Poemas de Charles Bukowski
Com as mulheres, havia esperança com cada uma, mas isso era no princípio. Mesmo no começo, eu saquei, parei de procurar a Garota Ideal; eu só queria uma que não fosse um pesadelo.
De qualquer modo, escrevi sobre uma rã que encontrei no jardim, com uma das pernas presa numa cerca de arame. Não podia se soltar. Eu tirei a perna dela da cerca, mas mesmo assim ela não podia se mover. Por isso eu peguei ela no colo e conversei com ela. Disse que eu também estava preso, que minha vida tinha ficado presa em alguma coisa. Conversei com ela durante um longo tempo. Finalmente, a rã saltou do meu colo e saiu saltando pela grama afora, e desapareceu num matagal. E eu disse a mim mesmo que ela era a primeira coisa de que eu já sentira saudade em minha vida.
Algumas pessoas nunca enlouquecem.
Elas devem viver uma vida verdadeiramente horrível.
Você pode sentar no topo de uma montanha e meditar por décadas e nada vai mudar. Você pode mudar a si mesmo para ser aceitável, mas talvez isso também esteja errado.
Sim, a gente pode acabar em dois dias, ou durar ainda dois mil anos. Não sabemos qual das duas hipóteses, e por isso, é difícil pra muita gente se interessar por alguma coisa.
Tenho lido os filósofos. São uns caras realmente estranhos, engraçados e loucos. Jogadores. Descartes veio e disse: é pura bobagem o que esses caras estão falando. Disse que a matemática era o modelo da verdade absoluta e óbvia. Mecanismo. Então, Hume veio com seu ataque à validade do conhecimento cientifico causal. E depois veio Kierkegaard: ‘Enfio meu dedo na existência – não tem cheiro de nada. Onde estou?’. E depois veio Sartre, que sustentava que a existência é absurda. Adoro esses caras. Embalam o mundo. Será que tinham dor de cabeça por pensar dessa forma? será que uma torrente de escuridão rugia entre seus dentes? Quando você pega homens como esses e os compara aos homens que vejo caminhando nas ruas ou comendo em cafés ou aparecendo na tela da TV, a diferença é tão grande que alguma coisa se contorce dentro de mim, me chutando as tripas.
As pessoas são interessantes no início. Aos poucos, porém, todos os defeitos e loucuradas botam as manguinhas de fora, é inevitável.
“As pessoas vão se agarrando às cegas a tudo que existe: comunismo, comida natural, zen, surf, balé, hipnotismo, encontros grupais, orgias, ciclismo, ervas, catolicismo, halterofilismo, viagens, retiros, vegetarianismo, Índia, pintura, literatura, escultura, música, carros, mochila, ioga, cópula, jogo, bebida, andar por aí, iogurte congelado, Beethoven, Bach, Buda, Cristo, heroína, suco de cenoura, suicídio, roupas feiras à mão, voos a jato, Nova York, e aí tudo se evapora, se rompe em pedaços. As pessoas têm de achar o que fazer enquanto esperam a morte.”
Na verdade, não sou muito bom com as palavras. Sinto-me muito tímido e nervoso. Guardo tudo para pôr no papel. Tenho certeza de que o senhor ficará desapontado comigo, mas sempre fui assim.
Sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não-ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante, dava muito trabalho. Eu queria mesmo um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava.
A tristeza é causada pela inteligência, quanto mais você entende certas coisas, mais você gostaria de não compreendê-las.
Eu era um homem que se fortalecia na solidão; ela era para mim a comida e a água dos outros homens. Cada dia sem solidão me enfraquecia. Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia. A escuridão do quarto era como um dia ensolarado para mim.
O orgulho e a autoestima nem sempre são suficientes para amortizar minhas falhas, o que, às vezes, são tão pesadas que eu quebro a minha volta. Não importa: até agora ao longo do tempo sempre sarados.
Pessoas entediadas. Todas sobre a terra. Todas propagando mais pessoas entediadas. Que show de horrores, a terra infestada com pessoas entediadas.
Já encontrei homens livres nos lugares mais estranhos e de todas as idades - porteiros, ladrões de automóveis, lavadores de carros, e algumas mulheres também, principalmente enfermeiras ou garçonetes, e de todas as idades. É muito raro encontrar almas livres, mas logo se vê quando são - antes de mais nada pela sensação boa, ótima, por causa da sua proximidade ou da sua companhia.