Poemas de Caio Fernando Abreu
Me devolve seu sorriso? Parece que eu não te faço mais sorrir, assim eu desespero mesmo. É uma resposta simples pra uma pergunta simples: Você vai voltar?
Só sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando acontecer, o problema é que essa coisa talvez dependa de uma outra pessoa.
Choveu demais, esfriou. Mas deve haver algum jeito exato de contar essa história que começa e não sei se termina.
Era coração, aquele escondido pedaço de ser onde fica guardado o que se sente e o que se pensa sobre as pessoas das quais se gosta? Devia ser.
Então tentei dar uma ordem cronológica aos fatos: primeiro, quando e como nos conhecemos - logo a seguir, a maneira como esse conhecimento se desenrolou até chegar no ponto em que eu queria, e que era o fim, embora até hoje eu me pergunte se foi realmente um fim. Mas não consegui. Não era possível organizar aqueles fatos, assim como não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos.
Engraçado, não gosto do meu quarto - das paredes, dos móveis -, mas gosto demais das coisas que posso ver pela janela. Das coisas que estão fora dele, porque o que está aqui dentro eu acho muito parecido comigo. E eu não gosto de mim.
E eu só tenho a mim, eu só tenho a mim, repetiu, voltando a cair sobre a cama. Não posso sentir medo, não devo sentir medo, não quero sentir medo.
Mas estou disposto a correr o risco. É preciso agora concretizar a ideia. Tirá-la dos limites do pensamento, arrancá-la apenas do papel e torná-la um pedaço de mim.
Talvez se eu não tivesse chegado tão perto, nem te tocado tão fundo, nem sido tão eu... talvez houvesse alguma possibilidade.
E sei que estou apenas no início de um largo caminho de amor, que começa aqui dentro e exala cheiro de flores e confusões.
Eu e você não acontecemos por uma relação casual, mas por uma relação de significado, que ainda estamos trabalhando.
Não adianta nada ficar do lado de fora, vendo fantasmas, imaginando coisas que não existem. Melhor entrar de uma vez.
Mas quando você pensa que um perigo medonho passou é porque outro ainda pior está vindo? Oh, Deus. E o perigo-passado realmente deixou você mais forte para o perigo-vindouro?
Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas me sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só esta vontade quase simples de estender o braço para tocar você, faz tempo demais que estamos aqui parados conversando nesta janela, já dissemos tudo que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação impressão ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e, com a ponta dos meus dedos, tocar você, natural que seja assim: o toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora. Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha para mim, sorri. Quanto tempo dura?
Já eram 3h da manhã quando escutou seu celular tocar. Estava na cama, mas não dormia. Em um primeiro instante não pensou em ver quem era, achou que era a companhia telefônica enviando aquelas mensagens chatas novamente. Depois pensou nele e resolveu olhar. E lá estava: “Nova mensagem”. Era dele, dizendo que pensava nela. Ela sabia que deveria ficar feliz por isso, mas não. Eles não podiam ficar juntos. Todos sabiam. Então porque ele continuava fazendo isso com a garota? Porque mandava mensagens no meio na noite? Ele não queria vê-la mal, queria? Ambos sabiam que deveriam esquecer, seguir suas vidas. Mas ele não deixava isso acontecer. Tinham feito suas escolhas, e não escolheram um ao outro. Escolheram o futuro. E era isso. A história que nem havia começado direito precisava acabar ali.
Tanto tempo faz que a gente não se via, a saudade me enganou e deu lugar a nostalgia. E já não me interessa onde estivemos sem saber, sobrou em pensamentos a vontade de te ter…
A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa.