Poemas de Filosofia
Sobre Ser Poeta -
E como é fácil bancar o idiota.
Por mais belas que sejam as palavras.
Por mais intensas que sejam as atitudes.
Por mais sinceros que sejam os sentimentos...
É tão fácil bancar o idiota.
Felicidade -
A felicidade, ainda que superficial, é gritada, alarmada como uma espécie de qualidade superior humana.
Imagino que felicidade é, tambem, uma falta de empatia, de responsabilidade com o outro.
Assim, também é um sinal de desapego, individualismo, arrogância.
Uma mente tranquila, em paz, sim, provavelmente, seja de uma pessoa feliz.
Felicidade, então, pode ser uma falta de tristeza numa mente tranquila - sem remorso, temor ou ansiedade.
Em suma, felicidade (em se pensar como uma qualidade humana), é, portanto, algo relativo:
Um tolo e ingênuo de coração puro, normalmente, é uma pessoa feliz.
Assim como um serial killer (frio e calculista).
Consciência é todo o saber de que nos damos conta.
Mas em termos mais profundos, é o caráter que temos, manifesto para nós mesmos nas escolhas que fazemos, a partir do julgamento das informações entrelaçadas de todo o nosso banco de dados de conhecimento, quando escolhemos quais informações abraçar, e quais ignorar ou deixar em segundo plano.
Consciência é o espírito da ontologia do ser!
Quero decifrá-la pelo olhar, quero sentir vontade de sorrir pelo seu sorriso, arrepiar pelo seu prazer, se emocionar com suas lágrimas.
Quero ver a repugnância em seus olhos quando outro homem toca-lá.
Quero ver o brilho dos seus olhos quando me avistar chegando.
Quero que voe assim como um gavião e explore todos os lugares que acha que deva explorar.
Quero que sinta todos os calores e frios, cheiros e gostos que acha que deva sentir.
E se depois de tudo isso você achar que o melhor gosto é do meu beijo, que o melhor calor é dos nossos corpos juntos, que o melhor frio é o frio na barriga quando me ver e o melhor cheiro é do meu perfume, pode ter certeza que o melhor lugar que pode estar é ao meu lado.
A deusa surgiu há algum tempo.
Uma deusa que possui talvez, o maior número de adeptos do planeta.
Essa deusa faz com que seus asseclas tornem-se
submissos, alienados e pratiquem a auto-degradação,
tornem-se escravos conscientes
e percam os valores mais importantes designados ao ser humano,
perdem a essência.
O nome da deusa é TENDÊNCIA.
Às Vezes Calar-se é Dizer Mais -
Gosto desses dias em que não tenho forças para revidar maldade, mau-caratismo, podridão.
Ao contrário do que pensam os "fodões": são esses dias que me fazem mais forte, nobre, especial.
MINHA ESCOLA, MINHA RUA...
Minha escola não tem carteiras, não tem ordem,
Tem vidas em desordem,
Lousa sem escrita
Lâmpadas sem luz…
Minha escola tem livros sem leitura,
Cantina sem alimento,
Nome sem patrono,
Pintura sem cor, móveis sem aconchego…
Minha escola tem estudo sem aprendizado,
Pagela sem frequência,
Aula sem vivência,
Caderno sem linhas e pautas, mentes sem crítica…
Minha escola tem pátio sem alegria,
Banheiros sem privacidade,
Professores sem vocação,
Formatura sem diploma…
Minha escola é a rua,
É suja,
É o caos,
É fria,
É lama,
É o analfabetismo,
A escravidão,
A condenação!
CANÇÃO DO MEU CORAÇÃO
Meu coração canta teu nome
Nele ressona tua voz como a um hino
Um hino com a mais bela letra que já ouvi tocar
No meu intimo, no meu altar, só encanta-me você...
Meu coração é tua guarida, teu conforto, tua paz,
No meu coração se esconde o teu mistério,
Como em uma caverna luzida pelas estrelas
No meu intimo, no meu caminhar, só existe você...
Meu coração é chave polida da tua mais livre fantasia
No meu coração tu és sempre amada,
Como exilado te procuro, teu corpo é minha pátria!
No meu intimo és meu campo florido, meu rubi inundada em orvalho...
Meu coração onde estiver permanece fiel
No meu coração está transcrito o teu nome
Com uma bela letra em tábua de bronze a cantar o amor
No meu intimo, um gesto, uma paixão, uma canção do meu coração!
O pai disse:
- parece preguiça.
A mãe disse:
- não; ela é artista.
Logo:
Eu aqui: - artista e filósofa!
ESTE AMOR CHAMADO VOCÊ E EU!
