Poemas de Bráulio Bessa

Cerca de 59 poemas de Bráulio Bessa

Seja sempre inquieto
e vez por outra paciente.
Parece meio contraditório,
soa meio diferente,
às vezes pisar no freio
também é andar pra frente.

Bráulio Bessa
Poesia que transforma. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

Nota: Trecho do poema Sonhar.

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É preciso mudar

Caminhe por outra rua
Mude os móveis de lugar
Use aquela roupa velha
Na pressa, pode esperar.
Corte, pinte seu cabelo
Sem seguir nenhum modelo
Pois é preciso mudar.

Pinte a parede da sala
Sem medo de se sujar
Devore a lasanha, a coxinha
Sem culpa por engordar.
Frequente novos lugares
E respire novos ares
Pois é preciso mudar.

Escreva uma carta à mão
E esqueça o celular
Visite alguém que faz tempo
Que não vem lhe visitar.
Fale mais, digite menos
Construa em novos terrenos
Pois é preciso mudar.

Aprenda uma nova língua
Talvez volte a estudar
Tome mais banhos de chuva
Deixe a vida lhe banhar.
Pule muros e barreiras
Crie novas brincadeiras
Pois é preciso mudar.

Há mudança até na dor
Basta a gente observar
Deixar a casa dos pais
Mesmo querendo ficar.
Ver amigos indo embora
Sentir a dor de quem chora
Sofrer também é mudar.

Perder aquele emprego
Não ter grana pra gastar
Estudar pra um concurso
E mesmo assim, não passar.
Ser largado, ser traído
Se sentir meio perdido
Sofrer também é mudar.

O vento que às vezes leva
É o mesmo vento que traz
Leva o velho e traz o novo
Se renova, se refaz.
Transforma agito em sossego
Desconforto em aconchego
Faz a guerra virar paz.

A vida, o mundo e o tempo
Nos mudam desde criança
Modificam nossos sonhos
Renovam nossa esperança.
E a mudança mais feroz
Fazendo tudo de nós
Um dia virar lembrança.

O tempo é um piloto louco
Que gosta de acelerar
Não vê placas nem sinais
E sempre vai avançar.
Modificando o sentido
Faz “viver” virar “vivido”
Basta um segundo passar.

Pra mudar basta existir
Ninguém pode controlar
Pois tudo que é vivo muda
Viver é se transformar.
Viver é evoluir
E ao deixar de existir
Até morrer é mudar.

Bráulio Bessa
Poesia que transforma. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

Lembrar que cada graveto
de amor e de carinho,
cada folha, cada galho
prepararam o seu caminho,
lhe deram sabedoria
pois já já será o dia
de fazer seu próprio ninho.

É preciso ser honesto
pra cobrar honestidade.
É preciso ser sincero
pra cobrar sinceridade.
E só quem é verdadeiro
pode cobrar a verdade.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Nota: Trecho do poema Verdades e mentiras.

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Só eu sei cada passo por mim dado
nessa estrada esburacada que é a vida,
passei coisas que até mesmo Deus duvida,
fiquei triste, capiongo, aperreado,
porém, nunca me senti desmotivado,
me agarrava sempre numa mão amiga,
e de forças minha alma era munida,
pois do céu a voz de Deus dizia assim:
– Suba os queixo, meta os pés, confie em mim,
vá pra luta que eu cuido das feridas.

Se por acaso você
sentir medo de amar,
se achar que não é mais
possível se apaixonar,
Sempre haverá um alguém
capaz de lhe conquistar.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Nota: Trecho do poema Sempre haverá um alguém.

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Irmão

É a ponte que atravessa
a estrada percorrida
e nos transporta de volta
lá pro começo da vida.
Irmão é a segurança
de que o tempo de criança
jamais será esquecido.
Basta um gesto, um olhar
pro coração recordar
de tudo que foi vivido.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Aula de vida

Na faculdade da vida
de tudo pude aprender.
Cada aula, uma lição,
cada lição, um dever.
As provas me machucando,
mas quem aprende apanhando
pode ensinar sem bater.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Quando chorei de saudade
foi que pude observar
que ela só vem maltratar
quem foi feliz de verdade.
Tem gente que tem vontade
de fazer uma faxina
na mente que traz a sina
que é viver recordando.
O que aprendi chorando
sorriso nenhum ensina.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Nota: Trecho do poema O que aprendi chorando.

