Poemas de José Saramago
"... como se a imagem dele se fosse desvanecendo com a memória que dele tem, ou melhor, é como um retrato exposto à luz que lhe vai apagando as feições, ou uma coroa mortuária, com as suas flores "
A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.
O tempo das verdades plurais acabou. Agora vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias.
O único valor que considero revolucionário é a bondade, que é a única coisa que conta.
Utopia é uma coisa que não se sabe onde está, nem quando virá nem como se chegará a ela. A utopia é como a linha do horizonte: sabemos que, embora a persigamos, nunca chegaremos a ela, pois a cada passo ela se distancia mais, colocando-se fora, não do alcance dos olhos, mas do nosso alcance.
Não há nenhum caminho tranquilizador à nossa espera. Se o queremos, teremos de construí-lo com as nossas mãos.
Incutiu-se em nossas mentes essa nova ideia segundo a qual, se você não consome, você não é nada. E é tão mais quanto mais for capaz de consumir. Se o ser humano vê a si mesmo como um consumidor, todas as suas capacidades diminuem, pois todas serão colocadas a serviço de uma possibilidade cada vez maior de consumir.
Nada está definitivamente perdido, as vitórias se parecem muito com as derrotas, no sentido de que nem umas nem outras são definitivas.
...dando-se importância, como se estivessem destinadas a grandes coisas, e, vai-se ver, não eram mais que uma brisa leve que não conseguiria mover uma vela de moinho, outras, das comuns, das habituais, das de todos os dias, viriam a ter, afinal, conseqüências que ninguém se atreveria a prever, não tinham nascido para isso, e contudo abalaram o mundo.
(Caim)