Poemas da Pátria
Eu sou uma casa
dentro de outra
casa que é o meu Brasil,
O meu Brasil é uma
outra casa dentro
dentro de outra casa
que é a América do Sul,
O telhado da América
do Sul é feito de parte
do telhado de outra casa
que é o Hemisfério Celestial Sul,
E a América do Sul
é uma casa que é vizinha
de outras casas do Sul Global,
Eu sou uma casa dentro
de outras casas assim
sou uma casa sobrenatural
do Norte ao Sul Austral.
(Sinal indígena ancestral)
Badejo é um peixe
que sempre me trouxe
alegria na mesa
em Santa Catarina,
No Brasil de outrora
algo que era badejo
ou até badeja
era exaltação da beleza,
Algo bem parecido
com o quê teu silêncio
entrega de bandeja,
porque sei que algo
em ti por mim fraqueja.
Alma que joga Capoeira
ao som de Urucungo,
assim é todo aquele que
nasceu feito de Brasil profundo.
BANDEIRA UNIVERSAL
Este céu do Brasil e do Japão;
do Sudão, do Himalaia ou do Haiti;
pano azul estendido sobre os mares
dos confins e daqui, é o mesmo pano...
A bandeira infinita, indecifrável,
que nos banha de aurora e de luar,
borda estrelas ou tece o breu total,
faz amar e sofrer em qualquer chão...
Entretanto se ainda somos tristes,
algemamos em nós os nossos sonhos,
temos dedos em riste para o outro...
... É que ainda não vimos mais profundo;
este mundo é presente unificado;
uma prenda embrulhada pelo céu...
BANDEIRA DO BRASIL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Obrigado, Bandeira, por ter tremulado
aos meus olhos carentes de afeto e de letras,
ter me dado essa chave da porta pros livros
que devoro e que sirvo num ciclo constante...
Pelo dia em que pude colher tua ESTRELA
DA MANHÃ que mudou minha vista pro mundo,
numa caixa sem fundo que as traças roíam;
elas quase se fartam de seus madrigais...
Por meus versos ou plágios que fiz inocente,
mas que foram sementes dos originais
que mais tarde se abriram na minha lavoura...
Um acaso feliz me vestiu de magia
e da sua poesia me reconstruiu;
obrigado, Brasil, porque tive Bandeira...
UMA GRANDE PERDA PARA O BRASIL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Brasil perde Zé Silva de Souza. O pedreiro morreu na manhã desta segunda-feira, vítima de um infarto do miocárdio. Em estado de choque, neste momento a família recebe as condolências de vizinhos e amigos, todos muito emocionados.
Natural do Cariri, no Ceará, Zé Silva chegou ao Rio de Janeiro no fim dos anos setenta, para tentar a sorte no seu ofício. Morava no Morro Dona Marta, e além do próprio barraco, trabalhou na construção dos cafofos de João Guerra, Tonho Bocão, Maria do Josenaldo, e também ajudou a erguer várias construções consideradas importantes. Carreira digna de um homem simples e trabalhador.
Em pronunciamento à turma do Boteco da Graça, Mané Zoião declarou que que Zé Silva era um grande sujeito, pai carinhoso, e provavelmente um marido arretado, pois a patroa, Chica das Dô, sempre foi doida por ele.
Com diploma do antigo primário, Zé Silva lia razoavelmente bem; fazia contas com ligeireza; não tinha preguiça. Nunca usou drogas nem se meteu com traficantes, milicianos ou políticos.
Além da patroa, filhos, amigos e admiradores, o pedreiro deixou alguns "cachos", porque não era ferro, e a carne é fraca. Ele foi sepultado em um cemitério da baixada fluminense, região da qual não gostava, pois era torcedor do Flamengo.
BRASIL: QUEM SOBREVIVER VERÁ
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Em todas as instâncias, os governantes deste país estão apaixonados pela crise. Também pudera. É a crise que lhes dá os argumentos necessários para que possam embolsar cada vez mais o tesouro público, e cobrar do próprio tesouro, para depois embolsar mais ainda, sem a vigilância criteriosa de um povo que já se habituou às explicações oficiais.