Acordei ao seu lado, conversei com nosso TUTOR,
Pedi-te a benção,
Seguimos agendas diferentes,
Eu ansioso para o reencontro do porvir...
Chega fim da tarde, dilacera o peito,
Preciso logo te ver, te abraçar, te beijar, te amar, ser feliz!...
Quando nos encontramos, a noite já pode acordar,
Em meio à luz prateada,
Vestida de lua você me inspira cantatas, melodias de amor...
Em minhas mãos, pedra preciosa, cor de rubi,
Declarações vigentes,
Viajamos nosso amor,
Neste amor chamado VOCÊ e EU!
MINHA ALMA (PASSADO)...
Minha alma tem uma dívida comigo,
Com ELE, que assoprou em mim tudo DELE...
Minha alma é uma viagem,
Uma manifestação da humanidade em mim,
Da terra, do vaso quebrado, do caco,
É o entristecer da abóbada celeste...
Minha alma é a queda do meu firmamento,
É bidimensional, é o céu e a terra...
Minha alma busca ser feliz, apaixonar-se,
Ela é sempre adúltera decepção,
Brilho fosco sem estrelas,
Pagã, sem brisas da primavera...
Minha alma espanca minha fé,
Cobre-me com figueira, como a folha da vergonha...
Minha alma é sem sonetos,
Poema atulhado de amargura,
Expoente ferida escorrendo,
Choro sufocado, língua trêmula...
Minha alma é do tamanho do mundo,
Sou eu, é a algema de tudo...
MINHA ALMA (PRESENTE)...
Minha alma recusava-se consolar-se,
Eu gritava: sou eu minha alma, sou eu...
Minha alma foi ouvida, foi tocada, foi amada,
Um líquido sagrado a afogou em ESPERANÇA...
Minha alma agora faz juras de amor,
Juras pelo DOADOR, AQUELE que me trouxe destino indubitável...
Minha alma engravidou de ESPERANÇA,
Há de sonhar sempre, mesmo no nevoeiro de medo, na ironia...
Minha alma antes tinha o tamanho do mundo,
Hoje tem tamanha fé de um grão de mostarda, de um oceano...
Minha alma tinha a pintura das cinzas,
Sem serviços para ELE, o EXEMPLO da criação dos dias...
Minha alma não tem mais vazio, não é oca, nem abismo,
É taça transbordando de sangue na CRUZ, é imortalidade...
Minha alma hoje é palpável, tem porção, físico e moral,
Mesmo imperfeita, encontrou a ELE, AMANTE de minha alma...
Minha alma era dramas e conflitos,
Hoje inverna estação de vida em mim...
Minha alma sobe a escadaria da felicidade,
Vive o alento, a vigilância dos querubins...
Minha alma vive o lazer, NELE me faz repousar,
Navegar no mar lindo de sentimentos...
Minha alma agora tem coragem, consegue confessar,
No confessionário DAQUELE que é o ÚNICO ontem, hoje e amanhã...
Minha alma ler o Livro dos livros, mensagem amplificada,
Ao cascavilhá-la encontra tesouros divinos...
Minha alma hoje vive TEU Reino, TUA existência,
É o EU SOU em mim, que quer ser o EU SOU em você!
DESASSOSSEGADO
Desassossegado?
Como explicar esse desassossego?
Esse pragmatismo da minha condição humana?
Desse absurdo?
Por vezes não sou eu
Sem raciocínio, sem personalidade
Uma autobiografia sem fatos, mutilada
Sem afetividade, sem prosa…
Fragmentos da minha dramaticidade
Vida de jogos, de máscaras
Uma existência inviável, inútil, imperfeita,
É tudo tédio, trágico, indiferente
São investigações íntimas
Sensações provocadas pelo anonimato,
Pela cotidianidade de subvida
Universo que interessa somente ao desassossegado…
FUGIR!
É impossível fugir, fugir de mim, fugir do ego
Fugir da realidade de sempre ser eu
De ser imperfeito, desassossegado, utópico
Fugir sem uma causa, fugir com remorsos
E ao fugir, ser encurralado pelas emoções (re) vividas…
Fugir instintivamente do perigo de ser eu
Fugir sem coração, só adrenalina
Fugir sem virar de costas, sem firmeza nos joelhos
Fugir só pensando em sobreviver
Não adianta fugir, não adianta reagir
E no flagrante da fuga, que,
Dói descobrir que o fugitivo sempre sou eu...
CHOVE LÁ FORA, MAS HÁ DE CESSAR...
Chove lá fora, vejo a vidraça chorar,
Como meu coração também se molha de aflição,
Chove lá fora, a chuva mansa, água incessante,
Como é também a tristeza que me vence...
