Poemas sobre Medo
Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.
Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido.
“Ela sabia que precisava dele. Mas tinha medo da compulsão. De querer ele sempre e sempre e pra sempre. E amanhã e depois. E de dia, e tarde, de madrugada.”
Eu tenho medo de deixar de ser filha, de deixar de ser amiga, de deixar de ser menina, de deixar de ser estranha, de deixar de ser sozinha, de deixar de ser triste, de deixar de ser cínica. Eu tenho muito medo de deixar de ser.
De repente sinto medo. Um medo antigo, o mesmo que sentia o menino escondido embaixo da escada, esperando castigos.
Tenho medo de não conseguir manter minhas ideias, meus pontos de vista, minhas escolhas. A minha cabeça é como um guarda que não permite que eu estacione em local algum. Eu fico dando voltas e voltas no meu cérebro e quando encontro uma vaga para ocupar, o guarda diz: circulando, circulando. Você está me entendendo? Eu não tenho área de repouso. Raramente desligo, e quando isso acontece, não dá nem tempo para o motor esfriar.
Não tenha medo de ser o que você exatamente é. Se alguém tiver de gostar de você, olhara primeiro seu coração. E se você demonstrar ser o que não é, como alguém iria gostar de alguém que não conheci de coração?
Como é que se explica que o seu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o seu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra – como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?
A gradual escuridão me amedronta um pouco, bicho que sou e que toma cautela. Escuridão? medo e espanto. O dia morrendo em noite é um grande mistério da Natureza. (...)
Em mim ela brota de meu âmago qual semente que rompe a terra.
Eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor.
Meu medo não era o de quem estivesse indo para a loucura, e sim para uma verdade.
E vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo leve, e vou dizendo longo sem pausa - gosto muito de você.
EU NÃO ENTENDO! Por medo da loucura, renunciei à verdade. Minhas ideias são inventadas. Eu não me responsabilizo por elas. O mais engraçado é que nunca aprendi a viver. Eu não sei nada. Só sei ir vivendo. Como o meu cachorro. Eu tenho medo do ótimo e do superlativo. Quando começa a ficar muito bom eu ou desconfio ou dou um passo para trás.
Mas descobri que foi o príncipe azul, que na verdade era meu pai, que me ensinou a não ter medo de atravessar o rio enorme, profundo, gelado e escuro, da história que inventamos. Dentro da barraca que não é barraca, é lençol preso no teto com fita crepe. Ele me deu a capacidade de sonhar, o resto do mundo agora é comigo.
Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de (...) não estar no que você vê.