Poemas de José Saramago

Cerca de 231 poemas de José Saramago

Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.

José Saramago
A segunda vida de Francisco de Assis

Nota: Fala do personagem Clara na peça de teatro "A segunda vida de Francisco de Assis" (1987) de José Saramago

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Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.

José Saramago
O homem duplicado. Lisboa: Editorial Caminho. 2002

De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos.

José Saramago

Nota: Trecho adaptado do livro "A Jangada de Pedra", de José Saramago.

O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.

Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória.

Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da vida.

José Saramago
Ensaio Sobre a Cegueira

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto.

José Saramago
Todos os nomes. Lisboa: Editorial Caminho. 1997

Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo.

José Saramago
O homem duplicado. Lisboa: Editorial Caminho. 2002

O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.

José Saramago
O Evangelho segundo Jesus Cristo. Lisboa: Editorial Caminho. 1992

Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo.

Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.

José Saramago
Ensaio sobre a lucidez. Lisboa: Editorial Caminho. 2004

Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.

As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler.

A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada.

Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.

Se eu estiver a ser sincero hoje, que importa que tenha de arrepender-me amanhã?

Se não disseres nada compreenderei melhor [...], há ocasiões em que as palavras não servem de nada.

SE PUDERES OLHAR, VÊ. SE PODES VER, REPARA.
Retrato do desmoronar completo da sociedade causado pela cegueira que aos poucos assola o mundo, reduzindo-o ao obscurantismo de meros seres extasiados na busca incessante pelo poder. Crítica pura às facetas básicas da natureza humana encarada como uma crise epidémica. Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente. Caso contrário, continuará uma máquina insensível que observa passivamente o desabar de tudo à sua volta.

Os lugares-comuns, as frases feitas, os bordões, os narizes-de-cera, as sentenças de almanaque, os rifões e provérbios, tudo pode aparecer como novidade, a questão está só em saber manejar adequadamente as palavras que estejam antes e depois.