Poemas de Memória
UNIVITELINAS
Uma vinha de “tomara que caia”
Sandálias de dedo,
Flor nos cabelos soltos
E batom de groselha...
A outra vinha numa draga,
Trazia uma adaga, um pé-de-cabra
Vestia calça de cowboy e esporas de prata...
Uma declamava versos,
Sonhava com beijos,
Pensava num sapo que viraria príncipe...
A outra trazia um gargalo,
Cheirava rapé, lambia uma faca,
Bebia cachaça.
Jurava de morte o homem que a importunasse...
Uma corria no campo,
Saltitando num balé romântico,
Sonhava com filhos, imaginava um idílio,
Um homem viril que lhe amasse...
A outra escalava montanhas,
Caçava javalis, cortava lenha, laçava touros,
Amansava cavalos...
Univitelinas, uma era o reflexo da outra,
Idênticas e tão diferentes...
Faço parte da sociedade de consumo sem sumo...
"As pessoas pra mim são como lagos, eu avalio-as pelas suas profundidades..."
"Há um deus crucificado para cada judas que morre enforcado."
Olhe para o céu, preste atenção às estrelas, elas são flores incandescentes
Que demonstram a paixão de um ser divino...
No espelho o reflexo às vezes me assusta
O que riscou tanto o meu rosto?
Ciclo
Nossos poemas se amaram tanto
Nossos poemas se encontravam nas rimas,
nas esquinas
Nossos poemas eram ternos
Nossos poemas juraram amor eterno
Faziam promessas, sentiam saudades,
Ansiavam pelos nossos encontros
nos fins de semanas
Nossos poemas se entregaram tanto
Que diante do campanário da igrejinha
de são Jorge em nova Iguaçu
Sabrina Gorgoroff parecia contemplar
a catedral de são Basílio
Na capital moscovita
Ali nos beijamos pela primeira vez
No corredor que conduzia a sacristia
Nos amamos como possessos sem profanar
o templo
Quando ela me confessou ser espiã da KGB
Nunca estive em moscou,
mas o que não faz a fantasia
As luzes do crepúsculo certamente
refletiriam no teto dourado
E na praça vermelha Sabrina teria o perfil
de uma diva
Nossos poemas se encontrariam ali
Durante a terceira guerra mundial
E nos beijaríamos sem nos importar
com mísseis nucleares
Como nos beijamos sob o devastador
cogumelo sobre Hiroshima
Completando o ciclo da criação e destruição
Que nos inspira a escrever
E reinventar a história do amor..
PASSARINHOS
Os poetas não vão para o céu
Eles perambulam pelas esquinas
Fascinados pelos crepúsculos
Seduzidos pelas meninas
Os poetas cantam enquanto
Espalham sementes que frutificam no inverno
Mas se alimentam de olhares , sorrisos e lagrimas
Realizam-se nas incertezas
Estabilizam-se nas inseguranças
E amam nas ausências
Poeta é todo mundo e ninguém
É um ponto de vista
Sem ponto e sem vista
Poetas se transformam em e árvores
Ou encarnam animais de estimação
Para sentir o contato
Para ficar com aquele perfume
Que lhe encanta
Poeta não ama apenas, ele ama amar
Poetas não vão para o céu
Para o purgatório ou para o inferno
Eles transitam por esses lugares
Durante as paixões... até que Deus os chamem
E eles se transformam em passarinhos...
ATÉ QUE AMANHEÇA
Embrulho a vida,
Momentos doces e amargos,
Lembranças pesadas ou leves passagens,
A suavidade de um beijo
Ou agruras quaisquer na viela do esquecimento
Empacoto o presente...
Ou os mais íntimos toques
Que eu não consigo reprimir
E vigio...
Vigio a melancolia didática,
Toda aspereza da mais simplória estrofe
Que eu escondo no fundo do arquivo
Contudo arranha-me a sensibilidade...
Vigio fantasmas que me empurram da escada
Ou penduram cordas nos caibros
Como um sinistro convite
Vigio a porta, que um forte vento teima em abrir
A campainha que nunca toca...
O telefone que nunca chama
Para confidencias durante a madrugada
Vigio a Remington num esquisito toque-toque
Como um estranho soneto de um enredo obsoleto...
