Poemas de Caio Fernando Abreu

Cerca de 2421 poemas de Caio Fernando Abreu

Atravessamos agostos que parecem eternos e, nos setembros, suspiramos quase leves outra vez: Meu Deus, passou.

Porque é tão mais fácil aturar a vida sabendo que tem você. Agora sem você, meu amigo, a coisa é feia. Realmente feia.

Nada é muito terrível. Só viver, não é? A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa.

Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. [...] Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e becos de mim.

Caio Fernando Abreu
Ovelhas negras

Não eram um casal perfeito, daqueles de cinema. Brigavam muito, ficavam um tempo sem se falar e nesse intervalo ainda rolava uma guerra de indiretas, cada um querendo ser o dono da verdade. Mas no fundo eles sabiam que tudo era joguinho bobo de orgulho, e que por trás das caras fechadas e bicos não se aguentavam de saudade. Tudo bem se eles passavam uma imagem de cão e gato, mas uma coisa é certa… Eles se amavam mais do que qualquer coisa.

Não negue, apareça. Seja forte. Porque é preciso coragem para se arriscar num futuro incerto.

Virava pra lá e pra cá na cama. Estava impaciente. Até me sentei no escuro. Pensei: Não era uma posição o que eu procurava. Era você.

Você lê e sofre. Você lê e ri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepios. Você lê, e sua vida vai se misturando no que está sendo lido.

Que o sol a brilhar nas manhãs chuvosas tenha força para radiar os corações cinzas.

Lembrei que tinha lido em algum lugar que a dor é a única emoção que não usa máscara.

Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções.

Eu quero o diferente. Cansei de pessoas iguais, sonhos iguais, modas iguais, conversas iguais.

Embora estivessem no mesmo barco, as maneiras de remar podiam perfeitamente ser diferentes.

Sempre acreditei que toda vez que a gente entra numa igreja pela primeira vez, vê uma estrela cadente ou amarra no pulso uma fitinha de Nosso Senhor do Bonfim, pode fazer um pedido. Ou três. Sempre faço. Quando são três, em geral, esqueço dois. Um nunca esqueci. Um sempre pedi: amor.

A gente se acostuma com tudo nessa vida, mas a arte de fazer cada encontro ser diferente, essa eu deixo passar porque contigo o imprevisível é sempre a melhor opção.

Quase novembro, a ventania de primavera levando para longe os últimos maus espíritos do inverno.

Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num só, esse é o eterno.

imagino que isso que chamamos de amor. Algo assim. Porque tudo que vivi e senti antes me parece agora bobagem, brincadeira.

Daquele tempo nem tão distante, daqueles dias que até hoje duram às vezes duas, às vezes duzentas horas, restou esta sensação de que, como eles, também me vou tombando rápido dentro da boca de um vulcão aberto sem fôlego nem tempo para repetir como numa justificativa, ou oração, ou mantra, enquanto caio sem salvação no fogo que é verdade, que si, que no, que nadie puede mismo vivir sin amor.

Caio Fernando Abreu
Ovelhas Negras

Gosto de pensar assim que quem já morreu fica num lugar quentinho, que a gente não vê, cuidando de quem ainda não morreu. E se você quiser agradar a essa pessoa, é só fazer coisas que ela gostava. Aí ela fica ainda mais quentinha e cuida ainda melhor da gente.