Poemas Bonitos de Fernando Pessoa

Cerca de 717 poemas Bonitos de Fernando Pessoa

Quanto mais alta a sensibilidade, e mais sutil a capacidade de sentir, tanto mais absurdamente vibra e estremece com as pequenas coisas. É preciso uma prodigiosa inteligência para ter angústia ante um dia escuro. A humanidade, que é pouco sensível, não se angustia com o tempo, porque faz sempre tempo; não sente a chuva senão quando lhe cai em cima.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego

Ser solitário para ser sincero e puro na alma. O homem ente coletivo - é um ser corrupto.

Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes. A sua vida humana é cheia de tudo quanto constituiria uma série de angústias para uma sensibilidade verdadeira. Mas, como a sua verdadeira vida é vegetativa, o que sofrem passa por eles sem lhes tocar na alma, e vivem uma vida que se pode comparar somente à de um homem com dor de dentes que houvesse recebido uma fortuna — a fortuna autêntica de estar vivendo sem dar por isso, o maior dom que os deuses concedem, porque é o dom de lhes ser semelhante, superior como eles (ainda que de outro modo) à alegria e à dor.
Por isto, contudo, os amo a todos. Meus queridos vegetais!

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982
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Para realizar um sonho é preciso esquecê-lo, distrair dele a atenção. Por isso realizar é não realizar. A vida está cheia de paradoxos como as rosas de espinhos.

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Livro do Desassossego. Vol I. Coimbra: Presença. 1990. p. 147

Uma inquietação enorme fazia-me estremecer os gestos mínimos. Tive receio de endoidecer, não de loucura, mas de ali mesmo. O meu corpo era um grito latente. O meu coração batia como se falasse.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego

A timidez é o mais vulgar de todos os fenômenos. O que há de mais vulgar em todos nós é termos medo de sermos ridículos…

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio.
(Aforismos e afins)

A solidão desola-me; a companhia oprime-me. A presença de outra pessoa descaminha-me os pensamentos; sonho a sua presença com uma distracção especial, que toda a minha atenção analítica não consegue definir.

O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

"Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo, de incongruência com os outros, é que a maioria pensa com a sensibilidade, e eu sinto com o pensamento."

"nunca deixo saber aos meus sentimentos o que lhes vou fazer sentir... brinco com minhas sensações como uma princesa cheia de tédio com os seus grandes gatos prontos e cruéis..."

Descobri que a leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de sonhar, porque não sonhar os meus próprios sonhos?

Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a consciência do meu corpo, que sou a criança triste em quem a vida bateu.

Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa — não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego

O melhor de viajar não é ganhar, é perder. E o que de melhor se perde, em viagens, é o eu.

Quem não quiser sofrer que se isole. Feche as portas da sua alma quanto possível à luz do convívio.

Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
(Tabacaria)

Senhor, dá-me alma para Te servir e alma para Te amar. Dá-me vista para Te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para Te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em Teu nome.

Fernando Pessoa

Nota: Em "Prece" - Extraído de "Fernando Pessoa - O livro das citações" - Organizado por José Paulo Cavalcanti Filho - Editora Record - Rio de Janeiro, 2013

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Custa tanto ser sincero quando se é inteligente! É como ser honesto quando se é ambicioso.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.