Poemas de Escritores Famosos

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Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações. Compreendo bem as bordadoras por mágoa e as que fazem meia porque há vida.

É uma vontade de não querer ter pensamento, um desejo de nunca ter sido nada, um desespero consciente de todas as células do corpo e da alma. É o sentimento súbito de se estar enclausurado na cela infinita. Para onde pensar em fugir, se só a cela é tudo?

E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa: uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância – irmãos siameses que não estão pegados.

Ninguém compreende o outro. Somos, como disse o poeta, ilhas no mar da vida; corre entre nós o mar que nos define e separa. Por mais que uma alma se esforce por saber o que é outra alma, não saberá senão o que lhe diga uma palavra – sombra disforme no chão do seu entendimento.

Fernando Pessoa
Livro do desassossego

Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda chuva contra um raio. Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e atos. Por mais que por mim me embrenhe, todos os atalhos do meu sonho vão dar a clareiras de angústia.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

Fernando Pessoa
Poema em Linha Reta

⁠Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são — como são para os outros.
Sinto isto.

Uma das formas de saúde é a doença. Um homem perfeito, se existisse, seria o ser mais anormal que se poderia encontrar.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Tão cansado de ter achado como de não ter achado. O fim e a soma do que somos, já o Pregador o disse: vaidade e aflição de ânimo.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

O bem é um mal necessário. Se não existisse o bem, ou a ideia dele, não conheceríamos o mal, portanto o bem é ele próprio um mal, e é necessário (para conhecer o mal): um mal necessário. Q.E.D.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Se algum dia alguém deixasse de me achar ridículo, eu entristecia ao conhecer-me, por esse sinal objectivo, em decadência mental.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

A coragem que vence o medo tem mais elementos de grandeza que aquela que o não tem. Uma começa interiormente; outra é puramente exterior. A última faz frente ao perigo; a primeira faz frente, antes de tudo, ao próprio temor dentro da sua alma.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

As ideias são prodigiosas — elas e a maneira como se associam. Num momento, descobrimos que atravessámos o mundo, e que transpusemos o infinito entre dois pensamentos.

Quem escreve para obter o supérfluo como se escrevesse para obter o necessário, escreve ainda pior do que se para obter apenas o necessário escrevesse.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Toda beleza é um sonho, ainda que exista. Porque a beleza é sempre mais do que é.

A cor das flores não é a mesma ao sol de quando uma nuvem passa ou quando entra a noite.
(Do livro Fernando Pessoa Obra Poética II, Coleção L&PM, Organização: Jane Tutikian, pág. 69.)

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"Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?".
(Poema em linha reta)

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"Assim a brisa nos ramos diz, sem o saber, uma coisa imprecisa, coisa feliz".
(Sem título: 09/05/1934)

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"Beija-nos silenciosamente na fronte. Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam senão por um diferença na alma".
(Dois excertos de ode, Álvaro de Campos)

Inserida por portalraizes

" As coisas sonhadas só têm o lado de cá… Não se lhes pode ver o outro lado… Não se pode andar à roda delas… O mal das coisas da vida é que as podemos ir olhando por todos os lados… As coisas de sonho só têm o lado que vemos… Têm amores só puros como as nossas almas."

Inserida por katiacristinaamaro