem enxurrada jogando tudo pra frente. Não quer nem saber se dá alegria, tristeza, saudade, beleza. Se você sorriu, tudo bem. Se você chorou também. Se faz silêncio ou barulho problema seu. Congelá-lo ou não na lembrança cabe a mim, a você, a cada um de nós. Para ele, estamos nele. Para nós, nem sempre. Azar o meu, azar o seu, se não o notamos ou damos conta de sua presença. Cavalgamos sobre ele à mercê de sua direção. Sabe aquela coisa de dê tempo ao tempo. Pois ele num tá nem aí. Ele sabe de sua inexistência. Que fomos nós que o inventamos. Porque inventar moda e dar nome as coisas é com a gente mesmo. E vamos nós! Ele num trilho próprio. E nós, dependendo do sacolejo, descarrilando, mas indo em frente empurrados por ele, até o dia de misturarmos a ele e sermos nomes ou números, que nem as palavras escritas em um livro de história. No nosso caso, contando a história de um tempo num outro tempo.
Gritos da alma
Despenca
no eco
fortes e confusas
sensações.
No jogo da vida,
sentimentos
num baralho
de cartas
sem naipes
Sons viciosos
de sonhos confusos
nos becos obscuros
das emoções.
Abalos de medo
Tsunamis no coração
Caminhos e vales
Raios e trovões
Calos da vida
Vida em ebulição
VAMOS NOS FALANDO
vamos nos falando
enquanto tivermos voz;
quando não tivermos mais,
vamos nos escrevendo
enquanto tivermos ideias;
quando não tivermos mais,
vamos nos mandando sinais
enquanto tivermos movimentos;
quando não tivermos mais,
vamos nos lembrando de nós
enquanto tivermos memória;
quando não tivermos mais,
quem sabe voltemos a nos falar.
CORAGEM! VÁ!
Se deseja caminhar sozinho, vá.
Nada e ninguém poderá lhe impedir.
A vida é sua e a estrada é democrática.
Todos podem andar por ela livremente.
O rumo é o seu desejo.
O vento que varre a estrada irá sempre refrescar o calor da sua busca.
Vá, mas leve um agasalho. Pode esfriar e você precisará dele para enganar o frio.
Leve também um guarda-chuva. Pode chover forte e você corre o risco de pegar uma pneumonia.
Mas, vá.
Não tenha medo. Não desanime.
Quando a noite chegar, deixe-se banhar pelo brilho das estrelas. Elas irão iluminar os seus sonhos e nortear o seu caminho.
Em dias de sol, aproveite para absorver o seu calor, armazenando-o para a realização de fecundas experiências.
As tormentas virão muitas vezes e mudarão a sua direção, mas vá.
A sua inquietação lhe move para a sua própria transformação.
Olhos e ouvidos atentos para as oportunidades no que busca, elas poderão estar do seu lado.
Seja o paladino de sua própria vontade.
Seja o comandante do navio de sua vida.
Se errar o caminho, comece de novo, e de novo, e de novo, quantas vezes forem necessárias;
MAS VÁ.
OVERSAUDADE
Surta-me o peso do overhemisfério de minhas oversaudades. Perco senso. Perco medida. Perco rumo. Descumpro promessas. Me desaprumo. Todos os meus becos ficam sem saída. Caminho perdida. A estrada é só de ida. Distâncias engolem minha voz. Saudade sangra avulsa e sagrada abençoando um overvazio de uma overausência, em mim, tão doída.
A VIDA EM DOBRADURAS
1.
Embrulho em papel miúdo
o que perdura:
lembranças plurais
momentos únicos.
2.
O sol me sustenta
mastigo as horas do dia
a noite me engole
em pensamentos.
Escrevo poesia.
3.
Moras em minhas rasuras
sem vestes
sem censura
o gosto de sua língua
já não é mais vontade
é fissura
4.
Do meu outro lado meu
calado
meu pecado
5.
Em meus pés
a bola
e o chute
pra fora!
6.
Se xingo
é porque a palavra é solta
pela farpa
espetada
a tapa
O óbvio é sem graça
O óbvio não tem charme
O óbvio não surprende
O óbvio não empolga
O óbvio não dá a possibilidade da incerteza
O óbvio não incendeia
O óbvio não é verde
não é virgem
é vermelho
é maduro
não é sagrado
nem bêbado
nem salgado
Entretanto, fica obvio
que eu queria
ver-te.