Poemas de Caio Fernando Abreu
Você tem que amar quem você ama agora. Já, você tem que começar a fazer tudo o que você quer porque a bruxa está do lado esperando.
E devo dizer ainda que gostaria de vê-lo feliz, apesar de tudo o que me fez sofrer nos últimos tempos.
Alguma coisa aconteceu comigo. Alguma coisa tão estranha que ainda não aprendi o jeito de falar claramente sobre ela.
E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o voo.
Só mudei de opinião, mas meus sentimentos continuam os mesmo, com exceção da dor, que ficou mais intensa longe de você, sinto falta, mas já doeu uma vez, talvez eu não seja capaz de suporta-la novamente. E de tudo isso eu aprendi que se entregar de corpo e alma à uma pessoa não é o suficiente pra faze-la feliz. Queria acreditar que como em filmes no final tudo daria certo, mas preciso de motivos... faz acreditar que o mundo não é só aflição?
Meu pacto é um pacto sagrado com a paz, a felicidade, a harmonia e o sucesso, as realizações construtivas, a simpatia e a boa vontade com todos.
Quero sorrir, cumprindo meu dever. Quero ser útil, sem nunca esmorecer.
Unicórnios, salamandras, harpias, hamadríades, sereias, e ogros. Talvez acredite em fadas também, orixás quem sabe? Ou átomos, buracos negros, anãs brancas, quasars e protozoários. E diria com aquele ar 'levemente pedante':
- "Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno".
Então eu te disse que o que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem a pessoa exata. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse.
... Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo.
Sim, tenho vontade de me jogar pela janela, mas nunca foi possível abri-la. Não, não sei o que gostaria que você me dissesse. Dorme, quem sabe, ou está tudo bem, ou mesmo esquece, esquece.
E continuo. Apesar da saudade. Apesar de me sentir pela metade. Continuo porque é o que resta.
Aprendi que se a gente não levar a vida, ela nos leva de qualquer jeito.
Porque o tempo passado, filtrado pela memória e refletido no tempo presente – agora -, parece sempre melhor. E terá mesmo sido?
Eu não te pergunto nada, não te peço nada, até não me preocupo onde e com quem você esteja. Mas toda noite eu sussurro bem baixinho até o sono vir: me ama por favor.
Nós tínhamos uma coisa que chamo de 'identificazzione di una donna'. Era uma aproximação de alma que rolava comigo, com você, ... pessoas sensíveis, que têm uma alma parecida. As coisas que a gente escolhia para enxergar nesse mundo eram parecidas. Apontávamos para os mesmos lugares. (...)
Me dói ter passado tanto tempo atento a ele — quando ele nunca ficou atento a mim. E eu passei tanta coisa dura. Rita Lee canta “são coisas da vida”. Um sim-vale- a-pena-e-vamos-nessa."
Se fosse fácil, todo mundo saberia explicar como fazer. Viver não é assim tão simples, mas que a gente complica, não há dúvidas.
Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis. Remexo o cérebro e elas vêm, não raras, mas toneladas. Deixam sempre um gosto de poeira na boca - a poeira do que se tentava expressar, e elas dissolveram. Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma idéia, mais essa idéia resiste a ser identificada. As sucessivas roupas sufocam a sua nudez. E todas as palavras são uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio.
Ah, se eu pudesse escrever com os olhos, com as mãos, com os cabelos - com todos esses arrepios estranhos que um entardecer de outono, como o de hoje, provoca na gente.