Poemas de Caio Fernando Abreu
Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou se sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. [...]E se ela se afogar, se recupera. [...]E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente.
Pra início de conversa: Você anda lendo o quê? Quem é que está te influenciando assim? Quem colocou essas idéias malucas em sua cabeça? Eu me preocupo com você, Carmem. Você anda feliz demais e isso é preocupante;
Eu sou um senhor de 80 e tantos anos e sei das coisas. Euforia demais é sinal de tragédia.
Preciso abandonar essa “mania de passado”, retirar os entulhos, deixar a casa vazia para receber nova mobília, fazer a faxina da mente, da alma, do corpo e do coração.
Que essa felicidade nos deixe com o coração disparado, mãos úmidas, olhos brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa.
Hoje aconteceu uma coisa engraçada, que atestou mais uma vez a minha incoerência comigo mesmo. Vivo imaginando que de repente vão aparecer fadas ou gênios na minha frente para perguntar o que eu desejo. Hoje pensei sério: se me perguntassem o que mais desejo na vida, não saberia responder. Quero tudo.
Mas eu estou viva, não estou? As pessoas estão todas aí, não estão? Só me falta somar ao invés de substituir e viver ao invés de escrever. Dá licença, vou até ali fazer diferente.
Ela era bonita. Mas não era bonita e só - como a maioria dos bonitos, ela era bonita e tinha muitas outras coisas na bagagem.
" Quanto a ti, já reparaste como o mundo parece feito de pontas e arestas? Já chamei tua atenção para a escassez de contornos mansos nas coisas? Tudo é duro e fere. "
Sei que ele gosta de mim, só não sei se ele sabe o quanto eu gosto dele, o quanto eu me entreguei ao escuro, aos passos largos.
Nós continuávamos resistindo mas às vezes penso que viver não deve ser apenas isso, segurar a barra.
Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas.
Nunca pensei é que pudesse ser assim tão vazia uma casa sem um anjo. Dentro de mim existe alguma coisa que espera a sua volta, de repente, não sei se pela janela ou se aparecerá novamente no mesmo lugar. Para prevenir surpresas, tenho deixado sempre abertas todas as janelas e todas as portas.
Fui vivendo minha vida de maneira tão solitária, conquistando minhas coisas tão no braço, tão sempre sem nada, que aprendi a ter uma enorme admiração por mim mesmo.
Quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido…
Há dias em que tudo o que você quer é o colo quentinho da pessoa amada, só pra ter aquela sensação de proteção e cuidado.
''Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente.''
Antes de estender os braços, preciso saber o que há dentro desses braços, porque não quero dar somente o vazio.