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O homem e o cachorro

Um cachorro não se importa com o valor do seu salário, não liga pra sua roupa, não tira extrato bancário, não sabe o que é dinheiro, viagens pro estrangeiro, nem quer morar em mansão. Ele só quer seu carinho e, quem sabe, um cantinho dentro do seu coração.
Eu nunca vi um cachorro desmatando uma floresta, maltratando seu planeta e o pouco que lhe resta. Não polui rio nem mar, também nunca vai marchar pra começar uma guerra, por dinheiro, ambição, racismo, religião ou um pedaço de terra.
Sem diploma, sem estudo, é mestre, é professor da mais bela disciplina: a matéria do amor. E o homem, mesmo estudado, vive sendo reprovado e não aprende a lição, que é tão simples entender, basta a gente perceber, como é que vive um cão… Uma vida que é tão breve, por isso talvez a pressa, a urgência de amar, já que amar é o que interessa, se doar sem querer troco, ser feliz mesmo com pouco. E a humanidade sofrendo, mesmo assim não compreende, peleja, mas não aprende o que um cão nasce sabendo: que amor tem 4 letras e, por certo, 4 patas, não diferencia ouro ou um pedaço de lata, não fala, não sabe ler, mas diz tudo pra você com o poder de um olhar, tão puro e tão leal, tem o dom especial de sempre nos perdoar...
Eu nunca vou entender a tamanha pretensão de um homem que se diz mais sabido que um cão. Em nossa sociedade, infestada de vaidade e sentimentos banais, pro homem poder crescer precisaria viver igualzinho aos animais.

Sempre haverá amor,
sempre haverá o bem,
numa via de mão dupla
com a força de um trem.
Alguém ajuda você
e você ajuda alguém.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Nota: Trecho do poema Sempre haverá um alguém.

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Há quem viva nesta vida
poupando tudo que tem,
se preocupando em deixar
carro, casa ou outro bem.
Mas lhe digo uma verdade:
bom mesmo é deixar saudade
no coração de alguém.

Bráulio Bessa
Poesia que transforma. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

Escrevo e declamo no riso e no pranto,
espalho poesia por tudo que é canto,
por essa estrada escolhi caminhar.
Só paro no dia em que Deus me parar,
dizendo: – “Meu filho, venha aqui em cima
mostrar para os anjos como é que faz rima
cantando galope na beira do mar.”

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Nota: Trecho do poema Galope à beira-mar.

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Se por acaso você
não conseguir caminhar,
se seus pés enfraquecerem,
se a estrada se alongar,
Sempre haverá um alguém
capaz de lhe carregar.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Nota: Trecho do poema Sempre haverá um alguém.

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Se por acaso você
deixar de acreditar,
se a própria humanidade
decidir lhe enganar,
Sempre haverá um alguém
capaz de lhe inspirar.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Nota: Trecho do poema Sempre haverá um alguém.

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Quanto vale um amigo?

Amizade não se compra,
não se vende em prateleira.
Não tem promoção de amigo
no shopping, nem lá na feira.
Um amigo é um presente
de graça, mas faz a gente
ser rico pra vida inteira.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Ano novo é tudo novo
no sentimento da gente,
porém, preserve do antigo
o que lhe empurrou pra frente
junte tudo que prestou
misture com muito amor
e faça um mundo diferente.

Preserve os beijos, os cheiros,
os chamegos de amor,
as gargalhadas mais altas,
as piadas que contou,
e, se a tristeza apertar,
basta você se lembrar
dos sorrisos que arrancou.

O meu ou o seu caminho
não são muito diferentes,
tem espinho, pedra, buraco
pra mode atrasar a gente.
não desanime por nada,
pois até uma topada
empurra você pra frente!

Continue sendo forte
tenha fé no Criador,
fé também em você mesmo,
não tenha medo da dor
siga em frente a caminhada
saiba que a cruz mais pesada
o fí de Deus carregou.

As três letras de mãe

Ela tem o poder de carregar
toneladas de amor e de ternura,
uma infinidade de bravura
e uma luz que jamais vai se apagar,
pois seu brilho é capaz de iluminar
o caminho que vamos percorrer.
Se arrisca pra poder nos proteger
Não importa por onde a gente for.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.

O que ela consegue ensinar
não há curso ou escola que consiga.
A maior professora e grande amiga
com milhões de conselhos pra lhe dar.
Uma fonte impossível de secar
do mais puro e genuíno saber.
Já vi mãe que nem aprendeu a ler
mas consegue dar aula a um doutor.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.

Tem o dom de somar pra expandir
a fartura que alegra o coração.
Mas se acaso for pouco o nosso pão
entra em cena seu dom de repartir.
Uma mestra capaz de dividir
uma gota de água pra beber,
um grãozinho de arroz para comer.
Nessa hora é que o pouco tem sabor.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.

Sei que a alma da mãe é uma janela
que não tem cadeado nem ferrolho.
Basta olhar lá no fundo do seu olho
que a gente pula lá pra dentro dela.
Nessa hora tanta coisa se revela,
fica tudo mais fácil de entender
que até antes mesmo de nascer
você já tinha um anjo protetor.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.

Ah, se Deus desse à mãe eternidade.
Ah, se houvesse um farelo de esperança.
Mas o hoje já, já vira lembrança
e a lembrança já, já vira saudade.
O relógio em alta velocidade
deixa claro que não vai retroceder.
Não espere sofrer pra perceber.
Não espere perder pra dar valor.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

Briguento e melhor amigo,
protegido e protetor.
Juntamos as alegrias,
dividimos cada dor
desde os tempos de criança,
guardamos cada lembrança
no fundo do coração.
Na vida tem muito ex,
mas eu garanto o vocês,
que não existe ex-irmão.

Coisa de mãe

Vez por outra ela duvida
até do nosso amor,
fazendo drama e falando
como quem sente uma dor:
– “Um dia, quando eu morrer,
é que tu vai aprender
e talvez me dar valor.”

Por mais que exista amor,
por mais que exista afeto,
um fato que deixa a gente
preocupado e inquieto
é quando a mãe pronuncia
sem nenhuma alegria
o nosso nome completo!

Quando a gente quer sair,
bate um receio profundo.
Pede à mãe cheio de medo
e nesse exato segundo
diz que “todo mundo vai”
e a resposta dela sai:
– “Você não é todo mundo!”

Tem outra situação
difícil e muito adversa.
Às vezes no mei da rua
a mãe também é perversa
quando ela aponta o dedinho
e diz assim bem baixinho:
– “Em casa a gente conversa.”

Por mais que a gente estude,
que tenha dedicação,
o boletim todo azul
ela olha com atenção
e fala sem gaguejar:
– “Tem mesmo é que estudar.
Não fez mais que a obrigação!”

Se acaso a gente perder
coisa boba ou coisa rara,
ela ativa um radar
potente que nunca para
e diz: – “Se eu for procurar,
garanto que vou achar
e esfregar na sua cara.”

Quando a gente chega perto,
faz um carinho qualquer,
e diz: – “Mãe, vou te amar
enquanto vida tiver!”
Ela responde ligeiro:
– “Hoje eu não tenho dinheiro.
Diga logo o que tu quer!”

Coisa de mãe é dizer:
– Você vai se machucar.
– Cadê o troco, menino?
– Mais tarde vai esfriar.
– Só vou contar até três!
– Bagunçou, vai arrumar.

– Já pegou o guarda-chuva?
– Eu não sou sua empregada.
– Engole esse choro agora!
– Eu nunca estou enganada.
– Na volta a gente compra.
– Você não ajuda em nada!

Coisa de mãe é ser cura
pra aliviar qualquer dor.
Coisa de mãe é o abraço
mais forte e mais protetor.
Coisa de mãe é cuidar,
coisa de mãe é amor.

Bráulio Bessa
Um carinho na alma. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.