Poemas de Caio Fernando Abreu

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No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser.

Vamos marcar um dia pra tomar uma cerveja e você falar mal de mim na minha frente.

Caio Fernando Abreu
Livro: Morangos Mofados

Mas eu não pensava em sacanagem nenhuma. Só queria ficar perto dele. No máximo, ficar abraçado com ele. Na mesma cama. Sentindo a respiração.

Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela.

Naturalmente a saia é justa, mas como a fé é larga, fica tudo equilibrado. Coloco nas mãos de Deus.

Um dragão jamais pertence nem mora com alguém. Seja uma pessoa banal igual a mim, seja unicórnio, salamandra, harpia, elfo, hamadríade, sereia ou ogro. Duvido que um dragão conviva melhor com esses seres mitológicos, mais semelhantes à natureza dele, do que com um ser humano. Não que sejam insociáveis. Pelo contrário, às vezes um dragão sabe ser gentil e submisso como uma gueixa. Apenas, eles não dividem seus hábitos.

Invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada.
(Pequenas Epifanias "Deus é naja", O Estado de S. Paulo, 15/7/1986)

De vez em quando é necessário a gente se perguntar se dentro de nós é um bom lugar para se viver. Tenho me perguntado isso… e a resposta é sim, sou um bom lugar.

– Você não passa de um substantivo feminino — disse, e quase sem sentir acrescentou – ... mas eu te amo tanto, tanto.

Eu tenho uma psicologia muito frágil – simplesmente não quero me envolver em estorinhas sujas como essa. É doloroso ver o carreirismo, a falta de escrúpulos e o mau-caratismo de gente que eu, ingênuamente, supunha “amigos”.

Quando você não estiver procurando, você vai achar aquela pessoa que faz você sentir que poderia parar de procurar.

Quantas conversas, quantas risadas, quantas brincadeiras… E olha só, hoje nem nos falamos mais.

Não chegaram a usar palavras como especial, diferente ou qualquer outra assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las.

Encho a cara sozinha aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca. Sofre horrores mas continua do bem, sempre inventando histórias com final feliz. Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro de uma solidão – escudo. E à noite eu ainda te espero, mesmo quando sei que você não virá, só para ter saudade.

Está certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?

Ficar perto, abraçar de vez em quando, sentir saudade, gostar um pouquinho. Mas amar não, amar nunca, amar não serve pra mim. Prefiro assim!

Preciso de um tempo, preciso me reencontrar em novos caminhos e preciso disso agora.

Reduzi tanto meus sonhos, minhas fantasias, minhas esperanças. Ando espantado com o tempo. O tempo é a única coisa terrível que existe. O tempo que passa e leva de arrasto, aparentemente aleatório, a juventude nossa e dos outros. Não é amargo, é apenas real.

Eu vivo mesmo é de claridades e não vai ser qualquer gentinha à toa que vai enfraquecer minha fé na vida e minha vontade de sorrir pro mundo.

As coisas sempre prestes a serem apanhadas. E você eternamente prestes a apanhá-las. Como uma sina. Sempre prestes.