"infelizmente, por causa da crise, teremos que atrasar os salários...", "devido à crise que atravessamos, este ano seremos obrigados a suprimir alguns benefícios...", "informamos ao servidores que a crise está nos levando a deixar de cumprir a segunda parte do décimo terceiro...", "pedimos desculpas aos fornecedores, mas, em consequência da crise, não poderemos honrar nossas dívidas...", "brasileiros! Infelizmente, a crise nos obriga a majorar os impostos, os combustíveis e tudo o mais, para tentarmos recuperar a economia!". Blá, blá e blá...
A paixão é assim: fazemos tudo em seu nome. Usamos de todos os artifícios para mantermos o alvo do sentimento. Não seria diferente com a crise, que o governo federal manterá indefinidamente para facilitar a própria vida e a dos demais governantes, sem contar os parlamentares, ministros e demais assessores. Graças à crise no Brasil - que não é a mesma do mundo, e sim, causada especialmente pela onda de corrupção política -, executivo e legislativo de todas as esferas seguirão roubando impunemente, certos de que o povo seguirá pagando a conta.
Só quero ver, no ano que vem, se faltarão recursos, por exemplo, para cumprir todas as metas inerentes à olimpíada. Se faltarão, em algum momento, recursos para os inúmeros assistencialismos que garantem milhões de votos... e se também faltarão recursos para campanhas eleitorais, tanto em 2016 quanto em 2018. Quem sobreviver verá.
Evite dizer: eu torço para o Brasil.
Quem torce "por" um time não torce “para”, e sim "pelo" ou "pela".
Por exemplo: torço "pelo" Brasil na copa. Estou torcendo "pela" Argentina.
Terra nossa – Brasil
(Inspiração adolescente)
Quantas maravilhas... Há milhares! Não dá para contar:
... Estrelas brilhantes de constelações reluzentes!
... Noites prateadas!
... Escuridões melancólicas!
Tristeza, em todos os cantos, também há!
Alegria, encontra-se em quem?
Em piadas feitas por cariocas...
Trabalho, encontra-se em quem?
Nas mãos de paulistas... e dos demais!
Gente simples, ama a vida, ama a paz!
Encontra-se no destino
Dos incomparáveis nordestinos.
Afinal, gente que tem tudo que pode haver!
Noites, só vendo para crer.
Dias vivendo aqui, olhando daqui e dali...
Encontrando coisas para os demais povos admirarem...
Gente alegre, gente trabalhadora, gente simples...
A qualquer um serve de companhia...
Dá o que tem,
Faz o que sabe,
Ensina o que aprende...
Conta para eles, pessoas do mundo inteiro,
Qual dos mares é mais lindo?
Onde tudo é coisa viva...
Porventura conhece outro?
__ Não!
Gente que aprendeu a amar o que é seu!
(1967)
PRÉ-BRASIL
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Neste momento inacreditável de pré-Brasil “reditadura”, quiçá “recolônia”, conquistado pela força e a motivação inexplicáveis de maioria dos brasileiros, eis aqui um feliz perdedor. Tenho grande honra de compor o grupo dos compatriotas derrotados, por uma razão também inacreditável – neste caso, para os milhões de vencedores: Eu seria muito infeliz, caso a força e a motivação que me levassem a qualquer vitória na vida viessem do moralismo raivoso, do preconceito generalizado e da fome voraz de poder sobre a natureza do próximo.
À BEIRA DO CAOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
De repente um Brasil que perdeu toda brasa,
se desfez do sentido forjado em brasão;
ficou triste, carvão, do carvão se faz cinza,
feito casa que agora não abriga um lar...
Meu Brasil "pátria nada", mátria que sonega
sua essência, seu seio, seu aleitamento,
Já não rega o presente pra florir futuro
nem se abre no campo de nossa esperança...
Um país que aceitou se calar ante o nada,
onde o tudo é a farsa cruel do poder,
da mentira que agrada os que se valem dela...
Uma terra que aterra verdades vencidas,
põe as vidas mais frágeis pendentes no caos,
desmorona os conceitos de cidadania...
O Brasil que eu quero é um país melhor para os aposentados.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os jovens.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os professores.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os alunos.
O Brasil que eu quero é um país melhor para as mulheres.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os homens.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os gays.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os negros.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os brancos.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os evangélicos.
O Brasil que eu quero é um país melhor para os ateus.
O Brasil que eu quero é um país melhor para minha família.
