Poemas de Chico Buarque
Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...(além da
sífilis, é claro)*
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora...
Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa...
“Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado.”
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Prometo te querer
até o amor cair doente, doente.
Prefiro, então, partir
a tempo de poder
a gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder, te encontro
com certeza.
Talvez, num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada, nada aconteceu;
apenas seguirei, como encantado,
ao lado teu.
Não solidão, hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar.
....E AO LHE VER ASSIM CANSADO
MALTRAPILHO E MALTRATADO
AINDA QUIS ME ABORRECER....
QUAL O QUE....
LOGO VOU ESQUENTAR SEU PRATO
DOU UM BEIJO EM SEU RETRATO
E ABRO MEUS BRAÇOS PRA VOCÊ....
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?
Nina diz que, embora nova
Por amores já chorou que nem viúva
Mas acabou, esqueceu
E ela sempre se perguntava qual era o problema
Amava muito?
Sofria muito?
Sentia muito.
Vovó a colocou no colo e explicou a situação:
Amar não é problema
As pessoas são.
Seis da tarde
Como era de se esperar
Ela pega
E me espera no portão
Diz que está muito louca
Prá beijar
E me beija com a boca
De paixão...
Dorme, minha pequena
Não vale a pena despertar
Eu vou sair por aí afora
Atrás da aurora mais serena
E um dia, afinal,
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava Carnaval
Ouvi um Djavan pra me inspirar pra te escrever
Ouvi Chico Buarque pra aprender sobre você
Ouvi Roberto Carlos pra saber como fazer
E ouvi meu coração pra ter coragem de dizer
O Cio da Terra
Composição: Chico Buarque / Milton Nascimento
Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
Hoje amanheci meio Chico Buarque
Quando eu era menina eu tinha a certeza que
Chico Buarque era feito pra Marieta Severo,
Que Tony Ramos era marido ideal( eu encontrei um marido assim,uau),
Que Tarcísio não viveria sem Glória,
Que a melhor música era "Carolina",
Ela era assim:
"Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu..."
Mais tarde me apaixonei pela música "Iolanda"...
Assim cantada:
"Esta canção não é mais que mais uma canção
Quem dera fosse uma declaração de amor."
Nossa, eu pensava que beijar engravidava...
Que namorar era só de mãos dadas...
Eu hoje acordei muito nostálgica
Só agora me dei conta de que eu não sou
mais uma menina,eureca!
Eu tenho até duas garotinhas.
elas são para mim duas bonecas!
Eternamente, Iolanda...
"Se é pra morrer quero morrer contigo!"
Joelma Siqueira
Moça tu és mais linda que as poesias de Chico Buarque
Tu és mais graciosa do que a lua
Toda a natureza tu supera quando sorri
Teu sorriso mais radiante do que as estrelas
Teu falar é a calmaria da minha tempestade
Se bem, que a tempestade que vem chegando é da cor dos teus olhos
Por que de fato. Você ta chegando
E ta conquistando todo o espaço de meu coração de uma só vez
É incontrolável o desejo de te beijar
Mas com teu abraço posso por ora me contentar
Moça tu é poesia perfeita
Tu é nascer do sol
Todas as coisas que sempre acreditei serem perfeitas
Perdem seu brilho quando você me olha
Teu sorriso traria a cura para toda tristeza
Me faria feliz para sempre
Pelo resto da vida que posso viver
Eu só aceito! Mas só aceito
Se nela eu puder ter você
MULHER
Chico Buarque, em suas canções
Se esforçou bastante
Para descrever a alma feminina.
Freud postulou com mais eloquência
Que a mulher não pode ser resumida
Não em tese ou poema.
Talvez cada homem tem lá sua maneira
De achar que sabe algo sobre esse tema
Prefiro a síntese do poeta
Que diz: A mulher é de fato um teorema.
Pessoalmente, se é que isso vale algo, acho Chico Buarque um compositor brilhante, um cantor medíocre e politicamente o considero imberbe. Na época da Banda ele ainda não tinha se exilado no desconforto da Île Saint Louis. Essa pequena paródia é apenas uma carona sem-vergonha na magistral A Banda e uma reflexão da pátria subtraída, na expressão do bardo. Menções a mensalões e outros “ões” ficam a critério da coloração política do leitor.
O bando
Estava bem indeciso
Duda Mendonça chamou
Para votar no PeTê
Lulinha paz e amor.
E tanta gente sofrida
Pensou livrar-se da dor
E foi votar no PeTê
Lulinha paz e amor.
O pobre diabo que não tinha dinheiro votou
O palanqueiro que contava vantagem contou
E quem sonhava com o Fome Zero
Votou para ver essa nova miragem
A marolinha que virou um tsunami cresceu
O Manteguinha os cordões da bolsa abriu
E a tigrada toda se assanhou
Votou na Dilminha
E então deu no que deu
O aposentado se esqueceu do cansaço e pensou
Que tinha vindo a bonança ... por isso dançou
A dona Dilma fechou as janelas
Pra não ouvir mais
O som das panelas
A coisa piorou mas o Guido insistiu
O rombo que estava escondido surgiu
A Economia toda enfeou
E foi a debacle que o governo causou
E pra total desencanto
O que era doce acabou
Agora vem o ajuste
Depois que o bando roubou.
Adeus as belas vitrines
Sem Minha casa melhor
Depois que o bando passou
Vejam o que sobrou.
E qual é a minha definição de amor?
Tenho o nome de uma música do Chico Buarque, bem antiguinha, a que meu pai cantava no karaokê do bar próximo à sua casa. Depois que eu nasci, ele passou a me levar junto e no final da música fazia questão de dedicá-la pra mim. E eu ficava na mesa, morrendo de vergonha e pedindo que ele parasse com aquilo. Mas ele sempre fazia novamente. Ele sempre cantava a música do meu nome e dedicava pra mim. Por anos. E nunca sequer ficou com raiva ou magoado por eu sentir vergonha dele por isso. Isso é amor.
Quando eu era pequena, sempre que minha mãe chegava do trabalho, eu perguntava se ela tinha trazido presente. E ela, todo santo dia, antes de ir pra casa, passava no supermercado e comprava alguma coisa, mesmo que fosse apenas um bombom. Ela nunca voltava pra casa de mãos vazias. Nunca quis me decepcionar. Isso é amor.
Aos oito, vi uma gelatina no chão perto do caixa do supermercado e a peguei. Ao atravessar a rua, mostrei pra minha tia. Que me fez voltar, devolver e me desculpar pelo roubo. Ela sempre me fez ser e querer ser uma pessoa melhor. Isso também é amor.
Um dia falei pro meu namorado que não gostava de flores, porque eram apenas um presente fútil que se dá quando não se quer ter esforço pra agradar uma mulher. Mais uma grande tirada do capitalismo. Ri e completei que só iria gostar se ele mesmo fizesse a flor. Então ele passou o dia inteiro tentando fazer uma flor de origami por vídeos da internet, pra me dar. E foi o melhor presente que eu já recebi.
É isso.
O amor é isso.
É a música do karaokê,
o bombom do supermercado,
a lição sobre a gelatina,
a flor de origami.
O amor é o detalhe.