Poemas da Seca do Nordeste
AO POLÍTICO!
Não temos água pra banho
um carro pipa a cada mês
a seca aumenta de tamanho
e o nosso povo a mercês
e a metade do nosso ganho
paga o luxo de vocês.
Já não importa o que reste
o que possa me acontecer
a seca é ruim feito a peste
mas nunca vai me vencer
eu sou feliz no nordeste
onde eu nasci pra viver.
Um olhar!
Tem quase nada na mesa
de que adianta o suor
se a seca na natureza
está cada dia pior
e esse olhar de tristeza
de quem não tem a certeza
de um futuro melhor.
Viver na seca!
O nordestino tem fome
a sede mata também
a chuva aparece e some
vai muito mais do que vem
mas cada gole que tome
e o pouco que ainda come
divide pra mais de cem.
Infância seca!
a seca é o pior enredo
pelo destino que lança
a sede, a fome e o medo
segue o fio da esperança
e o menino sem brinquedo
vira homem logo cedo
mesmo sendo uma criança.
Seca medonha!
Essa dor que a seca gera
faz nosso povo sofrer
cada dia mais severa
não permite o grão crescer
ai meu Deus... quem dera
que na próxima primavera
não falte água pra beber.
Sustentação.
A seca traz sofrimento
acaba com nosso chão
a poeira sobe no vento
não nasce o trigo do pão
o sertanejo sem alimento
sai em busca do sustento
bem distante do sertão.
A ida.
A seca está possuída
já não me deixa plantar
abre no peito uma ferida
que nem o tempo vai curar.
e a dor que é mais doída
é ter que trocar de vida
pra viver em outro lugar.
A volta.
Na seca ninguém investe
sem planta e sem animais
parti de rumo ao sudeste
onde eu trabalhei demais
hoje voltei pro nordeste
e não tem seca da peste
que me tire dos meus pais.
Espera!
Todo ano a mesma fera
que faz a terra padecer
no lugar que a seca impera
não tem nada pra nascer
já chegou a primavera
e o nordestino ainda espera
o mês da chuva acontecer.
Lastro da seca.
Quando a seca ameaça
estragar minha plantação
deixa o gado na carcaça
e o rachado lastra o chão
não é coisa que se faça
rogo a Deus por sua graça
que proteja o meu sertão.
Ida!
A seca fere e maltrata
a vida do sertanejo
em cada rosto que vejo
existe um nó que desata
mas pouco a pouco se mata
a semente pura da flor
na transição do destino
se foi mais um nordestino
na longa estrada da dor.
Terra seca!
A seca é permanente
a chuva não aparece
esse povo não merece
viver assim tão dependente
quanta família carente
esperando um só trovão
como é seco o meu sertão
tão ferido nesta guerra
mas rachado que essa terra
só mesmo meu coração.
Dura vida!
Não maltrate o nordestino
que sofre desde menino
sem água para beber
é a seca que castiga
é o oco na barriga
e quase nada pra comer.
Nossa manhã.
Sua visita é bem vinda
aqui na nossa região
a seca maltrata ainda
mas já com moderação
e quando a noite se finda
a manhã nasce mais linda
nas cidades do sertão.
Seca e fé!
A vida é um tanto dura
vivemos por nossa fé
toda dor tem sua cura
na hora que Deus quiser
pouca água entre a secura
enquanto tiver rapadura
nós daqui num arreda o pé.
Sou daqui!
Aqui é o meu endereço
vou do começo ao fim
viver aqui não tem preço
mesmo na seca tão ruim
se estou aqui eu mereço
sou nordestino e agradeço
por Deus ter me feito assim.
Seca e a esperança!
A seca braba e severa
me tangeu do meu lugar
não tem flor na primavera
nem semente pra plantar
cansado de tanta espera
só digo meu Deus quem dera
que um dia eu possa voltar.
Destino!
A seca é um desatino
que não perdoa ninguém
um chuvisco repentino
por essas bandas não vem
não maltrate o nordestino
os maus-tratos do destino
já faz isso muito bem.
A seca de sempre.
Diz ser contra o sofrimento
dos seres irracionais
mas não faz um movimento
no centro das capitais
e a seca do nordeste
continua feito a peste
maltratando os animais.