Poemas curtos de Mário Quintana
O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família.
Amizade: quando o silêncio a dois não se torna incômodo.
Amor: quando o silêncio a dois se torna cômodo.
Por que será que a gente vive chorando os amigos mortos e não aguenta os que continuam vivos?
Confesso que até hoje só conheci dois sinônimos perfeitos: "nunca" e "sempre".
As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.
A saudade que dói mais fundo – e irremediavelmente – é a saudade que temos de nós.
Naquele dia fazia um azul tão límpido, meu Deus, que eu me sentia perdoado para sempre não sei de quê.
A Coisa
A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.
Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas.
Era uma vez duas pulguinhas que passaram a vida inteira economizando e compraram um cachorro só pra elas...
Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria.
Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.
Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros.
A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos...
A psicanálise? Uma das mais fascinantes modalidades do gênero policial, em que o detetive procura desvendar um crime que o próprio criminoso ignora.
Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.
O maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo ou narrativo, que se pode ouvir pensando noutra coisa...
Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.
Nos foram dadas duas pernas para andar, as duas mãos para segurar, dois ouvidos para ouvir, dois olhos para ver…mas por que só um coração? Porque o outro foi dado a alguém para nos encontrar.