Poemas de Rosa

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Brotamos de Deus
como as flores, folhas e frutos
brotam da árvore.
Todos são e não são a árvore.
Todos somos e não somos Deus.
Somos Deus brotando
de si mesmo.

Deus é o caos criador da ordem.
A ordem que retorna ao caos.
O caos que se converte em ordem
na massa pulsante do infinito.

Deus nasce todo dia em cada homem
e aprende conosco o que Ele sabe.
Deus se deixa encontrar a cada instante,
sem ser chamado, sem ser procurado,
nos terrenos mais férteis ou mais sáfaros,
em meio à oração ou à heresia,
sem encontro marcado e em qualquer parte.

Santificaram a pobreza.
Mas muitos pobres preferem
a riqueza à santidade.
Satanizaram a riqueza.
Mas os ricos não se importam
se sua riqueza é satânica.

Nascemos de uma explosão:
átomo ou ovo primordial
a miniatura do nada.
Espaço, tempo, matéria
e o infinito num ponto.
Onde é que Deus estava
nesta singularidade?

Fatos se tornam sonhos
e sonhos se tornam fatos.

Qual deles é o real?

O fato que já passou?
O sonho que ainda é sonho?

Outrora, essa rua era
um enorme e denso silêncio.
Muitas árvores. Poucas pessoas.
Porém, o rio do barulho urbano
invadiu a rua e as casas.
E o silêncio se foi na correnteza
para nunca mais ser escutado.

É difícil aceitar
a face escura de Deus.
Raríssimos são aqueles
que o conseguem.
E os que se tornam
a face escura de Deus?
Como as pessoas comuns
poderão compreendê-los?

Deus não é para ser achado.
Porque achamos que Deus
é isso ou não é aquilo,
ficamos na ilusão
de O ter achado.

A quem devo invocar se já não creio
em tudo o que foi dito e revelado?

A dúvida é forte como a fé
e se sustenta no seu próprio vácuo.

E nem creio sequer em minha dúvida,
porque tudo o que é crido é construído
dos nossos medos e fragilidades.

Deus não é a dor justificada,
o prêmio e o castigo além do túmulo,
mas tudo o que não pode ser descrito
nem humanamente compreendido.

Ser humano que sou, não sei que humano
possa exceder à sua condição
e revelar mistérios que não passam
de criações da carne atormentada.

Máscaras de Deus, só existimos,
enquanto Deus em nós se representa.

O Bem e o Mal são condições do palco
e cessam ao término do espetáculo.

O pecado é pensar que existimos
nos papéis que nos foram destinados.

No pior vilão, no excelso herói,
o mesmo Deus se exalta como ator.

Os teólogos são os
ficcionistas de Deus.
São exímios contadores
de histórias,
que acreditam
serem verdadeiras.

A saudade eu mato; a lembrança eu guardo; a tristeza eu supero; A alegria eu conservo; Já as pessoas iguais a você eu nunca esqueço.

Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. Deixa. Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.

Karine Rosa

Nota: Trecho da crônica "Sapato velho", publicada em 12 de julho de 2009. A autoria do texto tem vindo a ser erroneamente atribuída a Caio Fernando Abreu e Tati Bernardi.

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Eu sou é eu mesmo. Divirjo de todo o mundo…
Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Hoje, temos a impressão de que tudo começou ontem. Não somos os mesmos, mas somos mais juntos. Sabemos mais um do outro. E é por esse motivo que dizer adeus se torna tão complicado. Digamos, então, que nada se perderá. Pelo menos, dentro da gente.

Penso que chega um momento na vida da gente, em que o único dever é lutar ferozmente por introduzir, no tempo de cada dia, o máximo de "eternidade".

Guimarães Rosa

Nota: 24 Cartas de João Guimarães Rosa a Antonio Azeredo da Silveira.

Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. Perda de espaço, tempo, paciência e sentimento. Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. Deixa. Deixa entrar: na vida, na cabeça e no coração.

Karine Rosa

Nota: Trecho da crônica "Sapato velho", publicada em 12 de julho de 2009. A autoria do texto tem vindo a ser erroneamente atribuída a Caio Fernando Abreu e Tati Bernardi.

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Se a gente puder ir devagarinho como precisa, e ninguém não gritar com a gente para ir depressa demais, então eu acho que nunca que é pesado.

Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto. Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação. Isso pode servir melhor para outra pessoa. Hora de deixar ir. Alguém precisa mais do que você. Se livrar. Deixar pra trás. Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. Perda de espaço, tempo, paciência e sentimento.

Karine Rosa

Nota: Trecho da crônica "Sapato velho", publicada em 12 de julho de 2009. A autoria do texto tem vindo a ser erroneamente atribuída a Caio Fernando Abreu e Tati Bernardi.

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