Poemas de Chuva
Eu sou calmaria, as vezes furacão.
Sou chuva serena, as vezes tempestade.
Sou brisa leve, as vezes tornado.
Sou mar calmo, as vezes revolto.
Minhas oscilações são como os fenômenos da natureza que ocorrem na maior parte das vezes sem um aviso prévio. Deixam marcas, mas sempre trazem algo de bom consigo.
Vou devorando a minha vida
É tarde de outono e eu queria tanto andar na chuva
Quando eu vejo, o sol tá no horizonte
O dia tá desfeito em mar de fantasia
Às vezes quase eu durmo
De tanto querer que o sono venha
Há tantas vidas, difícil é ter outra a ter tantos quereres
No início é ter que costumar as vistas
É como estar em um pomar
E ver que o fruto e as folhas são da mesma cor
Vou fazendo de conta que conto pitangas no ar
Outono é tarde, estou noutra estação
Outro trem vai vir, há de passar
A noite chega em mim
A noite chega e se lastima assim
A dizer que o trem que vai passar não leva ao fim da linha
Eu digo à noite que a vida é uma lista
Eu peço à vida que seja da noite esse olhar pessimista
Apago da lista esse triste desejo
De chegar nessa manhã que tem jeito de tarde
Eu só escolho querer, numa vontade que não é minha
Tarde que andava na linha, rumo à próxima estação
Eu queria era andar, andar sem rumo e nem direção
Andar na chuva
Colhendo as pitangas que flutuavam
Pitangas amarelas, iguais àquelas
Que existiram nos fundos de algum quintal da minha infância
Onde eu ia devorando a vida
Um lugar, uma estação
Um trem que passava e tinha a companhia sempre lá
De alguém que te acompanha e leva pro infinito
E apanha frutos no ar, igual ao que a gente fazia
Quando o dia era desfeito em mar de fantasia
A gente sabe e cansa de saber que esse infinito acaba
E mesmo assim desata a rir
Num riso que não tem fim.
Nem precisa acabar.
Edson Ricardo Paiva.
A chuva passou e a sombra do céu migrou para o chão
O sol está lá e eu
Vejo que o fim ensinou a lição que a vida está sempre
A ensinar
A história acabou mas sou grato pelo que vivi
Junto de ti
Embriagado.
Acordo com o gotejar da chuva lá fora
Abro meus olhos e te vejo deitada
Ao meu lado; como deve de ser
O cheiro do teu cabelo me embriaga
Teu calor me conforta, e
Tua presença me aquece
De todas as maneiras você me completa
Agora,
Acordo de veras
Não chove
Ressaca de uma noite
Com memórias curtas, e
Doses longas
Você não está ao meu lado; como deveria ser
Em mim falta algo, falta você.
O Lavar
Escrevo ainda com gotas de água na pele, resultado da breve chuva que me atingiu no caminho da padaria/verdurão até em casa.
As sensações que me invadiram nesse momento a minha adolescência tem uma memória mais vívida, porém a repentina plenitude pareceu ser a leveza necessária para ausentar o luto, a ansiedade dos últimos dias, que é o assunto desse pequeno texto.
A raridade das coisas nos coloca sem saber como processar. Dediquei minhas palavras sobre o período da quarentena e sobre perder há alguns dias atrás para um projeto literário coletivo e me faltou processar como nossa sociedade ocidental, com raras excessões culturais, não sabe lidar com perda, com morte. Prova são as inúmeras obras artísticas das diversas manifestações que se dedicam em mostrar o quanto é péssimo.
Deixar ir significa que vamos ficar e a ideia em si parece solitária demais. Não temos como hábito guardar as emoções e memórias das pessoas quando ainda estamos com elas e revisitar de tempos em tempos. De repente não é possível mais construir e vem o desespero de procurar o que ficou nos baús da mente.
Agora irei secar essa água que veio de cima, talvez não a mais limpa, mas permitiu em meio ao caos o egoísmo de dizer que me senti bem, viva para as possibilidades que buscarei construir. Obrigada pela força renovada pois a luta continua não só por mim, mas por todos nós.
Chuva
Então ontem a noite choveu!
E também foi ontem a noite,
Que o nosso relacionamento
Rompeu.
Hoje também choveu!
A nossa playlist estava tocando,
E com ela me peguei lembrando
Do que a gente viveu.
