Poemas de Lembranças
restauração
à beira de uma saudade
um olhar de lembranças
adquirido duma fatuidade
embalado por mudanças
e depois pela imensidade
do vazio das tardanças
os sonhos pela metade...
quiseram fazê-la moldada
tiraram-lhe os pés, as mãos
puseram tua poesia calada
e tuas quimeras em vãos
sem asas e sem morada
insistiram em demãos
e em uma nova fornada
um dia nuvem eu busco
repleta duma esperança
sem que só tenha fusco
onde eu possa ser dança
também, mais que rabusco
meu eu, sonhadora criança
poeta, alquimista, patusco
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
27, setembro, 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
FINADOS
Perdida é a paixão no finados, ó Deidade!
Dentro do silêncio das lembranças, o choro
Dos que já se foram. Vácuo no peito em coro
E as orações repetindo o lamento, piedade!
Tantas flores pra tantas covas, pesar em goro
Tantos prantos pra tantas dores, familiaridade
Desfiando suspiros, em tal trágica fatuidade
No ocaso de glórias num plangor tão canoro
Devagar é o enterro no aflitivo perdido laço
Onde os olhares, passam, sem dar passo
Murmurando no vazio que o coração brade
Cada qual pega na alça do triste compasso
De conta em conta na magoa num repasso
Deixado as lágrimas e, arrastando saudade
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
SONETO EM REVERENCIA
Evocar o tempo, e nesta saudade em rudez
as lembranças são qual suspiros de tua ida
o silêncio invasor na casa após a tua partida
pra morte, igual, desfolho outonal em palidez
Fatal e transitório, a nossa viveza é vencida
pelo sopro funesto, ao sentimento a viuvez
Julho, agosto, setembro, vai-se mês a mês
ano a ano e outro ano a recordação parida
Da saudade filial, que dói numa dor doída
de renovação amarga e de vil insipidez
que renasce na gelada ausência sofrida
No continuar, o vazio, traz pra alma nudez
chorada na recordação jamais esquecida...
Neste soneto solene: - sua bênção outra vez!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
13 de julho, 2016
Cerrado goiano
morte de meu pai
Naquela madrugada, o seu silêncio escreveu saudades e com ele sua morte trazia...
Acordaste do sonho da vida, e tuas lembranças, nos acolhia.
copyright © Todos os direitos reservados.
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
EU, EU MESMO (soneto)
Eu, nos cansaços, as saudades
quantas as lembranças estilam
que o passado no exato pilam
assim, cheios de passividades
Afinal, tudo no tempo expilam
eu, eu mesmo nas fatuidades
duvidei, imperfeito, vontades
me levaram, na baixa bailam
Pois tudo é eu, sem metades
eu sou eu, e nada anteviram
e do meu eu, sai as verdades
E eu, que no eu, me inspiram
dele um passado, variedades
que do uno eu, “áses” extraíram
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
Algumas noites, deito-me com as lembranças, e em silêncio chamo por você.
Em outras, ouço os ecos passivos da saudade, chamando-o por seu nome.
Existem coisas que vão e não voltam jamais.
A perda da confiança,
Palavra falada,
Lembranças compartilhadas,
Bons momentos, e encontros inesperados,
Nossos Pais,
Aquele algo não inesperado,
Aquele Sim inesperado,
Nossa formatura,
Primeiro emprego, O primeiro filho,
...e um exagero de acontecimentos em nossas vidas.
Porém tem o Amor que não morre nem vai embora jamais quando nos possibilitamos a entrendê-lo percebendo que o Outro, também sou Eu!
Não temos lembranças de ter estado no céu!
E estragamos nossos dias com peculiares divergências.
De repente estamos nele, o "Céu" e continuamos com divergências e nos estragando.
Quem Sou
Sou alguém sem lembranças de onde veio,
Como a outrem com saudades para onde ir.
Sou alguém que sonha o próprio meio,
Como a outrem com dificuldades em dormir.
Como o sol se pondo e nascendo a um novo dia,
Morro a cada instante em todo entardecer!
Como o espetáculo de uma nova magia,
Renasço a todo tempo num novo alvorecer!
Mesmo outrem como a mim, que trilha,
Superando tristezas, e que alegremente diz:
"Sou também assim, simplesmente feliz!"
Sou a outra estrela distante, que brilha!
Sou a mais bela poesia, sem querer...
Sou um outrem... Alguém, como você!
Vestígios de um amor perdido
As lembranças de um amor perdido são como cicatrizes que nunca cicatrizam por completo. Cada brisa, cada cheiro, cada canto, tudo a remete para aqueles momentos intensos ao lado de seu amado. A saudade é uma constante companheira, e a dor de não mais ter seu abraço, seu beijo e sua companhia é insuportável. A vida segue, mas os vestígios daquele amor permanecem, tatuados em sua alma, como um lembrete eterno de um amor que se foi.
