Poemas de Filosofia
A Vida, O Tempo e A Sorte -
A vida
nos apresenta pessoas.
O Tempo
nos reapresenta.
E sorte
é descobrir que valeu a pena
o encontro e o reencontro
num
daqui pra frente juntos.
Sempre.
Por Essência e Ofício -
Talvez,
com sorte,
pode ser que hoje
(em palavras, em poesia),
eu seja o sentido,
o desabafo,
o norte para alguém.
Ainda que,
por essência e ofício,
eu não consiga aliviar-me
desse peso de pensar
e existir uma vez
(só).
É Assim -
É pela lágrima que não cai
(presa como um grito mudo
na garganta).
É por todas as outras
que encharcaram o travesseiro.
É assim...
É de coração partido mesmo
que a vida precisa continuar.
Desordem -
Tenho medo
dessa desordem compulsiva
de pensamentos.
Se interno-os,
me sufocam.
Se externo-os,
me revelam.
De todo modo,
matam-me:
vivo.
(In)Consciência -
Minha vida
é uma bagunça organizada:
Sei onde está tudo,
absolutamente, tudo que necessito
e que não preciso.
Mas nunca sei o que fazer
disso.
Deixa Ir -
Chega uma hora
que é preciso soltar a mão
e virar as costas.
Voltar-se pra si
e seguir...
só.
Se assim for.
A Arte Como Acolhimento -
A Arte
(de uma maneira
abrangente),
é,
antes de tudo
(inclusive de expressão): acolhimento.
É uma espécie de lar
onde nos abrigamos,
nos alimentamos,
nos fortalecemos e,
só então,
nos expressamos.
Um Poema -
A frase que nenhum poeta
ousou escrever é que:
ninguém escapa sem poesia.
E que essa minha inicial
(um tanto quanto pretensiosa
e,
em parte,
equivocada),
é só um artifício poético
para se começar um poema
que (se não protege
o poeta),
sempre acolhe alguém.
Sempre.
A Rua e O Encontro -
Não era (em
carne),
eu nem você.
Estávamos
em nossas respectivas
casas.
Aquela rua,
naquele instante,
presenciou um encontro
de almas,
voltando à sua morada
interna - doce fortaleza.
Consciência n°01 -
Sou sempre
o primeiro a me condenar
ou me absolver (ainda que,
instintivamente,
esteja quase sempre
a meu favor).
Afinal,
somente cada um sabe,
exatamente,
o que pensa e o que faz
entre
o despertar e o adormecer.
O resto é sonho.
(Mal)ditas -
As declarações de amor
são lindas.
Mas há
dois tipos que me incomodam
profundamente:
As falsas e as póstumas.
Pobres Corações -
Já vi
lindos corações apaixonados
serem esmagados
por coisas fúteis,
insignificantes como:
orgulho e vaidade.
Isso,
num patético jogo de desinteresse.
Pobres corações arruinados:
reduziram-se a meros órgãos
frios.
Meu Único Compromisso -
Meu único compromisso,
verdadeiramente,
é com a poesia:
da arte, dos relacionamentos,
das coisas da vida.
O resto é do acaso.
Dias de Poesia -
Prefiro os dias de poesia
a estes de “fúria protetora”.
Ainda que,
por entrega,
quase sempre, me sinta
mais vulnerável à tristeza.
Dezembro -
E muda-se o mês:
muda-se o sentido.
O ar parece mais leve,
a brisa mais calma,
a vida mais rara:
breve.
Logo,
refletimos mais,
sonhamos mais,
nos olhamos nos olhos - nos voltamos para dentro:
enxergamos a alma.
Tudo agora faz mais sentido:
é o fim...
para um novo recomeço.
Por sorte, obrigado!
Sorte -
Sorte mesmo
é ter alguém que sempre percebe
seus traços de medo
e sussurros de dor, e te acolhe
antes do desespero.
Enquanto todos os outros
se fingem de cegos,
surdos e mudos.
Meu Amor Primeiro -
Tu carregas mais que meu sangue
e meu nome:
Carregas minha verdade primeira,
absoluta.
Dono do meu primeiro
e último pensamento
diário.
Dono do maior dos meus cuidados.
Dono de tudo que me habita,
porque me habitas mais que tudo.
Tu és o meu norte no mundo;
a sorte que acho que não tenho;
minhas dimensões
e sentidos (vitais).
Meu orgulho maior,
minha admiração primeira.
Depois de ti,
antes de ser
(seja lá o que for,
como for),
sou primeiro teu.
Teu nome - nobre,
íntimo e infinito -
és a síntese do amor maior
(lúcido, sonhador e verdadeiro).
Não foste o meu primeiro amor.
Mas és o Meu Amor Primeiro.
Manequim -
É tanta gente feia
ostentando belos corpos
- fugazes e passageiros.
Logo,
faltará o que se exibir.
E só então,
ficará,
verdadeiramente,
à mostra.