Poemas sobre Guerra
Peço ajuda aos céus ,
que nunca fez distinção
e peço pela União
Será que não perceberam ainda
que Deus não está em meio a guerras?
Ele esta acima de tudo isso,
tentando mostrar a cada um
que o sofrimento
só traz dor e lamento
à quem vive o rancor.
Lembrete
A natureza chora, chora, chora
Eu choro,choro,choro
Estou englobado na natureza...
A natureza revolta. revolta, revolta
Eu revolto,revolto,revolto
Estou englobado na natureza...
A natureza multiplica,multiplica,multiplica
Eu multiplico,multiplico,multiplico
Estou englogabo na natureza
Quando a natureza morre
Também morro...
Quando a natureza nasce
Também renasço
Estou englobado na natureza...
A natureza é plural
Também sou...
Sou PORTES...
Lembre-se a natureza é linear
É finata porque o homem está nela
Não deixe a naturza morrer
Culde da natureza
Hoje é dia da árvore...
MARIAS DESTEMIDAS
Os ideais políticos ou o medo
Tornaram camponeses lapeanos
Em "pica-paus" republicanos
Menor número. Sangrento enredo
- Fuja, e leve sua criança!
Bradou às mulheres o General.
Elas ficaram. Rebelião geral
Dariam aos homens esperança
E assim, seguiu firme Maria
Com outras, permaneceu no fronte...
Mortos? Nas ruas, viam "de monte".
Unidas, mostraram sua valia
Nesta batalha, eram guerreiras
Alimentavam e curavam soldados:
Seus filhos, maridos, amados...
Ela, Maria, e suas companheiras
As moças trouxeram o enxoval
Lençóis, toalhas e os vestidos
Era necessário, para os feridos
O véu branco, cobriu o General
"Só 72 horas!", mas resistiram 26 dias
Final do cerco: elas recolheram corpos
Filhos, maridos, amados: jaziam mortos
História não contada nas biografias.
São merecedoras desta homenagem
As heroínas do Cerco da Lapa
Relevantes figuras nesta etapa
Lutaram com fibra e coragem
Fostes o Iluminismo em minha vida
Um grande Renascimento
Que me fez ressurgir de forma revolucionária
Fostes como uma guilhotina em meu coração
E sendo assim...
Dominastes uma grande área
Tu te tornastes uma guerra que de Fria não posso chamar
Amar-te ou não te amar?
Em meio a todos esses acontecimentos
Optei pelo teu amor
Sem fronteiras ou divisas
Que para mim
Eterna ditadura
Então partistes em vastos mares
Deixando-me em salgadas lágrimas
Esquecer-te é preciso
Amar-te não
Mas se te amar foi meu sofrimento
A saudade se faz minha aliada
Estou armando uma Segunda Guerra
Vai ser a queda da Bastilha
Posso ter perdido a batalha
Mas não perderei nossa Guerra.
Quem sabe eu ainda nem sei quem sou
Esperando um momento certo de acordar e não ter medo
de mais nada, correr o risco de me perder
nessa estrada,
viajar sem sono de madrugada.
Colar sua foto no meu coração
Ganhar a gerra com minha espada
Matando dentro de min um dragão!
Jovens cada vez mais apostam menos no amor
Flores não nascem sem cor
Espero que um dia me fale quem sou.
Poema ao Imigrante.
Muita fome e desemprego nos assola.
Nossa pátria está por acabar.
Malas,sonhos,esperança vamos embora.
A Primeira Guerra a iniciar.
Rapidamente a maioria deseja imigrar.
Deixando sofrimento e dificuldades.
O desejo é de não mais voltar.
Viagem longa,epidemia e alegria.
Frio na barriga, medo do desconhecido.
Terra a vista, sorriso nos rostos euforia.
Vida nova alívio, lugares divinos.
Promessa,trabalho e engano.
Trabalho no campo, e onde quer que estejamos.
Belas cidades começamos a construir.
Bravos guerreiros determinados vieram a surgir,
quando a adversidade passou a perseguir.
Hoje temos orgulho de sermos seus descendentes.
Imigrantes vocês foram valentes...
Registramos nosso carinho e amor.
E agradecemos quem os guiou, nosso Senhor.
FANTOCHES
Eu quero espaço
Senão o faço;
Traço,
Me amasso e passo!
É preciso espaço hoje e amanhã,
É preciso o jardim na praça.
E ruas com “flamboyant”.
É preciso gente com raça
Que abraça,
Que traça,
Que enlaça.
Quero espaço vital
Sem limite, sem fronteira,
Sem muro, sem porteira,
E com um vasto quintal.