"A identidade de um homem revela-se com peculiar ênfase nas suas lembranças, quando ele olha para trás e se vê nas próprias pegadas, as quais lhe dão a perspectiva do caminho percorrido. Este, por mais acidentado e permeado de mudanças que tenha sido, é uno, ou, noutras palavras, possui a unidade das coisas irrepetíveis, jazentes na memória.
Envelhecer bem é tornar-se capaz de contemplar a própria identidade. Infelizmente, isto não é para muitos, visto que, em todos os tempos, a maioria dos homens se afoga na superfície duma vida medíocre. Acresça-se o seguinte, ainda neste contexto: envelhecer bem é estar em paz com o passado, aceitando-lhe os sofrimentos e as alegrias, os erros e os acertos, as boas e as más escolhas, algo impossível para quem se recusa a vê-lo e, nele, ver-se.
Em contrapartida, envelhecer mal é estar em litígio com os vestígios do passado, sinal de que o medo ou a covardia de olhar para a própria história venceu. Trata-se duma vitória funestamente enganosa, com certeza, porque ninguém aborta um remorso, nem mesmo os covardes. Não adianta, pois, a pessoa mentir com a imaginação para apaziguar-se com lembranças falsas: a dor virá, e será tanto maior quanto mais adiada tiver sido.
Só dá testemunho da própria identidade quem amadurece, e só amadurece quem tem a coragem de amar. É a maturidade esse estado psíquico acidentalmente cronológico que dá sentido a uma vida humana.
Quem não se liberta na plenitude duma vocação realizada, conhece-se muito pouco, quase nada. Não consegue enxergar as suas impressões digitais anímicas, e, portanto, mal tem o vislumbre da própria identidade. Vive de saudades sabotadas, pois precisa inventar o passado para suportar o presente e, então, amoldar tudo a um futuro amesquinhado.
O passado renegado é uma herança maldita. Por isso, é livre quem aceita estes ossos lascados que pulsam de dor".
Cicatrizes são lembranças que você nunca perde
O passado nunca está longe
Você se perdeu em algum lugar por aí?
Você conseguiu ser uma estrela?
E não é triste saber que a vida
É mais do que quem somos
Você cresceu rápido demais
E agora não há nada em que acreditar
E as reprises se tornam nossa história
Uma música cansada continua tocando em um rádio cansado
E eu não vou contar a ninguém o seu nome
E eu não vou contar o seu nome para eles
LIBERTADOR
Sempre há dias que a tristeza bate em nossa porta, visitada de lembranças e alguma saudade. É quando a gente abre a porta do passado e se perde do presente. É quando a gente não ver o futuro. E a dor visita todas as janelas de nossa alma e faz a gente gritar em silêncio o nó na garganta . Faz a gente chorar sem lacrimejar e faz chorar como oceano a água salgada do amargo no peito. Tem vezes que não sabemos se a gente recorda mais felicidades ou barreiras impostas pela vida. Porque a gente esquece de sorrir ao acordar e olhar pro céu que está sempre pronto a nos esperar para o dia ou noite. A gente esquece de olhar pra gente e ver o quanto de tanto que a gente lutou pra chegar onde chegamos e que somos vencedores. A gente esquece de lembrar de um abração que ganhamos porque a gente existe na vida de alguém e muitas vezes a gente não quer lembrar o abraço que queria dar em outro alguém. Porque é fácil esquecer o que nos deixa bem, feliz, alegre. A gente se acostuma mais com o que nos incomoda. É mais fácil sorrir, então, por que lembramos sempre de sofrer? Porque a gente esquece de amar a gente mesmo para poder amar o próximo, a gente esquece da gente mesmo, quem dirá o próximo. Mas a gente diz amar o próximo até o próximo não atender o que criamos de expectativas, sonhos e ilusões. Porque amor, o amor mesmo é liberta-dor. A gente sofre porque a gente precisa aprender amar como se ama a dor sem sentir nada além do amor.
ESPERA
Ah! quem dera que as lembranças de outrora
Inda aromatizasse! Ah! e que assim pudera
O tempo de ontem fosse o tempo de agora
E não só este imaginar: - a outra primavera
Já não se tem mais uma extasiada aurora
No vetusto ser, tudo é igual, sem quimera
Onde a imaginação era de hora em hora
Agora, silêncio. Ah! como díspar quisera:
Debruçado nos sonhos, e o sonho recendia
O desconhecido, cheio de poesia intensa
No brotar do alvorecer duma nova hera
Ah! quem me dera que isto, fosse um dia
Uma razão, e não devaneios d’alma densa
De saudades, que poeta suspira e espera...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/08/2020, 15’18” – Triângulo Mineiro
CHORAR BAIXINHO...
