Poemas de Caio Fernando Abreu

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Você me avisou que seria difícil, mesmo assim eu ainda continuo tentando. Meu desafio favorito passou a ser te decifrar. Seus gostos mais excêntricos, já não são tão esquisitos para mim. Seu mundo particular não me é mais estranho. E ainda me ouso tentar adentrar nele, mas as luzes estão apagadas, não consigo achar a porta. Só que não me dou por vencida, perseverança é meu forte. Mas você teme não enxergar que nesse nosso jogo eu quero ser o teu amor, ter o teu amor.

Não se prenda a mim, não se limite, não pare de olhar para fora. Daqui a pouco vai ser muito tarde, eu sei que é assim porque eu sinto isso.

Eu minto. Digo que não sinto ciúme, digo que estou bem, digo que não gosto de flores, digo que não me importo, digo que não sinto falta.

O que importa de verdade são as escolhas que o coração faz. Mesmo não sabendo onde vai dar, o que importa é se jogar na certeza do que queremos!

Compreenda, eu só preciso falar com você. Não importam as palavras, os gestos, não importa mesmo se você continua a fugir e se empareda assim, se olha para longe e não me ouve nem vê ou sente. Eu só quero falar com você, escute.

Apertou o livro entre dedos subitamente frios, depois colocou-o no colo para ajoelhar-se e estender as mãos em direção ao fogo. Eu parado na porta às quatro da manhã. Você indo embora. Eu me perdendo então desamparado entre cinzeiros cheios e garrafas vazias. Você indo embora. Eu indeciso entre beber um pouco mais ou procurar uma beata em plena devastação ou lavar copos bater sofás guardar discos mastigar algum verso adoçando o inevitável amargo despertar para depois deitar partir morrer dormir sonhar quem sabe. Você indo embora. Acordar na manhã seguinte com gosto de corrimão de escada na boca: mais frustração que ressaca, desgosto generalizado que aspirina alguma cura. Tocaria, o telefone? Você indo embora, fotograma repetido. Na montagem, intercalar. Você indo embora você indo embora.

Queira viver, viver melhor, viver sorrindo e até os cem. Estou feliz, estou despreocupado, com a vida eu estou de bem.

E se perguntassem o que vem a ser o certo, Gabriela olharia com a cabeça torta como a de um cachorro quando parece não compreender o que se passa. O olhar de repente vidrado de quem tem sede de entender as coisas que acontecem ao redor. Ela não sabia amar, talvez. Então mais um amor havia ido embora, mais um amor havia chegado ao fim. Nessa imensa individualidade onde ninguém podia entristecê-la sempre cresciam espinhos. Espinhos para machucar aqueles que a machucavam, então assim não a tocavam. Não tocava porque o medo da mágoa não deixava que lhe tocassem, ou então havia medo porque não haviam tocado fundo o suficiente para que o medo não existisse. Que triste então estava sendo, mas Gabriela parecia acostumada. Acostumada e fria porque depois de tantas lágrimas, ela finalmente parecia ter secado. A maquiagem borrada em volta dos olhos tinha sido limpa na noite anterior. Quando Antônio e ela se encontraram; ela parecia inteira. Inteira porque não tinha ficado nada dela para trás. Seus olhos eram de desilusão, de cansaço. Cansada de construir sonhos, planos, fantasias. E depois da desilusão ter de destruir uma a uma, como se nada daquilo tivesse um dia existido, só para olhar para trás e não sentir nada do que sentira antes. Era mais um fim doído, choroso, arrastado.

Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve...

Estavam ambos naquela faixa intermediária em que ficou cedo demais para algumas coisas, e demasiado tarde para a maioria das outras.

Chega de ligações, preocupações, sentimentos demonstrados aos extremos.
Vou ficar mais relax mesmo, não quer me ligar, não liga...

Às vezes, sobretudo agora, verão e lua quase cheia, me surpreendo melancólico pelas noites a suspirar na sacada espanhola, com vontade de chorar. Choro quando consigo. Ou ouço Caetano cantando Contigo en la distancia, e choro mais. Não tenho pena de mim, mas por vezes sinto falta de amor. Fico sempre muito só.

Vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, alguma.

Então me sinto protagonista de um filme chamado: Criaturas que o mundo esqueceu.

Ela sentia algum ódio, mas não dizia nada, toda madura repetindo isso-passa-questão-de-tempo-tudo-bem.

Embora a vontade seja de agredir todo mundo, dizer meia dúzia de verdades e sair pisando duro. Não vou fazer nenhuma loucura.

Como é que a gente faz pra se manter sempre alerta? Eu não aguento tanta atividade física e mental.

Descobri que os lugares não existem. Passam a existir quando se olha para eles e se adjetiva o lugar.

Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma.

Você sabe que não sou mulher de arrependimentos, de olhar pra trás, essas coisas.