Quero sair da algema,
Enfrentar o problema,
Ter a consciência limpa ao dormir,
Encarar qualquer drama.
Quero espaço na vida
Sem olhos a me seguir,
Andando a pé na avenida
Com direção de ir e vir.
Quero escrever um livro
Encucando o poder e o povo,
E se cortarem no crivo
Quero começar de novo.
Quero ativar os pés
Do peregrino cansado,
Fazê-lo ter fé novamente,
Para atender todo chamado.
Quero espaço pra acordar
A consciência que dorme,
Pôr as trombetas a tocar
Para que não se conforme.
Quero olhos e ouvidos abertos
- Um microfone com bom som –
E que a massa chegue bem perto
Para o brado de libertação.
Quero espaço para a odisseia,
Esclarecimentos pelo ar.
Humilhante não é mudar de ideia,
Humilhante é não ter idéias para mudar!
Invocação
(a uma filha morta)
Ontem a minha dor foi tão grande
como um terramoto
que vertiginosamente correu
para dentro da loucura.
Foi da espessura da morte!
As árvores podem correr
para mim de braços abertos
as rosas do campo sorrir,
que os lírios choram por dentro de mim
às portas da sepultura
onde te foram a enterrar.
À tua chegada
transformaram-se os céus noturnos
em nítidos céus
e chama
e calor
e luz,
quando tu os abriste
com ígnea chave em tua mão
tão franzina.
Interrompeu-se o olhar
sobre a terra
que te cobriu.
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Rebenta a manhã como um punhal
de gritos
na caserna
O arame farpado
que serve de paredes frágeis a este quartel
improvisado
foi cortado durante a noite
Há marcas evidentes do inimigo
e da sua passagem traiçoeira
por aqui
Estremece o sangue nas veias
a raiva corta os pulsos
e o medo apodera-se de todos nós
Não há heróis,
existe apenas
a cruz de guerra entregue ao pai
ou ao filho que o pai não conheceu
e a memória sentida
escrita no mármore da sepultura
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
O comboio levou-me para o leste em direção à fronteira com a Zâmbia. Eram nove e quinze da manhã, daquele dia chuvoso de dezembro de 71. Dia 12. Exatamente como imaginava!
Apenas viajámos de dia. À noite, pernoitámos em Silva Porto. A partir daqui e até ao Luso, à frente da máquina que puxava as carruagens, ia outra a servir de rebenta minas.
E os meus poemas começaram a nascer… sobre o joelho, onde apoiava o papel, escrevia:
“Espera-me.
Até quando não sei dizer-te,
mas afianço-te
com fé
que voltarei!
Espera-me nas tuas manhãs vazias
nas minhas tardes longas
nas nossas noites frias
e não escondas de mim essa lágrima
teimosa
onde está escrito
“não te vejo nunca mais”
Não esqueças o que fomos ontem
se o amanhã não existir
ou não voltar,
recorda o hoje
permanentemente
mesmo que não haja cartas
que nos possam recordar.
Nova Lisboa, Angola, 12 de dezembro de 1971
- para uma comissão de 14 meses no Leste de Angola, C. Caç. 205 (Cacolo), integrada no Batalhão de Caçadores 2911 (Henrique de Carvalho)
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Todos recebiam cartas
e discos pedidos
ao domingo
no Rádio Clube de Huambo
a mais de mil e duzentos quilómetros…
era a emissora que mais se ouvia
Só ele,
porque exatamente ele era só
e de longe
(talvez de lugar nenhum),
o furriel Abreu Gomes
nem uma letra vertida em magra folha de papel
Vingava-se da solidão no cigarro
que um após outro fumava
Enrolava-os com perícia tal
no fino papel de mortalha,
dois a dois de cada vez,
como se ali depositasse os fios da vida
que queimava,
como se estivesse a fechar para sempre
as abas do seu caixão
Aquele livro de mortalhas
e a cinza do cigarro queimado
que lhe morria pendurado na boca,
tinha a brevidade da vida
que ali se vivia a cada hora que passava
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Olhei-me em cima da berliet
com o coração tolhido de medo
Aqui não há heróis…
até os mais audazes na vitória
sentem medo
As mãos vazias
seguram com firmeza
estranha
a espingarda G3
que me deram para matar,
a única companheira segura
de todos os dias e noites
As nuvens de sangue ao longo da picada
abreviam a morte
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Terra de medo
e de dor
e de sonho também…
Lá fora o vento que zumbe
e uiva
e fustiga ameaçador e célere passa…
o vento a quem tudo pergunto
e nada me diz
O vento que volve e revolve
e varre
as folhas secas das mangueiras