O gotejar incessante de alguma torneira
No mais profundo silencio
Ou passos pelas dependências da minha ânsia
Vigio pilhas de livros sobre a minha ignorância
Vultos atrás da cortina
Sussurros no hall superior
E uma gargalhada estridente, efeito de aguardente
Que vem do corredor...
Vigio a madrugada com seus enigmas
Que conduz o seu perfil ao meu subconsciente
E me transporta a este estado de tensão e medo...
Até que amanheça e me autopsiem...
FABIAN
Desenhe um cara sem face,
Desenhe um cara sem rosto,
Desenhe um cara sem voz,
Desenhe um cara que não pode ouvir...
Desenhe o mar,
Multiplique por dez...
Isso é a metade da metade
Da minha saudade,
Desenhe uma mentira,
Esta é a minha verdade...
Olhe os morcegos, feche as vidraças...
Desenhe uma pipa, o Zeppelin
Uma dúzia de vassouras turbinadas...
Estou do outro lado da parede
Cantando parabéns pra você...
ETERNIDADE
Um vale assombrado ou um pântano tenebroso
Abrigar-nos-á para purgarmos
Por toda a insensatez e luxúria...
Mendigos e flagelados ouviremos Coubain ou Janis Joplin
Blasfemando melodicamente contra o amor...
Teremos uma vizinha que pensa que já morreu
Que não fala, nem ouve, porque teme
Ter a certeza disso por outro alguém
Revoada de corvos na tarde
como um mal presságio
E, à madrugada, relâmpagos e trovões
numa tempestade apocalípticas...
Na vereda que conduz a caverna dos enforcados
Uma ou outra cruz demarcando
aqueles que não souberam lutar pela paixão
Mas também veremos árvores com corações
E declarações de amor sem fim
Alguns poemas que jamais entenderemos
Porque a eternidade é obscura e fria
Mas quando eu conseguir entender
Quando ela chega com meia dúzia de estrelas no bolso,
A ansiedade no olhar, corada e arfando: ‘’quanto tempo!’’
Na minha mente eclipsada de confusões
Um raio de luz entrará furtivo
E uma manhã ensolarada expulsará do vale
Todos os fantasmas e habitará o pântano
Então eu direi sem me preocupar
Como as palavras podem ser simples e banais:
“Eu também...”
GRANADA
Essa ansiedade me mantém acordado...
Essa ansiedade me mantém acordado...
Noites invernosas habitam meus olhos,
Chove copiosamente...
Deslizes de terra... desmoronamentos...
Descompor-se... dessentir...
Essa ansiedade me faz respirar...
Essa ansiedade me faz respirar...
Um meteorito é um sobreaviso...
Um poema pode ser uma granada,
O Papa sente-se cansado...
Essa ansiedade me mantém acordado...
Essa ansiedade tem a ternura de Isolda,
A leveza de Mata Hari,
Beija-me e me faz levitar...
Quem detém furacões...
Quem detém vulcões...
Esta ansiedade é paciente,
perene como as neblinas...
Dilui correntes e guilhotinas...
Esta ansiedade me salva e liberta
Desperta-me para essa ansiedade.
AUTOBIOGRAFIA
Uns me chamam de vagabundo...
Outros me chamam de anjo...
Não sou isso nem aquilo
Pelas esquinas do mundo
Eu vivo tocando banjo
Fingindo que estou tranquilo...
QUANDO O MONGE FAZ O HÁBITO
Estiro-me em manchetes...
Estendo-me em crimes...
E morro tentando mostrar
À mim mesmo que existo.
AMSTERDÃ
Você estaria bem perto do paraíso
Se você fosse um lugar...
Se você fosse uma lembrança
Você seria um cesto de morangos com cerejas
À margem de um rio com águas cristalinas
Numa ensolarada manhã de domingo...
Se você fosse um tobogã
Você seria o arco-iris depois de uma garoa
Sobre um vale verdejante...
Você seria Amsterdã
Prometendo as mais belas tulipas
Se você fosse um jardim...
Se você fosse uma noite
Você seria nupcias...
Se tudo não fosse só fantasia,
Seria amor sem fim...
"És que loucos e doidos se encontram na fila dos corredores,
emparelhados em conflitos, entre surtos e risos,
conversas à beça, onde o choro e os vícios se misturam.
Sempre a tirar piadas,
sinalizando olhares convictos de cismas na troca de pira."
Já memorizei o seu corpo todo
Pro caso da gente não se ver de novo
Doa a quem doer, essa é a verdade
Entre nós dois não cabe saudade
Quando encaramos todos os nossos medos
Aprendemos nossas lições através das lágrimas
Fizemos lembranças que sabíamos que nunca se apagariam
TBT
Dizem que na quinta-feira
é dia de TBT:
hora de lembrança ter,
saudade pra ser certeira!
Mas eu acho isso besteira,
sempre penso no passado,
um lugar já visitado,
um alguém além do tempo,
um dia, um bom momento
no meu peito registrado.
É tudo muito triste. Principalmente quando você já não sente mais nada.
Não sabe onde se perdeu. Sobrevive ao invés de viver.
A saudade em seu peito faz refúgio. Os pensamentos vem e vão.
Onde estão as respostas ? Vejo apenas os enigmas.
Onde está a cura ? Vejo apenas os sintomas.
Onde estão todos ? Me sinto tão sozinho.
Onde foi que me perdi ? Pra onde é que todos foram ?
Cadê todos aqueles momentos bons ? Será que se apagaram da memória ?
Eu apenas queria saber isso. Quando?
Quando foi que eu morri e não percebi ? Quando?!
“Comportamo-nos como se as pessoas de quem gostamos fossem durar para sempre. Em vida não fazemos nunca o esforço consciente de olhar para elas como quem se prepara para lembrá-las. Quando elas desaparecem, não temos delas a memória que nos chegue. Para as lembrar, que é como quem diz, prolongá-las. A memória é o sopro com que os mortos vivem através de nós. Devemos cuidar dela como da vida.
Devemos tentar aprender de cor quem amamos.
Tentar fixar.
Armazená-las para o dia em que nos fizerem falta.
São pobres as maneiras que temos para o fazer, é tão fraca a memória, que todo o esforço é pouco.
Guardá-las é tão difícil.
Eu tenho um pequeno truque.
Quando estou com quem amo, quando tenho a sorte de estar à frente de quem adivinho a saudade de nunca mais a ver, faço de conta que ela morreu, mas voltou mais um único dia, para me dar uma última oportunidade de a rever, olhar de cima a baixo, fazer as perguntas que faltou fazer, reparar em tudo o que não vi; uma última oportunidade de a resguardar e de a reter.
Funciona.”
Miguel Esteves Cardoso, in As Minhas Aventuras na República Portuguesa
VOCÊ AINDA SE LEMBRA DE MIM?
Essa é uma pergunta que eu praticamente me faço todos os dias,
É estranho uma pessoa que um dia te chamo de amor e que jurava de pés juntinhos que nunca iria te abandona,
Mas parece que nem todas as promessas foram sinceras ou compridas ao ponto da pessoa desaparecer da sua vida,
Não que eu sinta falta ou saudades mas sim pelo fato do que você ouviu nas àquelas promessas que você humildemente agreditou e hoje custa acreditar novamente nem que seja de outras pessoas,
Talvez tudo não foi em vão pois ficou uma lição,
Aliás várias lições que conseguentimente me levaram ao longo dos anos a mudar um pouco a minha forma de enchergar o amor,
Por pior que seja esse sentimento realmente é difícil amar como antes pois você vive com aquelas lições na cabeça temendo que voltem acontecer,
As vezes o problema não é o que você já viveu e sim o que você está sentindo voltar acontecer,
Não sei como será no seu ou no meu futuro as coisas,
Mas posso dizer com as palavras mais doces e sinceras eu não há esqueci,
O amor não se esquece e muito menos se abondona,
Apenas viramos as páginas e vivemos novas histórias mais não fingimos que nunca aconteceu nada,
Apenas escolho amar quem me ama.
Autor: Jonathas Nogueira da Silva
©2018
Descobri coisas deliciosas a meu respeito, como por exemplo, uma pessoa superficial e mentirosa me engana até certo ponto, e até quando eu deixar, porque eu sou craque em pegar as mentiras no ar.
Acho que virou o meu hobie preferido. Rsrsrs....
Penso que nenhum homem tem a memória tão boa para se tornar um mentiroso bem sucedido para mim, e acho que para muitas mulheres mais espertas e inteligentes que existem por aí.
Ainda bem!!!!
Cláudia Leite S.