Poemas de Rosa
Sopro
O sopro atinge a criatura alada
Que cai de forma desfigurada
O impacto contra o solo a esmaga
E a morte sufraga
O sopro atinge a criatura rastejante
Que fica imóvel distendida
Somente o seu couro agora é valioso
E a morte contempla somente o que sobrou de proveitoso
O sopro atinge o corcel
Que tomba pesado para a direita
Suas patas ficam para o ar
E a morte apenas estar a escanear
O sopro atinge o rapaz
Que vibra em seu último suspiro
Sua mão cai quebrantada
E a morte somente olha desapontada
Decomposição
Sobrou apenas a carne empalidecida
Que já está desfalecida
Que em poucas horas estará hedionda
Não está só, pois tem companhia.
Vieram somente os vermes
Que já estão famintos
A carne está acolhia
O fedor paira sobre o ar
O cheiro se tornou nauseante
A carne estar a desvanecer
Adrenalina
Medo Adrenalina
Guarda corpo, adrenalina
Pés descalços, adrenalina
Mãos tremendo, adrenalina
Gravidade puxando, adrenalina
Vento contra a face, adrenalina
Frio na barriga, adrenalina
Zumbindo na cabeça, adrenalina
Falta de ar, adrenalina
Estimulo cardíaco, adrenalina
Velocidade aumentando, adrenalina
Colisão, fim da adrenalina
Isqueiro
A ferrugem o desfaz
O botão ainda não é utilizado
A enrugada mão o pressiona
O combustível queima
A rodinha de aço gira
O deus fogo surge
Quanto mais leio as Escrituras Sagradas, mais compreendo a sua veracidade; mais cresce a minha intimidade com Deus.
osmarina rosa rodrigues
Vidro
O vento bate na janela e atinge os vidros
Uma sombra se projeta sobre os vidros
Dedos deslizam pelos vidros
Longas unhas arrebentam os vidros
Meus olhos não conseguem ver os vidros
Estou assombrada pela sombra no vidro
Gotas que distrai
A chuva cai
As gotas me distraem
O vento vai
Não consigo segurar o guarda-chuva
A água é forte
As gotas ainda me distraem
Olho para o céu
Caminho sem rumo
A chuva cai
As gotas me distraem
Ando em direção ao rio
Neste tempo sombrio
Amigo invisível
Vejo-te e te conheço
Mas ninguém sabe sobre você
O que será que acontece?
Vejo-te e converso com você
Mas ninguém sente a sua presença
Não entendo essa situação?
Vejo-te e te ouço
Mas ninguém escuta a sua voz
Não compreendo, estou louca?
Orquídeas negras
As orquídeas negras dançam
As margaridas somente olham
As rosas debocham
Os lírios cantam
As orquídeas negras dançam
As petúnias apontam
As begônias apontam
Os cravos falam
As orquídeas negras dançam
As flores do jardim não aceitam
Mas as orquídeas não ligam
Cadeira de aço
Ela esta presa a cadeira de aço
Suas mãos estão atadas
Suas pupilas estão dilatadas
Ela esta presa a cadeira de aço
Seus pés estão frios
Seu corpo está com calafrios
Ela está presa a cadeira de aço
Ela não sabe o que vai acontecer
A cadeira de aço é rígida
Eu e o mundo
Eu posso voar
O mundo não pode me travar
Eu posso correr
O mundo não pode me prender
Eu posso falar
O mundo não pode me calar
Eu posso fugir
O mundo não pode me deter.
Eu posso pular
O mundo não pode me alcançar.
Asas do pégaso
O cavalo branco cavalga
Sem rumo para o infinito
As criaturas o perseguem
O cavalo branco cavalga
O monte Olimpio somente contempla
As criaturas estão perto
O cavalo branco cavalga
Os deuses somente apostam
As criaturas se aproximam
O cavalo branco cavalga
Ele se esquece de suas asas
O problema é maior que sua habilidade
As criaturas o alcançam
O cavalo branco cai
As criaturas o devoram
E os deuses somente observam
A garota
A garota chega e o elogia
Ele somente agradece
A garota chega e lhe dá a mão
Ele somente a saúda
A garota chega e lhe dá boas vindas
Ele somente acena
A garota chega e se aproxima
Ele somente a escuta falar
A garota chega
Ele somente se levanta e saí
A garota chora
A maçã que desapareceu
A fome dilacera o estomago das pessoas
Existia dentro da cesta uma maça
A fome trás alucinações
Existia dentro da cesta uma maça
Eles afirmam que a maça estava lá
Existia dentro da cesta uma maça
Cinco dias de fome
Existia dentro da cesta uma maça
A maça desapareceu
Ninguém viu a maça
A fome e a loucura riem das pessoas
Cadê a maça?
Menino magro
O menino magro está na praça
As costelas estão sobressaindo-se
As pessoas passam e não notam
O menino magro está no metro
Seus finos braços estão levantados sobre o balcão
O dono da lanchonete o ignora
O menino magro está caminhando na rua
Seus pés descalços tocam o sobre seus saltos não o vêem
O menino magro não anda mais por aí.
Onde será que foi aquele menino magro?
Beco estreito.
O beco é estreito
As pessoas sobem e descem
O beco é longo
As pessoas vão e voltam
O beco é de terra
As pessoas caminham devagar
O beco esconde muitas histórias
As pessoas desinteressam pelo beco
O beco possui muito segredos
O Carroceiro e o cavalo
O carroceiro usa a chibata
O cavalo anda com fraqueza
O sol está castigando
O carroceiro usa a chibata
O cavalo não se queixa
O fardo é pesado
O carroceiro usa a chibata
O cavalo anda com dor
Não há água para os dois
O carroceiro usa a chibata
O cavalo interrompe o seu andar
O carroceiro usa a chibata
Uma... duas... três vezes...
O cavalo anda com fraqueza
Mercado de noite.
Já é noite
O mercado já fechou
As pessoas se foram
Os ratos saem de suas tocas
Já é noite
O mercado está em silêncio
Os farelos estão no chão
Os ratos caminham até a comida
Já é noite
O mercado está calmo
E os ratos estão a comer
Vênus é má
Vênus nasceu
As mulheres ficaram espantadas
Vênus veio com seu único padrão
As mulheres ficaram recatadas
Vênus agora comanda
As mulheres tentam se parecer com ela
Vênus é má
As mulheres estão tristes
Vênus criou um único padrão
As mulheres não conseguem ser como ela
Vênus é má
O Saco e as batatas
O saco está feliz e cheiro
O saco está em local de destaque
O saco é cheio e gordo
As pessoas compram as batatas
O saco foi colocado em outro lugar
As batatas estão indo embora
O saco não está tão gordo
O saco não está mais feliz
Foi esvaziando aos poucos
As batatas partiram sem se despedir
O saco foi deixado de lado
É um novo dia
O saco está novamente gordo e feliz
Mas as batatas não existem mais.