Chove lá fora, meu coração é árido,
Como um campo rachado, angústia sem remédio,
Chove lá fora, se molham as flores,
Molham-se nesta água mágica e incolor...
Chove lá fora, a janela revela pessoas apressadas,
Como lhes vai à alma? Como a minha?
Talvez seca, talvez molhada,
Em busca da liberdade, das cores do arco-íris...
Chove lá fora, a chuva nem me deixa ao menos adormecer,
Nem mesmo me anestesiar dentro dessa melancolia,
Chove lá fora, eu sem sono, sem travesseiro,
Somente introspectivo, envenenado, tenso...
Chove lá fora, não consigo fazer um verso,
Cantar, fantasiar ao menos um amor singelo,
Chove lá fora, água persistente, contínua,
Faz-me apenas conversar comigo...
Cessa a chuva lá fora, vejo a esperança renascer,
Nascendo junto com o céu anil, para me reconduzir,
Cessa a chuva lá fora, vem também o vento, vem o sol,
Como amiga e companheira, reluzindo a dourada justiça,
Sedando-me, me fazendo dormir...
TUA MÁGOA, MINHA MÁGOA, NOSSA DOR...
Nossas palavras desarranjadas,
Defesas munidas de egoismo,
Irriga tua alma já ultrajada,
Suprimindo o amor e regando a extrema dor...
Gritaste, o meu coração magoara,
Dissimulaste, o meu coração enganara ,
Caluniaste, o meu coração revoltara,
Impregnaste a nódoa de mágoa em minha alma...
Gritei, do teu coração o choro arranquei,
Dissimulei, teu coração trincou,
Caluniei, teu coração decepcionou,
Imprimi a nódoa de mágoa em tua alma...
Na mágoa só resta a aflição,
A busca de si em labirintos,
A perda, o afogamento em lágrimas,
O apagar da chama, da paixão, do amor...
A mágoa grita: não volta, não volta,
Vem dor, vem tormento,
Rouba a paz, roupa o encanto,
Traz o ser humano, traz os amantes para a cova, a solidão...
Com a mágoa se perde a crença,
Se abre a chaga, a podridão,
Faz o corpo inerme, sem satisfação,
Os amantes voltam a serem vermes, serem criaturas...
A mágoa macula a existência,
Traz dicotomia e desgosto,
Pesar e ressentimento, plena degradação,
Semblante de defeito, cheiro de ferida...
Com a mágoa meu amor pra ti é canção velha,
Nossos lençóis não exalam mais nosso cheiro,
Sem fascinação e encanto tu me olhas,
Perdão por te amar...
Não tome o veneno da mágoa,
Raiz do ressentimento,
Deixe em paz meu coração, me encontre em seu perdão,
Tua mágoa, minha mágoa, nossa dor, intolerâncias...
Náufrago
Perdido, desperta desalentado,
Com o corpo aspergido da água, salgado do mar
A areia conglutinada na face e nas partes nuas do corpo
Em meio à angústia proporcionada pela cena,
Vagarosamente coloca-se de pé,
Na busca da compreensão do que fazia ali.
Olha o entorno e vê uma ilha
coberta de vegetação mista, com árvores enormes e verdes
exala o perfume das flores: gardênias, jasmins, lavandas, cravos...
Sobressai-se o cheiro inconfundível de mel das álisso...
O silêncio ruidoso de sua mente é quebrado pelo canto dos pássaros: pintassilgos, canários, corrupiões, azulões e corruíras - uma mágica sinfonia.
O céu azul, cintilante, reflete nas águas mansas
Sente uma leve brisa...
Um náufrago, confuso, à procura de uma saída.
Mesmo que sua alma sinta a doçura do lugar,
Como desvendar o mistério e partir?
O que era eu? Pergunta-se
E o que é essa saudade de alguém, de qualquer coisa que angustia?
Busca explicações, mas só encontra um vácuo dentro de si:
Uma ilha cheia, mas ninguém para lhe fazer companhia.
Como aquela, existem outras ilhas desconhecidas,
Construídas por mãos divinas...
Vê seu reflexo nas águas...em seus olhos uma dolorosa instabilidade, sem sentido.
A brisa é fresca, monta uma fogueira
Nela coloca as impurezas da ilha,
Aqueles gravetos, as lascas sem razão.
Espera encontrar alguém, embora ainda não saiba quem...
Sentado imóvel, olhando na direção do horizonte,
Ouvindo os pássaros, sentindo o perfume das flores,
ainda sente como estivesse naquela ilha cheia de vida,
Que embora tão real dentro de si,
é um tesouro abstrato da sua imaginação.