Poemas de Charles Bukowski
Provaremos as ilhas e o mar
sei que em alguma noite
em algum quarto
logo
meus dedos abrirão
caminho
através
de cabelos limpos e
macios
canções como as que nenhuma rádio
toca
toda tristeza, escarnecendo
em correnteza.
moças
por favor doem
seus corpos e suas
vidas
para os jovens homens
que as merecem
além disso
não haveria jeito
de eu ser capaz de
dar boas vindas
ao intolerável
tedioso e
sem sentido INFERNO
que vocês trariam
pra minha vida.
E
eu vos desejo
sorte na cama
e fora
dela.
Mas não
na
minha.
Obrigado.
Às vezes você vive e fica com uma mulher e não tem ideia real do porquê.
Com ela eu sabia: era o simples, fascinante,
inexorável mistério e terror
de ela ser assim
você já beijou uma pantera?
essa mulher pensa que é uma pantera
e às vezes quando fazemos amor
ela rosna e funga
e seus cabelos se soltam
e por trás deles ela me olha
e me mostra suas presas
mas eu a beijo de qualquer jeito e continuo amando.
você já beijou uma pantera?
você já viu uma pantera fêmea se deliciando
com o ato do amor?
você nunca amou, meu amigo.
você com suas esquilas e tâmias
e elefantas e ovelhas.
você tem que dormir com uma pantera
você nunca mais vai querer
esquilas, tâmias, elefantas, ovelhas, raposas,
carcajus,
nada mais a não ser a pantera fêmea
a pantera fêmea atravessando o quarto
a pantera fêmea atravessando a sua alma,
todas as outras canções de amor são mentiras
quando aquela pele macia e escura vier em sua direção
e o céu desabar sobre suas costas,
a pantera fêmea é o sonho se realizando
e não há volta
ou desejo de –
aquela pele sobre a tua,
a busca terminada
e você aprisionado nos olhos de uma pantera.
"...Quando você partiu
você levou quase
tudo.
Eu me ajoelho à noite
diante de tigres
que não me deixarão em paz.
O que você foi
não vai acontecer de novo.
Os tigres me encontraram
e eu não me importo mais."
Já se deu conta
de que se eu fosse uma calculadora
eu poderia entrar em pane
registrando
as infinitas vezes que você usou
esse olhar castanho-claro?
As pessoas apaixonadas, em geral, se tornam impacientes, perigosas. Perdem o senso de perspectiva. Perdem o senso de humor. Ficam nervosas, tornam-se chatas, psicóticas. Podem virar assassinas.
Por que há tão poucas pessoas interessantes? Em milhões, por que não há algumas? Devemos continuar a viver com esta espécie insípida e tediosa? O problema é que tenho de continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, se eu quiser consertar este computador, se eu quiser dar descarga na privada, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir a minha barriga, tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores necessidades, mesmo que eles me causem horror. E horror é uma gentileza.
A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa democracia se pode votar antes de obedecer às ordens.
As vezes você levanta da cama de manhã e pensa, eu não vou conseguir, mas você ri por dentro lembrando todas as vezes que sentiu isso.
“Falta imaginação à maioria das pessoas supostamente valentes. É como se não pudessem conceber o que aconteceria se alguma coisa saísse mal. Os verdadeiros valentes vencem a sua imaginação e fazem o que devem fazer.”
Acho que estou acostumado a me sentar num quartinho e fazer com que as palavras tenham algum sentido. Já vejo o suficiente da humanidade nos hipódromos, nos supermercados, nos postos de gasolina, nas estradas, nos cafés etc. Não se pode evitar. Mas tenho vontade de me dar um chute na bunda quando vou a festas, mesmo que a bebida seja de graça. Nunca funciona comigo. Já tenho argila suficiente para brincar. As pessoas me esvaziam. Preciso sair para me reabastecer. Sou o que é melhor para mim, sentado aqui atirado, fumando um baseadinho e vendo as palavras brilharem na tela. Raramente encontro uma pessoa rara ou interessante. É mais que pertubador, é um choque constante. Está me tornando um maldito mal-humorado. Qualquer um pode ser um maldito mal-humorado, e a maioria é.
Sentia-me frustrado, tudo me derrotava. Eu começava a ficar deprimido. Minha vida não estava indo para lugar algum. Precisava de alguma coisa, o brilho das luzes, glamour, alguma porra. Me sentia esquisito. Como se nada tivesse importância. O jogo me cansava. Eu perdera a garra. A existência não era apenas absurda, era simplesmente trabalho pesado. Pense em quantas vezes a gente veste as roupas de baixo em toda a vida. Era surpreendente, era repugnante, era estúpido.
É preciso muito desespero, descontentamento e desilusão para escrever alguns bons poemas. Não é para todos nem escrevê-los ou mesmo lê-los.
"Sentia vontade de chorar, mas não saía lágrima alguma. Era só uma espécie de tristeza, de náusea, uma mistura de uma com a outra, não existe nada pior. Acho que você sabe o que quero dizer, todo mundo, volta e meia, passa por isso, só que comigo é muito freqüente, acontece demais."
"Nunca nos é permitido, sabe? É por isso que todos nós gostamos de ver os loucos, em filmes ou algo assim. Nós os admiramos, porque eles fazem exatamente o que querem fazer."