O Brasil que eu quero é um país melhor para minha empresa.
O Brasil que eu quero é um país melhor para mim.
E assim por diante...
Cada um quer um país que melhor lhe convém.
O gigolô do estado, pessoas que escolhem ficar de boa por opção.
Sabemos que o Brasil é um país extremamente desigual. Por isso, louvo aquelas pessoas que deixam de lado a vitimização e vão à luta por um lugar ao sol.
Essas pessoas precisam carregar uma cruz muito maior e mais pesada do que a grande maioria, passando por portas extremamente fechadas e cheias de obstáculos por anos e anos de suas vidas.
Talvez essa lógica cruel faça muitos desistirem de pagar esse preço. Assim, acredito que alguns, de forma consciente, e muitos, inconscientemente, optam por usufruir da política do "pão e circo".
Cada vez mais estou pragmático.
Não quero nem saber quem criou esse caos chamado Brasil. Estamos na linha de frente e precisamos nos proteger dessa gente.
Compreendo que, nesse país, a maioria dos delinquentes são vítimas de anos e anos de exclusão social. Pouquíssimos deles escolheram ser bandidos por opção. Sei que nosso estado nunca se preocupou em dar a mão e provavelmente nunca dará. Ganhamos com essa realidade tosca que vivemos.
Nesse fogo cruzado, precisamos escolher um lado entre o inocente que mata e o inocente que morre.
É uma questão de sobrevivência.
Se todos falam que o culpado é o estado.
Então, ao invés de matar o peão do lado.
Matem o estado!
Matem os donos do mundo!
No Brasil, a intensidade do racismo é diretamente proporcional às diferentes tonalidades da pele negra.
Quanto mais escura é a cor, maior é a dor.
O movimento antivacina no Brasil tem um viés muito mais de negacionismo político do que de negacionismo científico.
A maioria esmagadora de seus defensores já tomou outros tipos de vacina por conta própria, o que torna uma contradição autodenominarem-se "antivacina".
Qual grupo identitário é mais afetado pela interseccionalidade no Brasil?
Seria a sobreposição da mulher negra, pobre e lésbica a mais relevante?
É possível hierarquizar o sofrimento?
Existe uma percepção generalizada de que o Brasil é um país marcado pela violência.
Em virtude da predominância da população negra, algumas correntes de pensamento sugerem que a incidência de violência é proporcional à demografia, insinuando que a elevada taxa de mortalidade entre os negros é resultado de sua maioria populacional.
Este discurso comumente difundido postula que a violência é um fenômeno neutro em relação à raça, afetando igualmente todos os estratos sociais.
No entanto, uma análise mais minuciosa das estatísticas revela disparidades significativas, evidenciando que a população negra é desproporcionalmente afetada pela violência e sujeita à desumanização.
Tudo indica que no Brasil foi adotado o paradigma de "crescer se divertindo".
O desenvolvimento das competências de pensamento crítico, observação e argumentação foi negligenciado em diversas instituições educacionais, resultando na privação da nossa capacidade de articular e expressar ideias de forma escrita ou verbal. A trivialização do ambiente escolar, onde se promove a ideia de que tudo deve se assemelhar a uma brincadeira, sugere ser esta a norma predominante.
A exigência acadêmica sofreu um declínio substancial, culminando em um ensino mais superficial e desafiador. É alarmante observar alunos concluindo o ensino médio sem o domínio da escrita coesa e correta em seu próprio idioma.
Essa negligência educacional pode provocar um aumento das desigualdades sociais e a ampliação do hiato entre as camadas pobres e ricas da população. Tal cenário pode gerar uma segregação socioeconômica ainda mais acentuada, comprometendo a coesão social e o desenvolvimento equitativo do país.
O desafio enfrentado pelo Brasil não se limita meramente à questão da corrupção, mas está principalmente arraigado na instituição da escravidão e na estrutura do sistema escravocrata que se consolidou no país.
Tal sistema engendrou uma profundamente enraizada desigualdade social, sustentada por uma elite que exerce domínio sobre o mercado e submete o Estado a seus interesses.
A corrupção política e os privilégios concedidos à elite constituem apenas elementos de um projeto de nação patrimonialista, o qual manipula a classe média e perpetua grandes disparidades entre as diversas classes sociais.