Amanhã poderá chover…
Mas não me importa o que o
Tempo vai escolher,pois para mim,
Todo dia que vier agora tem chuva.
Chuva
Dias de chuva, dias escuros para muitos, mas para a terra que tanto a aguarda em sua seca as gotas de água entrarem em contato consigo, são os dias de maior alegria sobre sua relva, aonde a sua forma de agradecer é através da elevação um aroma inigualável, em toda sua plena satisfação. Este aroma, que quando sentido, traz a memória as melhores lembranças já vividas por alguém, fazendo ressurgir esperança sobre os corações.
Que as gotas de chuva que molham meu cabelo,
lave a alma e as tristezas que a vida me acometeu,
e renove as minhas forças para viver.
Não sei se é a chuva
Não sei se é a solidão
Mas a dor que agora sinto
Pode ser da melancolia
De saber que está por fim
A dor de sentir demais
Que a chuva lhe traga calma,
Através dela, limpe toda sujeira de tua alma.
Se livre de toda agonia.
Expira aquilo que não lhe inspira.
Viva a poesia!
Faça de hoje um novo dia!
Livre, finalmente LIVRE !!!
Estou em estado de graça...
Já sinto os pingos
da grande "Chuva de Felicidade",
nada mais me abala,
nem ninguém nela interfere...
Descansada,
Sigo a vida com ternura,
confiança
e leveza...
Deus está presente,
e já é mais que suficiente...
Deixo o passado para trás..
Inerte, morto.
O que me importa é o "HOJE"
e toda essa Beleza,
Alegria e Paz !
IN-FIDELIDADES
Hoje, está sol.
Mas era para estar chuva,
Miudinha,
Chatinha,
De enregelar os ossos.
Mas, também a parra
Nem sempre traz uva,
Por vezes a coragem,
Apesar da aragem,
Não é garra.
Quase sempre, paixão
Traz desilusão,
Riso, dá choro convulsivo
Até em ambiente festivo,
E não há bela sem senão.
Fiel, mesmo é este gato,
O meu Giló,
Gilberto Gil,
Vindo nas águas de um abril,
Que quando sente que estou só,
Sem aparato,
Enrosca-se em mim,
Como que a dizer sim.
Nobre animal,
Adorado pelos egípcios,
Hoje, só considerado em respícios,
Amaldiçoado e tão só.
Adoro, cães.
Como animais que gostam das mães,
Mas sem ele, o meu Giló,
Eu meteria mais dó.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 07-03-2023)
CHUVA QUE DÁ SONO
Confesso, tinha tantas saudades
Da chuva que faz dormir
Que quando ela veio
De mansinho,
Eu fui logo para a janela
Que não deixa ver o mundo
Mas só a natureza molhada
Desta chuva que encharcava
O corpo das carvalheiras
As primeiras
A rejuvenescer na primavera
Com aqueles ramos e folhas de hera
A serpenteá-las,
A abraçá-las
Naquele longo apertar
Delicioso de amantes
Sem estações.
Com os cotovelos no parapeito
Da janela,
A começar já a ficar sem jeito,
Fui adormecendo
No sono dos justos.
A chuva boa continuava a cair
O meu gato cego de um olho, a dormir,
O Camões,
Também sem estações.
Ele, na alcofa
E eu sem ela
Naquela janela.
Como é bom dormir
Sem contar,
Só com a chuva a chorar
E as lágrimas a escorrer
Pelos vidros de uma janela.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 21-04-2023)
No cair da chuva, algumas gotas coordenadas apresentam uma tranquila sonoridade que ecoa pela madrugada silenciosa,
numa apresentação naturalmente agradável,
que relaxa a minha mente agitada, então, poder ouvir essa tranquilidade sonora é uma das formas de eu compensar a visita indesejada da insônia,
tanto que expresso esta ocasião momentânea nestes poucos versos, tamanha compensação, equilibrando uma parte dos meus pensamentos inquietos, resultando nesta simples inspiração.
Seu encontro com o artista interno daquela vez foi tomar banho de chuva.
No começo, os pingos desajustados a incomodava. No chuva intensa, sentia-se bem. E, com o tempo, o frio a inquietava.
Era de se esperar: até a plenitude do sentir causa arrepios.
Os passos leve em meio a chuva
A libitina traz aquele aroma do petricor
Como um romance não escrito
Algumas pessoas acreditam
que a chuva é uma bênção essencial para a vida.
Seja essa chuva na vida dessas pessoas.