Poemas de Realidade
Existe uma coisa que uma longa existência me ensinou: toda a nossa ciência, comparada a realidade, é primitiva e inocente; e, portanto, é o que temos de mais valioso.
Não se preocupe com a distância entre seus sonhos e a realidade. Se você pode sonhá-los, você pode realizá-los.
O meu maior desgosto é que Deus, na realidade, não exista, privando-me assim do prazer de o insultar mais positivamente.
Existe um mito de que tempo é dinheiro. Na realidade, tempo é mais precioso que dinheiro. É um recurso não renovável. Uma vez que você o gasta, e se você o usou mal, ele se foi para sempre.
Na realidade trabalha-se com poucas cores. O que dá a ilusão do seu número é serem postas no seu justo lugar.
Mais vale o erro em que se crê do que a realidade em que não se crê; pois não é o erro, e sim a mentira, o que mata a alma.
Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade interior; é a causa, o fim e o resumo de todos os defeitos humanos.
Na realidade, talvez não exista nenhuma de nossas paixões naturais tão difícil de subjugar como o orgulho. Disfarce-o, lute com ele, derrube-o, sufoque-o, humilhe-o tanto quanto desejar, e ele ainda está vivo, e aparecerá de vez em quando e se mostrará.
Nas almas medíocres e superficiais atua sobretudo a realidade transitória das linhas e dos sons, das formas e das cores. As naturezas elevadas, ao contrário, são sempre objetivas e metafísicas.
Parece um absurdo, e no entanto é a exata verdade, que, se toda a realidade for vazia, não haverá mais nada de real nem de substancial no mundo além das ilusões.
A realidade apenas se forma na memória; as flores que hoje me mostram pela primeira vez não me parecem verdadeiras flores.
O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.
O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.
Nota: Trecho de poema do "Livro do Desassossego", de Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa).
...MaisA vida é para nós o que concebemos dela. Para o rústico cujo campo lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.