Morreu. Vestiu-se de negro o sentimento
entre as lembranças as muitas, as penosas
dando um aperto do que foi um dia alento
hoje só tristuras nas recordações dolorosas
Má sorte! Como dói o afeto que foi ao vento
ao relento, o olhar afligi agonias silenciosas
ó ilusão, então, me tira deste tal sofrimento
balsama minh’alma com perfumes de rosas
Aliviando, assim, essa fúnebre infelicidade
pense na sensação de ferir-se com espinho
desolado pelos pensamentos de saudade...
Se este amor está morto, sem um carinho
um abraço, o laço, e não mais restou nada
então, deixe meu coração chorar baixinho! ...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
15/03/2021, 14’07” – Araguari, MG
ESQUECER-TE NÃO PUDE
Ah, esquecer-te não pude, é que quem diria?
teimosas lembranças evocam a finda paixão
as angústias de uma noite, lágrimas na poesia
relembram na prosa infinda suspirosa sensação
Teu amor! em um tempo a que eu amaria
fez pulsar de amor o meu confiante coração
depois, vieram gestos que eu não conhecia:
- o silêncio, a distância, em um feito vilão...
Dói, mas vivem em um presente passado
pulsando desejos que quer ser apagado
insistindo no dia que me deu aquela flor
Ontem, chorei, sim, e me foi tão cruciante
cada saudade me fazia dum eterno amante
marcante... não pude esquecer desse amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 28/07/2021, 18’19” -
AMOR DISTANTE
Na saudade, te cato nas noites morosas
Nas lembranças singulares de dias ledo
Manifestadas naquelas exclusivas rosas
Tão belas, eternizadas no nosso enredo
Tua ausência é pesar tirânico na poesia
Que trasborda e faz a inspiração suspirar
Não poder te abraçar, mais uma agonia
O preço de quem a te um dia pôde amar
Nestes versos em vão, dum amor distante
Que retalha a alma e na ilusão manifesta
Há sussurrar a todo o instante, lancinante
Sem existência a sensação vai se esvaindo
E nesta prosa somente estória, então, resta
Do amado amor que um dia nos foi lindo...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/09/2021, 11’58” – Araguari, MG
GRILHÃO DO AMOR (soneto)
Tenho saudade e ardo em lembranças
Dum amor que me endoida e me abate
Quem há de me tirar destas esperanças?
Quem há de os nós, quebre, me mate?
Não sei que certeira e desiguais danças
Me cravou no peito, dores deste quilate
Sem que eu sentisse, as tais mudanças
Do sossego. E agora neste vil combate...
O amor adentrou tão cauto, silencioso
Que eu nem me preocupei que estava
Apenas vivi, um ser no haver amoroso
E os lábios a sorrir e olhos cheios d’água
Como dói viver, sentindo, estreita trava
E chorar na solidão e trovar com mágoa!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
copyright © Todos os direitos reservados
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
campo santo
lá tudo é saudade, as lembranças se cobrem de linho
o eu, fica pequenininho, e a tristeza de olhos d’água
lá tudo é manso, o silêncio se faz de flores e espinho
num coração em pranto e em mágoa...
os sinos os serafins bimbalham, tal prece que galgam
os céus!
lá tudo é suspiro, tão alvos... lá as almas resfolgam!
e de lá somos réus...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
paráfrase Vinícios de Moraes
VELHAS LEMBRANÇAS (soneto)
Ah! amareladas lembranças, tão tagarelas
Das nostalgias vividas, e agora tão antigas
Tanto mais velhas quanto mais inimigas
Vencedoras do tempo e das agastas trelas
A dor, a solidão, o silêncio, à sombra delas
Vivem, murmurando de angústias e fadigas
Onde em seu leito só tem canções sofridas
Descoloridas, sem os matizes das aquarelas
Não choremos, poesia, a aflitiva saudade!
Envelheçamos com elas, e o seu reclamo
Como só as aroeiras valentes envelhecem
Na glória do exceder, do afeto e bondade
Se há recordação, que clamemos derramo
De despedida, as memórias que padecem!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/02/2020, 17’10” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
VIA (soneto)
Venho de andanças, em um estio
Trago lembranças tão desgastadas
Das outras tantas outras moradas
Que não sei mais se choro ou rio
E no mar do céu de matiz pueril
Outrora fui talvez, tantas estradas
Tantas lágrimas por mim deixadas
Dadas ou pegadas, de vulto vadio
Hoje sou a saudade esfarrapada
Largada, do que um dia eu senti
Eu mesmo sou a razão que perdi
E nesta via de tão dura lombada
De alma ressecada e tão cansada
Nos sonhos que devaneei, morri!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07 de março de 2020 – por aí.