plantadas no terreiro
que serve ao quartel de parada
O vento que zumbe e uiva
tresloucado
no negrume da noite que dói e mata
O vento que fustiga e passa
as frágeis paredes da vida
dentro do arame farpado
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
À volta de mim, o terror e a morte…
olhares de medo
fixos na imensidão do vácuo
interrogam-se mudos
inquietos…
dolorosamente pensam na razão
de tal sofrer
Mas não choram porque o pranto
se esgotou há muito
neste inquieto viver
Ah! Se eu soubesse ao menos rezar…
Rezava por ti
ó homem verme, tirano e sádico
que por prazer destróis;
Rezava por ti
ó governante ganancioso e brutal
que o mais fraco aniquilas;
Rezava por ti
ó deus, que já nem sei se existes,
pela geração que criaste
e abandonaste
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Desperto…
minhas mãos frias
crispam os dedos inertes
no gatilho da espingarda
Debaixo de mira
numa linha reta que dificilmente erro,
o alvo
Um corpo negro,
meio nu…
Apenas o cobrem os restos daquilo que foi
um camuflado zambiano
Veste no rosto,
encimado por um chapéu também camuflado,
a raiva
Para ele nós somos o invasor,
o inimigo a abater que importa liquidar
ainda que connosco tenha aprendido
rimas de civilização
Nós somos o invasor que (ele) quer
expulsar
destruir
aniquilar
E ele, para mim, o inimigo de ontem
será o amigo de amanhã
a quem hei-de abraçar
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Há corpos espalhados pelo chão
à minha frente
Nos seus rostos lívidos
cor de cera
morreu a esperança com a chegada da morte
no frio gume da catana
Jazem à sombra das mangueiras…
a morte passou por ali
Corpos decepados
esventrados
violentados
num rio de sangue pelo chão…
Ali apenas as varejeiras têm vida e voz
no zunido e na cegueira de beber
Sugam famintas de sede
o sangue ainda quente dos cadáveres
Zunem de sofreguidão na disputa
do sangue vertido
dos corpos esquartejados
pelos golpes das catanas
Para lá da orla da mata ainda o eco
dos gritos de vitória e os risos satânicos
de alegria e morte no ar
numa mistura de feitiço e de liamba
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Perdi os poemas ébrios
de ritmo
feitos ao sol da manhã
Esse tantã longínquo que me acordava
manhã cedinho
antes de subir na minha bicicleta
reduzida ao mínimo para pedalar até ao liceu,
acordava-me como uma loa,
cântico virginal
puro…
ou como um ritmo escondido
no regaço da mais linda mulata
da sanzala
Um poema ébrio de ritmo
órfico
em dionisíaca celebração
um cântico mestiço
místico
pagão
negro soneto espúrio
de um povo híbrido de muitos deuses
e de mais irmãos ainda…
Hoje o meu poema já não é ébrio
de ritmo
nem o som do tantã tem o sol puro
erguido pela manhã
cedinho
O meu poema é de sangue
e dor
lavrado pelo frenesim dos tiros
O tantã que me acordava
manhã cedinho
e trazia no som o ritmo
dos beijos,
hoje
já não me acorda deste sono
que não durmo
sobressaltado
O tantã traz agora na sua voz longínqua
o som próximo
da metralha
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
No ar, o medo e o silêncio sepulcral
a invadir
os primeiros raios da manhã
Corações sobressaltados
em prece e oração…
muitos sem saberem sequer rezar
No trilho traiçoeiro
espreitava a morte a cada passo
que se desse em falso
na picada
Sem perder de vista o combatente
à nossa frente
perscrutávamos, no lusco fusco do alvorecer,
as sombras que se dissipavam
por entre as silhuetas das bissapas
Nas mãos doridas,
por matar,
o peso da G3 engatilhada
dos soldados
De repente o grito e a dor
pelo estrondo e pela morte trazida
no estilhado e no sopro da granada
As lágrimas morriam afogadas
pela raiva e ódio surdo
nos corpos amputados
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Entre os teus lábios
entreabertos
inchados pela morte
e gretados pelo calor que te calcinava
os ossos desfeitos
ainda antes de morreres,
passeava-se uma mosca varejeira
ufana de sua propriedade encontrada
No ar
adivinhava-se o som das palavras
que não chegaste a proferir…
Talvez uma oração…
ou uma prece ao teu deus de ti tão distraído
a quem imploraste a ajuda sem te socorrer
Ou à mulher distante
de quem não chegaste a conhecer
o filho que lhe deixaste no ventre
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta