Poemas de Jaak Bosmans
Onde planto
Percorro caminhos de incertezas
Sempre plantando alimentos de paz
Não por acreditar que as armas não me atinjam
Com cada gota de sangue posso regar uma semente
Corro por campos azulados onde nada me detém
Nem mesmo a fúria dos monstros apocalípticos
Deslizo suave sobre as tentativas de me ferirem
Porque em cada nova paisagem encontro minh’alma
Ela nunca se perde e me conduz para um abraço
Um carinho, uma ternura, um sempre transparente
Gosto de toda essa vida,
Onde cada cicatriz é sempre uma bela melodia
Um poema, e teu retrato!
Jaak Bosmans 19-06-2008
Shangrilá!
Como reflexo apenas completo o complexo de sempre ser incompleto.
Não busco mariscos entre as algas que me despenteiam!
Apenas respiro fundo e me afogo cada vez mais no oceano de mil sonhos!
Te busco em qualquer mergulho mesmo no triângulo das bermudas!
Apenas porque te encontro no mais escondido e misterioso de mim!
Galgo o Everest sem frio e sem temor, porque só no alto posso te encontrar.
Ali,bem embaixo do meu corpo!
Rebusco novas trilhas e caminhos e relembro horizontes perdidos.
Arremesso minhas mãos sobre as plumas brancas da neve.
E num grito de mil e um ecos escuto a resposta de nossa aventura!
Aqui é Shangrilá!
Jaak Bosmans
A Verdadeira Cor da Paz
Até que enfim o azul.
Do mar ou do céu, não importa.
É o azul da paz, que enganosamente
dizem que é branca.
Não há mais como recuar do disparo,
já alcançando os nossos corações,
na plenitude do azul.
Deformação Cósmica
De tudo que resta em espaços,
Um profundo e raso poço de saudades
faz-se alvo para tantas amarguras.
Tenho só estrelas como testemunhas.
Quebrei todos os cantos e perfurei apenas os vazios.
Luas douradas me enchem de sorrisos.
Estrelas decadentes de um céu, apenas como cenário,
que se desmancha e retorna ao encanto quebrado.
Te vejo dançante entre nebulosas mas teu vestido é de pedra
Me estreito na doçura que tinhas, e como amargo te sinto agora
Deixastes rastos perfumados, apenas como rastos
Mas todo o infinito se finda e como passagem
são apenas galáxias de vaidades vãs.
Jaak Bosmans
Traição e recortes
Em senhas perdidas pelo guerreiro
Pelas palavras doces e beijos cruéis
Cavei com minhas mãos
Meu maior e mais dolorido cristal
Eram recortes em paisagens
Tropeços e quedas nas areias escaldantes
Não como em filmes épicos ou marginais
Mas em verdades que variavam entre a criatura
E seu cristal quebrado!
Simples engano!
Jaak Bosmans
Harpas
De tudo que conheço
Nada mais puro e íngreme que a altura de tua alma
Nada mais esquivo que as lembranças que não se fizeram
Perguntaria apenas se me existo.
Na noite das grandes luas
Tenho como companhia o uivar de cores berrantes
E as chamadas pastéis, não me satisfazem a fome
Ouço mais suave a cor de tua alegria.
De tudo que reconheço
Ainda me falta o ar puro do seu arfar
ao tocar leve as cordas de uma harpa eólica.
Ventos uivantes!
Caminho sempre em círculos
Evitando ângulos que possam distorcer minha visão.
Antes certo de ser o centro de algum alvo.
Tudo,porque tudo desconheço!
Jaak Bosmans 7-5-2008
Me dê esse momento
Deus, Deus,
Quando a morte me roubar a luz
Me dê num momento
o que perdi em anos.
Que eu saiba morrer,
porque viver não soube...
Jaak Bosmans
Cartas na mesa
Aquela carta escondida
Estava marcada de esperas
Num embaralhar constante das vidas,
Passaram reis, passaram rainhas,
Damas e valetes se divertiam.
Duelos de ases, valiam ouro.
Espadas perfuravam todos os sonhos
Paus já não valiam como esperança
A menor delas foi a que faltou
Apenas um dois...
Um par de corações.
Jaak Bosmans
Interrupção
Usei de todas as artimanhas para te alcançar
Manhas que passavam despercebidas
Arte de me esconder com palavras.
Cores jogadas ao léu de algumas telas
Fotos que nunca apareciam em foco.
Onde o foco sempre se desviava
Palmeiras pra que?
