Poemas de Filosofia
DÉCIMO QUARTO HEXÁSTICO
o discurso e a modernitude
túnicas de líquidas almas
escarros de um mesmo beijo
adubam todas mentes dóceis
sombras eternas do humano
presas na tumba do decano
De onde vem a calma, o desejo, o pensamento?
Vêm de lugar nenhum, apenas aparecem, sendo convidados ou não.
Somos lançados na vida sendo forçados a acreditar que tudo depende de nossa vontade, do nosso (bem) querer para que a vida flua, para que o propósito se encaminhe.
Grande engano.
A vida já acontece, como o vai e vem das marés.
Tudo está conectado, tudo já existe, nenhum átomo novo poderá ser criado. O que é criado e modificado é somente a sua forma (física).
A vida é um eterno testemunhar das belezas do Universo. Achar que somos algo além disso, é cair nos jogos (de ilusão) do ego.
Embora a divindade nos habite, não somos Deuses (ainda).
Ainda há muito o que testemunhar e desapegar para nos tornarmos um com o todo.
E a ponte, a escada, a cola, o pulsar da vida que conecta o mundo dos homens ao mundo do(s) Deus(es) é somente o amor, sendo o primeiro e mais desafiador degrau o auto-amor.
Na frase "Amai ao próximo como a ti mesmo" já está subentendido que o amor próprio já deve estar estabelecido em seu ser antes de querer abraçar o mundo.
Nunca desista de caminhar em direção a esse amor divino que permite humanos se tornarem constelações. Desapegue-se de pretenções do ego, do controle. Seja apenas uma testemunha do seu trilhar que logo reconhecerá os padrões energéticos que regem a existência, e quem sabe, a moradia da calma, do desejo e do pensamento.
FÔLEGO DE LÁGRIMAS
"Ruas enlatadas em sonhos de valsa, baila a noite no dia que se acaba. O céu se quebrou em cacos de chuvas, quem diria, o Senhor Deus fez nascer flores nas feridas! Nas plumas dos anos, me apego no balanço, logo no colo da paz, em meu lance te lanço. A conjugação conjugou minha ação, e no cabeçalho da dor, um alívio no meu topo brotou. Quero remar! Não só quero remar! [...] Quero, na verdade, nocautear os meus erros, com os levantes dos acertos. Quero navegar na esperança, mesmo quando minhas lágrimas forem meu único ar".
Gleydson Sampaio das Neves
Belo Horizonte, Março, 2019.
DÉCIMO QUINTO HEXÁSTICO
canalhas de plantão venceram!?
‒ virtude e ética não se fazem dos seus atos ‒
dignidade só restará
quando só consciência plena
no horizonte fixar a pena
de toda liberdade eterna
DÉCIMO SEXTO HEXÁSTICO
minha boca tão assim calada
meu corpo tão assim distante
meu abraço jamais revelado
justificam minha desordem
imanência de qualquer nada
neste abstrato mundo líquido
DÉCIMO SÉTIMO HEXÁSTICO
baila com a modernidade
sem consciência quaisquer
como um anjo desgarrado
sem qualquer virtude ou ética
de toda sorte miserável
todo sujeito pós-moderno
DÉCIMO OITAVO HEXÁSTICO
homens de vidro… transparentes
andarilhos faltos… ocultos…
invisíveis todos... carentes…
estilhaçados na caverna
escravos de única pauta
que lhes oprimem e governam
A busca espiritual não é feita de respostas, mas de perguntas.
Toda caminhada nasce quando despertam questionamentos que jamais imaginamos que um dia poderíamos nos fazer.
Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Qual o propósito da minha vida? Afinal, o que é existir?
O verdadeiro despertar é feito de perguntas.
Se o que sentes por uma única pessoa faz despertar em ti um amor por toda a humanidade, então o que sentes é realmente amor.
Se o que sentes por uma pessoa te faz focar toda tua energia nesta única pessoa e esquecer até de ti mesmo, então isso não é amor:
É apego obsessivo.
DÉCIMO NONO HEXÁSTICO
transcende teu aqui e agora
conhecer faz-se necessário
muda de pele como a cobra
germina como nova espiga
nela todo milho é santo
onde todo verbo é vida
VIGÉSIMO HEXÁSTICO
todo desejo que me existe
cobre de possibilidades
toda vontade de potência
da natureza numinosa
que cria e recria criador
que me revela na ossatura
LABAREDAS
De João Batista do Lago
Minha poética ‒ chama eterna que arde! ‒
Movimento são de vívidas labaredas
Inquietas procuram todas as consciências
Seja nos casebres ou salões das nobrezas
É flecha mortífera que fere a destreza
Miserável luz de toda dominação
Capaz da subjugação sobre qualquer néscio
Incapaz de perceber sua escravidão
É bala de ouro matando a servidão
Do fiel encantado pelo vil discurso
Hóstia de fel ofertada como pão
Alimento de toda opressão miserável
Que mascara de toda vida o amargor
Encarcerando o ser na história de dor
DIAFANEIDADE
De João Batista do Lago
Essa vontade de potência rege a vida
Transmigrando almas para novas essências
Transgredindo toda a inútil moral servida
Nos banquetes de vetustas inconsciências
Essa moral enfatuada por certo é morte
Da sublime nobreza que sempre te reluz
Deseja enganar-te… quer ser litisconsorte
Oferecer-te a alcova que a tudo reduz
Foge de tão loucas e insensatas promessas
Jamais te deixará alcançar toda virtude
Roubará por certo o vigor da juventude
Corolário supremo de toda verdade
Que te premia a carne-vida desde o princípio
Alma pura retornarás se te cuidares
VIGÉSIMO PRIMEIRO HEXÁSTICO
soma do desconhecimento
alma política diabólica
anjo de guru pederasta
verme que se arrasta em palácios
“até quando, vulgo Catilina,
abusarás da consciência?”
VIGÉSIMO SEGUNDO HEXÁSTICO
o que importa a educação… o saber… a cultura?
vencedores desejam o subjugar da ideia
desejam degolar a nação sem paideia
formar a juventude sem qualquer arete
castrar a atitude da ética e da política
daí produzirão em toda nação a desvirtude
VIGÉSIMO TERCEIRO HEXÁSTICO
aprendi a fugir do externo
seara de todos meus infernos
hoje cada vez mais interno
vivo toda lucidez nobre
longe de pensamentos pobres
ilusão de ser auricobre
VIGÉSIMO QUARTO HEXÁSTICO
desejando minha passagem
para todo universal único
tento entender toda mensagem
não sou diverso do universo
tampouco o universo do eu
natureza do mesmo verso
VIGÉSIMO SEXTO HEXÁSTICO
procuras sempre só a beleza
buscas sê-la sua semelhança
sofres assim como criança
esquecestes que o uno é duplo
tem estética de duas faces
d’um lado bela d’outro feia