Poemas de Caio Fernando Abreu

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Vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, alguma.

No início você briga, chora, faz drama mexicano. Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas. Acostuma-se… Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução. No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser. Talvez os amores eternos sejam amenos e os intensos, passageiros. É isso.

Não garanto que foi feliz para sempre, mas o sorriso dele era lindo quando pensou todas essas coisas — ah, disso eu não tenho a menor dúvida. E você?

Bonito e infernal.(…) Parece coisa de romance do século passado. Romance epistolar. Platônico.

Aí chega a hora em que distribuo um segredo: o tudo que faltava, talvez seja você.

Mas que você me sentisse um pouco distante e tivesse pressa em me chamar outra vez para perto.

De repente me passa pela cabeça que a minha presença ou a minha insistência pode talvez irritá-lo. Então, desculpa não insistirei mais.

Por situações como essa, eu o amava. E o amo ainda, quem sabe mesmo agora, quem sabe mesmo sem saber direito o significado exato dessa palavra seca – amor. Se não o tempo todo, pelo menos quando lembro de momentos assim.

O romantismo saiu perdendo com isso. Não sou saudosista. Mas as pessoas atualmente não desfrutam mais o amor como ele é. O coração não dá mais pulos, tudo é materialista.

Dá vontade de escrever carta, dizendo coisas que as pessoas não dizem mais, porque seriam coisas que só se dizem por carta, não por telefone, e ninguém escreve mais cartas, só telefona, e portanto há coisas que não são mais ditas entre as pessoas. Que coisas, não sei ao certo. Que hoje não consigo quase nada, além de pensar vadio. Isso, aquilo: perdoe.

Não que pare de doer, mas cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução.

Então me sinto protagonista de um filme chamado: Criaturas que o mundo esqueceu.

Ela sentia algum ódio, mas não dizia nada, toda madura repetindo isso-passa-questão-de-tempo-tudo-bem.

Embora a vontade seja de agredir todo mundo, dizer meia dúzia de verdades e sair pisando duro. Não vou fazer nenhuma loucura.

Como é que a gente faz pra se manter sempre alerta? Eu não aguento tanta atividade física e mental.

Descobri que os lugares não existem. Passam a existir quando se olha para eles e se adjetiva o lugar.

Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma.

Você sabe que não sou mulher de arrependimentos, de olhar pra trás, essas coisas.

Diga o que você quiser, faça o que você quiser. Não diga nada, se achar melhor. Minta, não será pecado. Mas se contar tudo, não se esqueça de dizer que eu sou feliz aqui. Longe de tudo, perto do meu canto.

Gosto de tudo que ameaça morrer e de repente se levanta, mais vivo ainda, surpreendendo a todos!