Poemas de Caio Fernando Abreu

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Mania de esperar que as coisas sejam dum jeito determinado, por isso a gente se decepciona e sofre.

E quando você menos espera a vida te vira do avesso e você descobre que o avesso é o seu lado certo.

Acorde, garota! Você é linda, inteligente, tem um ótimo perfume e seus olhos brilham mais que um punhado de purpurina. Por que chora? Perdeu em alguma esquina seu encanto?! Ninguém pode tirar de você seu mais belo sorriso, motivo de idas e vindas saltitantes. Coloque sua música favorita para tocar, respire fundo e faça o que de melhor sabe fazer: ser você.

Ando bem, mas um pouco aos trancos. Costumo dizer, um dia de salto 7, outro de sandália havaiana.

Tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito, porque não tem complicação. Coisa simples é lindo. E existe muito pouco...

Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Se a realidade te alimenta com bosta, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores.

Mas a verdade é que ainda não quero me prender a nada, a nenhum lugar, a ninguém.

Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.

Caio Fernando Abreu
Cartas: Caio Fernando Abreu. Florianópolis: HB, 2016.

Eu juro que da próxima vez que nos vermos eu já estarei ótima e morta de paixão, mas não será por você novamente, eu juro!

Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!

Tenho uma vontade besta de voltar, às vezes. Mas é uma vontade semelhante à de não ter crescido.

Porque no fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia.

As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa.

Estou exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém.

Trago lágrimas, sorrisos, histórias, abraços... Trago momentos felizes, momentos de decepção. Carrego pessoas, amores e desamores, amigos e inimigos, desafetos, paixões... Não sou um livro aberto, mas também não tão fechado que você não consiga abrir, basta ter jeito, saber tocar as páginas, uma a uma, e descobrirá de que papel é feito cada uma delas.

Por razões que desconheço, nossas aproximações foram sempre pela metade. Interrompidas. Um passo para a frente e cem para trás. Retrocessos. Descaminhos. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro.

Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo; aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim. Dilacerando felicidades de mentira, desconstruindo tudo o que planejei, abrindo todas as janelas para um mundo deserto. É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias, me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os dias.

Talvez eu seja apenas mais um talvez, tentando ser certeza. Tentando ser para sempre, e parando sempre pela metade.

Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.

Penso também outra coisa de gente grande: não adianta muito você se enfeitar todo pra uma pessoa gostar mais de você. Porque, se ela gostar, vai gostar de qualquer jeito, do jeito que você é mesmo, sem brilhos falsos.