Poemas de Baudelaire

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⁠"O homem ama tanto o homem que, quando foge da cidade, ainda é para procurar a multidão, isto é, para refazer a cidade no campo"

⁠"Tanto no moral como no físico, sempre tive a sensação do abismo, não só do abismo do sono, mas do abismo da acção, do sonho, da lembrança, do desejo, do arrependimento, do remorso, do belo, do número. Cultivei a minha histeria com prazer e terror. Agora, continuo com a vertigem e hoje (...), sofri uma singular advertência : senti passar por cima de mim o vento da asa da imbecilidade"

Porque é que o espetáculo do mar é tão infinitamente e tão eternamente agradável? Porque o mar oferece ao mesmo tempo a ideia de imensidade e do movimento. Seis ou sete léguas representam para o homem o raio do infinito. Eis um infinito diminutivo. Que importa se chega para sugerir a ideia do infinito total? Doze ou catorze léguas de líquido em movimento bastam para dar a mais elevada ideia de beleza que oferecida seja ao homem no seu habitáculo transitório?

⁠"Perdido neste vil mundo, acotovelado pelas multidões, sou como um homem cansado cujo olhar não vê para trás, nos anos profundos, senão desilusão e amargura, e, à sua frente senão uma tempestade em que nada de novo se contém, nem ensinamento nem dor"

⁠Uma série de pequenas vontades faz um grande resultado. Qualquer recuo da vontade é uma parcela de substância perdida

Correspondências

A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam sair às vezes palavras confusas:
Por florestas de símbolos, lá o homem cruza
Observado por olhos ali familiares.
Tal longos ecos longe lá se confundem
Dentro de tenebrosa e profunda unidade
Imensa como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se transfundem.
Perfumes de frescor tal a carne de infantes,
Doces como o oboé, verdes igual ao prado,
– Mais outros, corrompidos, ricos, triunfantes,
Possuindo a expansão de algo inacabado,
Tal como o âmbar, almíscar, benjoim e incenso,
Que cantam o enlevar dos sentidos e o senso.

⁠" A menina dos editores
A menina dos chefes de redacção
A menina espantalho, monstro, assassina da arte
A menina, o que ela é na realidade"

Inserida por dia_marti

⁠"Há coisas que deveriam excitar a curiosidade dos homens no mais alto grau, e que, a avaliar pelo seu modo de vida normal, não lhes inspiram nenhuma.
Onde estão os nossos amigos mortos?
Porque estamos nós aqui?
Viemos de alguma parte?
O que é a liberdade?
O número de almas é finito ou infinito?"

Inserida por dia_marti

EMBRIAGUEM-SE

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se!
Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

Charles Baudelaire
Petits poémes en prose (1869).
Inserida por marcosarmuzel

Esses tesouros, esses móveis, esse luxo, essa ordem, esses perfumes, essas flores miraculosas - és tu. Ainda és tu, esses grandes rios e canais tranquilos. Os enormes navios que eles levam, todos carregados de riquezas e de onde sobem os cantos monótonos da manobra, são meus pensamentos que dormem ou resolvem-se no teu peito. Suavemente, tu os conduzes para o mar que é o infinito, espelhando as profundezas do céu na limpidez da tua bela alma; e quando, cansados do marulho e abarrotados de produtos do Oriente, eles regressam ao porto natal, são de novo meus pensamentos enriquecidos que voltam do infinito a ti.

Mesmo uma cômoda entulhada com lembranças,
Notas velhas, cartas de amor, fotografias, recibos,
Deposições judiciais, cachos de cabelo em tranças,
Esconde menos segredos do que o meu cérebro
[poderia produzir.
É como uma tumba, um cemitério de indigentes
[cheio de corpos,
Uma pirâmide onde os mortos deitam-se às
dezenas.
Eu sou um cemitério que a lua abomina.

Um problema (para mim) é que me perceber ignorante e que o esforço para não sê-lo se prova uma tarefa tão difícil ao ponto de abandoná-la e deixar que muitas consequências sobre mim sejam decididas por outras pessoas.

⁠"O mundo vai acabar. A única razão pela qual ele poderia durar, é que existe, como esta razão é fraca, comparada com todas aquelas que anunciam o contrário, particularmente com esta: Que tem o mundo doravante a fazer abaixo do céu? - Porque, supondo que continuasse a existir materialmente, seria uma existência digna deste nome e do dicionário histórico?"

⁠"Não pode marcar-se exactamente onde termina uma influência, mas essa influência substituirá em toda a geração que a sofreu na juventude"

⁠«O homem de espírito, aquele que nunca se porá de acordo com ninguém, deve aplicar-se a amar a conversa dos imbecis e a leitura dos maus livros»

⁠"Para que a lei do progresso existisse, seria necessário que cada qual a quisesse criar; isto é, quando todos os indivíduos se aplicarem a progredir, então, a humanidade estará em progresso"

⁠"A desgraça que se perpetua produz na alma o efeito da velhice no corpo: deixamos de nos poder mexer; deitamo-nos"

⁠"Nada existe sem objectivo. Portanto a minha existência tem um objectivo. Que objectivo? Ignoro-o. Não fui pois, eu quem o fixou"

⁠"Os ditadores são os criados do povo, nada mais - aliás um raio de papel - e a glória é o resultado da adaptação de um espírito à tolice nacional"

So life is about living and living is about experiencing. To experiment is about trying. Trying is to evaluate and evaluating is checking whether you like it or not. Eventually, you define your life based on the experiences you've tried, evaluated and liked. Advice: experiences are usually nicer when shared.

Inserida por lostbit