Poemas de Maquiavel
O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons.
Mas, quando o príncipe corajosamente toma partido franco por um dos contendores, se aquele com quem te ligaste vencer, ainda que seja poderoso e que fiques à sua mercê, terá ele obrigações para contigo e é compelido a ter amizade por ti; e os homens não são nunca tão maus que queiram oprimir a quem devem ser gratos.
(O Príncipe - cap.XXI)
Ao conquistar um Estado, o conquistador deve avaliar rapidamente todas as violências que lhe são necessárias cometer e cometê-las todas de um só golpe para não ter que repeti-las todos os dias, assim, não as repetindo, irá tranquilizar os homens e conquistá-los. Quem fizer de outra forma, seja por timidez, seja porque mal aconselhado, será obrigado a ter sempre o punhal à mão.
Quem conspira não pode aturar isoladamente e só pode aliar-se àqueles que julga insatisfeitos. Mas no momento em que revelas as tuas intenções a alguém insatisfeito, dás a ele a oportunidade de se satisfazer, porque se te denunciar poderá esperar tudo o que é do seu agrado; de modo que, vendo um ganho certo deste lado e incertezas e perigos na conspiração, só permanecerá leal a ti se for um amigo extraordinário ou inimigo ferrenho do outro.
A melhor fortaleza que existe é não ser odiado pelo povo, pois mesmo que possuas fortalezas, se o povo lhe odiar, elas não te salvarão.
Nunca se pode tentar fugir de um inconveniente sem esbarrar em outro. Todavia, a prudência consiste em saber distinguir as qualidades dos inconvenientes e tomar o menos ruim por bom.
Se alguém procede com cautela e paciência em tempos que exigem tais qualidades, então tudo se sai bem; mas se os tempos sofrem mudanças e os comportamentos permanecem inalterados, então é a ruína.
Os homens que desejam fazer algo devem antes preparar-se com toda indústria, para estarem, chegada a ocasião, aparelhados para cumprir aquilo que se propuseram executar.
Será preciso, contudo, ser cauteloso ter equilíbrio, com aquilo que fizer, e no que acreditar; é necessário que não tenha medo da própria sombra, e que aja com prudência e humanidade, de modo que o excesso de
confiança não o torne incauto, e a desconfiança excessiva não o faça intolerante...
Note-se que é preciso tratar bem os homens ou então aniquilá-los.
Eles se vingarão de pequenas injurias, mas não poderão vingar-se de agressões graves; por isso só podemos injuriar alguém se não temermos sua vingança...
Aqui existe bastante valor no povo, embora faltem chefes. Observai, nos duelos e nos torneios, quanto os italianos são superiores em força, destreza e inteligência. (…) é necessário, antes de mais nada, como verdadeira base de qualquer empreendimento, prover-se de tropas próprias, porque não existem outras mais fiéis nem melhores. E embora cada soldado possa ser bom, todos juntos tornar-se-ão melhores ainda, quando se virem comandados pelo seu príncipe e por ele honrados e bem tratados. É necessário, pois, preparar essas armas, para se poder defender dos estrangeiros com a própria bravura italiana. (…) Não se deve, portanto, deixar passar esta ocasião a fim de fazer com que a Itália, depois de tanto tempo, encontre um redentor. Não tenho palavras para exprimir o amor e entusiasmo com que o príncipe seria recebido em todas as províncias que sofreram ataques e invasões estrangeiras, nem com que sede de vingança, com que fé obstinada, com que piedade, com que lágrimas. Que portas se lhe fechariam? Que povos lhe negariam obediência? Que inveja se lhe oporia? Qual italiano seria capaz de lhe negar o seu favor? Já está fedendo, para todos, este domínio de bárbaros. Tome, pois, a vossa ilustre casa esta tarefa com aquele ânimo e com aquela fé com que se esposam as boas causas, a fim de que, sob o seu brasão, esta pátria seja enobrecida, e sob os seus auspícios se verifique aquele dito do Petrarca: “A virtude tomará armas contra o furor e será breve o combate, pois o antigo valor ainda não está morto nos corações italianos”.
Niccolò Machiavelli in O Príncipe
Quando cai a noite, volto para casa e entro em meu escritório; e, à porta, dispo-me das vestes cotidianas, cheias de lama e lodo, e me enfio em panos reais e curiais; e, vestido decentemente, entro nas antigas cortes dos antigos homens, onde, recebido amorosamente por eles, farto-me daquele alimento que é só meu e para o qual nasci; lá, não me envergonho de falar com eles e perguntar-lhes a razão de suas ações; e eles, por sua humanidade, me respondem; e, por quatro horas de tempo, não sinto nenhum tédio, esqueço qualquer aflição, não temo a pobreza, não me assusta a morte; transfiro-me todo para eles.
Não podendo fabricar um papa segundo sua vontade, pode ao menos fazer com que não fosse papa aquele que não desejava que fosse.
Há três tipos de cérebro: O excelente que compreende por si só, o bom que discerne aquilo que outros compreendem, e o inútil que não compreendem nem por si só e nem por intermédio de outros.
Quando percebes que seu conselheiro pensa mais em si do que em ti e que em todas as ações procura tirar proveito para si, saberás que tal pessoa não será jamais um bom conselheiro e jamais poderás nele confiar. E como príncipe por sua vez, deve pensar no conselheiro honrando-o, enriquecendo-o, assegurando sua gratidão, dando-lhe participação nas honras e responsabilidades, de maneira que ele se dê conta que não pode prescindir de ti e que a profusão de honras de que é beneficiário não o faz desejar mais honras, a profusão de riqueza não o faz almejar mais riquezas, e a grande quantidade de responsabilidades o faz temer as mudanças.
Não se deve jamais deixar-se levar pela ideia de que alguém vai te amparar, o que ou não acontece, ou acontece ma sem te oferecer segurança por constituir uma proteção de pouco valor e não depender de ti. E as proteções somente são boas, seguras e duradouras quando dependem de ti próprio e de teu valor.
Arruína-se quem é instrumento para que o outro se torne poderoso, porque esse poder é dado pela astúcia ou pela força e ambos são suspeitos a quem se torna poderoso.
Há três tipos diferentes de mente:
uma compreende as coisas sem ajuda;
a segunda compreende as coisas demonstradas por outrem; a terceira nada consegue compreender, nem só, nem com a assistência dos outros...
E é geralmente reconhecido que a sorte se deixa dominar mais pelos impetuosos do que pelos circunspectos que procedem friamente.
Niccolò Machiavelli in O Príncipe
Muitos entendem que os príncipes que granjearam fama de prudentes, devem-no não à sua natureza, mas aos bons conselhos dos que lhe estão ao redor. É um erro manifesto, porque é regra geral, que não falha nunca: um príncipe que não seja prudente por si mesmo não pode ser bem aconselhado, se por acaso não acatar o juízo de um só, muito sábio, que entenda de tudo. (...)
Os bons conselhos, de onde quer que provenham, nascem da prudência do príncipe e não a prudência do príncipe dos bons conselhos.
Niccolò Machiavelli - O Príncipe - cap.XXIII