Poemas curtos de Mário Quintana
A nossa própria alma apanha-nos em flagrante nos espelhos que olhamos sem querer.
Cada palavra é uma borboleta morta espetada na página:
Por isso a palavra escrita é sempre triste...
Para mim o poeta não é essa espécie saltitante que chamam de Relações Públicas. O poeta é Relações íntimas. Dele com o leitor.
Os verdadeiros poetas não leem os outros poetas. Os verdadeiros poetas leem os pequenos anúncios dos jornais.
E eis que, tendo Deus descansado no sétimo dia, os poetas continuaram a obra da Criação.
O poeta é uma criatura essencialmente dramática, isto é, contraditória, isto é, verdadeira.
Tudo já está nas enciclopédias e todas dizem as mesmas coisas. Nenhuma delas nos pode dar uma visão inédita do mundo. Por isso é que leio os poetas. Só com os poetas se pode aprender algo novo.
A magia das palavras num poeta deve ser tão sutil que a gente esqueça que ele está usando palavras.
Eles ergueram a Torre de Babel para escalar o Céu. Mas Deus não estava lá! Estava ali mesmo, entre eles, ajudando a construir a torre.
O homem é um bicho que arreganha os dentes sem necessidade, isto é, quando nos sorri.
Se alguém acha que estás escrevendo muito bem, desconfia… O crime perfeito não deixa vestígios.
Todo poema é uma aproximação. A sua incompletude é que o aproxima da inquietação do leitor. Este não quer que lhe provem coisa alguma. Está farto de soluções.
Tenho uma enorme pena dos homens famosos, que por isso mesmo perderam sua vida íntima e são como esses animais do Zoológico, que fazem tudo à vista do público.
Não tentes tirar uma ideia da cabeça de outrem porque, examinando bem, verás que em geral não se trata de ideias, mas de convicções. São inextirpáveis. E a causa única de todas as guerras – políticas ou religiosas, paroquianas ou internacionais.