Mares, montanhas, e matas eram apenas sombras
Sons nevados, sem compasso, sem harmonia
Nem mesmo uma melodia!
Corri para o lado onde a escuridão era maior!
Só lá te encontrei como luz,
mesmo que apagada!
Jaak Bosmans 23 -06 -08
Vazios
Em todas as cartas que me lembro, escrevi apenas vazios de você.
Nos poemas estão claros os espaços brancos,vazios de você.
Foram poucas as crônicas que cometi,
e em todas elas está a presença inevitável dos vazios de você.
Ainda assim, tentarei agora um romance.
Cheio de nós dois.
Jaak Bosmans
Retorno
Estranho sentimento esse de voltar!
De algum lugar que fui e não me lembro.
Mas jamais vou esquecer!
Um lugar de colocar perdas,
De trocar abraços, ternuras e olhares
Espaço apertado de amarguras,
Sem tempo para desencontros
Paisagens velhas relembradas no coração
Lugar de onde voltei!
Onde o tempo não tem tempo,
Espaço para sonhar brincando
Lugar de nada se ter, de nada ser.
Apenas estar.
Mas voltei!
Faltava o seu nada ter
Seu nada ser
Nosso estar.
Jaak Bosmans
Ladeira
Nascia, enumerado pelos seus dentes,
Os primeiros raios de sol.
Às vezes corro pelos campos,
procurando regularmente a visita intolerável de bailarinas.
O atraso do trem causa-me distorções no abdômen.
Minhas conquistas nunca se limitam no mais vulgar
e a parte final é sempre tomada de grandes sóis.
Giro sobre o tornozelo, muitas vezes quebrado pelo amanhecer
e percorro com o olhar a janela branca, o ponteiro.
Nosso sorriso não é permitido.
Um pôr-do-sol nos confunde com a ladeira.
A subida é cansativa “sozinho”.
Um automóvel, nossos encontros.
Minha alegria foi te imaginar como silhueta.
Entrei neste instante no oceano profundo de meu vazio.
Agora é preciso descansar,
virar para o outro lado e esperar.
Jaak Bosmans
Teorema do Tempo
No princípio era apenas um sonho.
Tive rainha, príncipe e princesa.
Pura emoção da emoção mais pura.
E o tempo passava fácil.
Sem medos, inimigos ou armas.
No princípio era apenas um sonho.
Mas a realeza se tornou realidade.
E mostrou que nunca fui rei.
Porque hoje é meu aniversário.
E o tempo, o meu maior adversário.
Jaak Bosmans
Amor sem passado sem futuro
No caminhar sobre o resto das lembranças
Percebo perdidos pedaços que já esqueci
Foi a força de toda uma história de paixão
Terminada no início de um amor que nunca tive
Me perdia no sentido vago de algumas alegrias
Que me sorria à noite, me acordando em lágrimas.
Era um tempo presente, pretérito do não saber.
Me conjugando na primeira pessoa, singular e inexplorável.
A ela pertencendo lugar fixo na segunda do mais que perfeito.
Assim me desfiz no desejo de conjugações.
Onde apenas a primeira pessoa deve ser sempre plural
Pertencendo ao mágico mistério do amor.
O nós que se faz um!
Jaak Bosmans
Dor menor
Minha poesia é toda sua
Permissiva e sem conceito
Se gera angústia, me pertence
Sonhos traduzidos, revelados e desfeitos
Alma apedrejada, mas sorrindo de tanta dor.
Confundo as emoções, quando dilacera todos os enganos.
Porque sempre se torna despedida da realidade,
Brilhando em fantasias!
Jaak Bosmans
Assim ...
Hoje tenho muito pra te falar!
Descortinar!
Explicar!
Combinar!
Perguntar!
Tudo feito
Com todo o silêncio!
Jaak Bosmans
Entardecer de sonhos
No entardecer de meus sonhos, encontrei-te
Escondida entre nuvens e canções,
Dormias sobre plumas, flores e cores
Beijavam-te borboletas e colibris.
Acheguei-me a teu arfar.
Roubar-te um só beijo!
Não!
Apenas retratei teu semblante em pinturas mágicas
Me contive!
Agora, guardo comigo seu retrato,
nas asas de cada borboleta.
E seu beijo parado no ar,
nas multicores de cada beija-flor!
Jaak Bosmans
Metamorfose
De todas as coisas que já não me tenho e já não me sou
Preservo sempre o substancial motivo de apenas estar
E num suspiro reverter nosso futuro no último bater do coração
Me retratando assim apenas em metamorfose!
Jaak Bosmans 01-08-08