Poemas de Caio Fernando Abreu
Nem horas, nem dias, nem meses, mas anos, não apenas um, dezenas, anos e anos de solidão, eu quero a alegria, rosnou, quero porque quero o princípio do prazer, não tornaria a ouvir o sax desesperado, o seco, porque não suportaria, sim, suportaria, suportarás, as pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era.
Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera. Não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Talvez as pessoas estejam certas, e você seja realmente tudo aquilo que dizem. Talvez eu realmente mereça algo melhor, alguém melhor. Mas quando eu olho em volta em busca desse alguém que vá me fazer feliz, eu nunca consigo encontrar, porque quando eu olho em volta a única pessoa que eu quero encontrar é você. Talvez eu só queira me iludir e acreditar em algo, talvez eu só ame essa ilusão, essa imagem que eu criei de você. Mas quem ama aceita os defeitos, porque eles também constituem quem você é. E eu não quero ninguém perfeito, não quero ninguém que nunca vá me machucar, porque eu sei que de uma hora para outra todo mundo sempre decepciona alguém. Eu só quero você, imperfeito do jeito que você é. E não do jeito que as pessoas dizem.
Queria acordar todos os dias ao teu lado, e que seu sorriso fosse a primeira coisa que eu visse pela manhã. Queria sentir seu abraço, e bagunçar teu cabelo. Queria poder te chamar de idiota e logo depois dizer que te amo. Por mim passaríamos horas no telefone, somente ouvindo a respiração um do outro e desejando que o tempo nunca passasse. Queria estar contigo nos dias de chuva assistindo filme de terror com pipoca, embaixo do edredom. Queria ficar te observando enquanto você dorme. Queria ser tua confiante, tua melhor amiga. Seríamos aquele tipo de casal que acreditaria no para sempre, que desenharíamos um coração na areia da praia. Queria acordar com suas mensagens, ou te ligar só pra dizer que te amo. Esperaria ansiosa pela próxima vez que te veria novamente e pularia nos seus braços. Nossos beijos seriam eternos, e o mundo inteiro pararia enquanto eu estivesse em seus braços. E eu me sentiria a garota mais feliz do mundo quando te fizesse sorrir, ou a mais bonita só por te ver me observando.
Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha, e tenho.
Eu brigo, bato, implico, grito, esnobo, mas a verdade é que eu vivo pensando em você e todos os meus atos são desculpas para estar ao seu lado.
Numa cidadezinha perdida, dois malditos que se reconhecem nem que seja necessário sequer falar sobre isso. Uma cumplicidade muda, e tão secreta que, penso, talvez você nunca tenha percebido. Na minha memória - já tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos.
Meu Deus, nunca falhará. Eu sei que chegará minha vez. Minha sorte Ele mudará, diante dos meus olhos.
Muitas vezes, nada era dito ou feito, e nós não nos frustrávamos porque não esperávamos mesmo, realmente, nada.
Sinto que este é um período de luta depois do qual tudo deve abrir, ficar mais fácil, menos batalhado. Quero que daqui pra frente a vida seja hoje. A vida não é adiável.
Um dia você vai encontrar alguém que te lembre todos os dias que a vida é feita para ser vivida. Alguém que é perfeito de tão imperfeito.
De vez em quando me sinto um pouco sozinho, porque as minhas estorelhas amorosas continuam não dando certo nunca, mas logo passa. Tenho paciência e confio que Jesuzinho um dia e de repente me mande uma pessoa divina-maravilhosa. Ou não: mas de qualquer forma tenho a minha tarefa.
E talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e as inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas, e lentamente falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente quebro, e lentamente falho, e lentamente caio cada vez mais fundo e já não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas histórias longas, essas histórias tristes, essas histórias loucas como esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez não viesses e me cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que não acaba nem assim nem agora nem aqui.
Conto para você, porque não sei ser senão pessoal, impudico, e sendo assim preciso te dizer: mudei, embora continue o mesmo. Sei que você compreende.
A nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir mais fundo, de não sentir medo desse mais fundo. Parece difícil de você enxergar que insistir nisso é perda de tempo, é perda de vida em uma causa perdida. Ouça aqui, mocinha. Não fique pensando que o mundo lhe pertence não. Não caia nessa onda. E outra coisa – não se esforce. Pelo menos não tanto, não fique aí remando contra a maré, dando murro em ponta de faca. Veja – se não fora pra ser, não vai ser. Acredite em mim. Coisa boba essa sua tentativa de ir além. E olhe, eu não estou pedindo pra você desistir não, não é isso. Eu só quero que você pense mais, que leia mais. Que tenha argumentos melhores. Você é muito imatura ainda. Cresce!
Hoje estou com uma moleza por dentro, uma coisa que não sei bem explicar como é, parece um imenso tapete de algodão embranquecendo tudo.