Poemas de Amor de Guimarães Rosa
A culpa minha, maior, é meu costume de curiosidade
de coração. Isso de estimar os outros, muito ligeiro,
defeito esse que me entorpece
Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.
Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.
Sigo à risca.
Me descuido e vou… Quebro a cara.
Quebro o coração.
Tropeço em mim.
Me atolo nos cinco sentidos.
Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente - o que produz os ventos. Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.
Eu bebo para me desapaixonar... (...)
– E eu para esquecer...
– Esquecer o que?
– Esqueci.
Sigo a risca, me descuido e vou. Quebro a cara, quebro o coração. Tropeço em mim. Me atolo nos sentidos. Viver não é perigoso? Então com sua licença, nasci assim. Encantado pela vida.
Coração cresce de todo lado. Coração vige feito riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e campinas. Coração mistura amores. Tudo cabe. (Guimarães Rosa - Grande Sertão: veredas, p.204)
- o ódio __ é a gente se lembrar do que não deve-de; amor é a gente querendo achar o que é da gente. (Grande Sertão: Veredas. p.377)
Uma breve argumentação
Vai desistir da vida ?
Deixa eu lhe falar:
Seu coração não desistiu de bater.
Seus rins não desistiram de filtrar.
Seus olhos não desistiram de enchergar.
Seus ouvidos não desistiram de escutar.
Suas pernas não desistiram de andar.
Deus não desistiu de te amar.
A estrada do amor, a gente já está mesmo nela, desde que não pergunte por direção nem destino. E a casa do amor – em cuja porta não se chama e não se espera – fica um pouco mais adiante.