Poemas de Caio Fernando Abreu

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Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor.

Porque se você pisca, quando torna a abrir os olhos o lindo pode ficar feio. Ou vice-versa.

Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da conha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão.

Estou aberta e sabendo muito bem quem sou e o que pretendo sem ilusões enlouquecidas, a não ser as necessárias pra se curtir uma boa.

Claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? Ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim, tomei mais de cinqüenta ácidos, fiz seis anos de análise, já pirei de clínica, lembra? (...) Perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário & positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária e bababá bababá.

Minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada.

Ela parecia inteira. Inteira porque não tinha ficado nada dela para trás. Seus olhos eram de desilusão, de cansaço. Cansada de construir sonhos, planos, fantasias. E depois da desilusão ter de destruir uma a uma, como se nada daquilo tivesse um dia existido, só para olhar para trás e não sentir nada do que sentira antes. Era mais um fim doído, choroso, arrastado. Fosse o ponto final sua última lágrima de dor, já havia então sido decretado. Decretado num discurso mudo, num adeus em silêncio. Dito através de tudo daquilo que não havia sido falado.

decidi me poupar mais. tem sido difícil e nem sei se há recompensa. talvez, quem sabe, me sentir melhor comigo mesmo.

Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.

Deixe o tempo te ensinar que os tombos te fortalecem, que os ventos te levam e que a vida te molda da maneira que bem quer. Não tente entender, tente viver. Poucos conseguem.

Sei que a maioria das pessoas me diz: “menina, abre teu coração mais uma vez e segue em frente, não para de sonhar, um dia isso tudo passa.” Mas esse discurso, que já ouvi algumas vezes, não me convence e nem atinge quando o tema é você e todas as sensações e mudanças que você causou em mim.

No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio.

‎Mas Deus sabe a hora certa pra nós e eu confio. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito.

Eu vivo de muitas saudades. E quem se arrebenta de tanto existir, vive pra esbanjar sorrisos e flashes de eternidade.

As coisas que a gente escolhia para enxergar nesse mundo eram parecidas. Apontávamos para os mesmos lugares...

Como eu queria tomar vergonha nessa minha cara e te mandar embora da minha vida, mas quanto mais eu penso em fazer isso, mais eu te desejo.

E eu digo sempre no final de cada conversa: Te cuida meu bem ...Com vontade de dizer: Me cuida, por favor, pois meu eu está em você ...

O tempo passou. No meio da festa, outro dia, eu olhei para o sujeito e percebi que não sentia mais nada em relação a tudo aquilo. Parecia tão importante na época, parecia insuperável, mas acabou, ficou para trás, não deixou rastros. A vida andou, como a vida costuma fazer - desde que a gente não se agarre às memórias com as duas mãos, desde que a gente não fique refém da traição e da culpa.

Não sinto mais impulsos amorosos. Posso sentir impulsos afetivos, ou eróticos - mas amorosos, sinceramente, há muito tempo. É estranho, e não me parece falso, mas ao contrário: normal. Era assim que deveria ter sido desde sempre. E não se trata de evitar a dor, é que esse tipo de dor é inútil, é burro, é apego à matéria. Sei lá. E não sei se me explico bem."

Ela era bonita. Mas não era bonita e só - como a maioria dos bonitos, ela era bonita e tinha muitas outras coisas na bagagem.