Poemas Bonitos
Não por orgulho meu, mas antes por me faltar o raso de paciência, acho q sempre desgostei de criaturas que com pouco e fácil se contentam.
Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto.
A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que não se misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data.
Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito. Eu penso é assim, na paridade. (...) Um sentir é o do sentente, mas outro é o do sentidor. O que eu quero, é na palma da minha mão.
Ando a ver. O caracol sai ao arrebol. A cobra se concebe curva. O mar barulha de ira e de noite. Temo igualmente angústias e delícias. Nunca entendi o bocejo e o pôr-do-sol. Por absurdo que pareça, a gente nasce, vive, morre. Tudo se finge, primeiro; germina autêntico é depois. Um escrito, será que basta? Meu duvidar é uma petição de mais certeza.
Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. (…) A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. (…) Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe; e se sabe, me entende.
Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo.
Até hoje, para não se entender a vida, o que de melhor se achou foram os relógios. É contra eles, também, que temos que lutar...
Quantas mangas perfaz uma mangueira, enquanto vive? - isto, apenas. Mais, qualquer manga em si traz, em caroço, o maquinismo de outra, mangueira igualzinha, do obrigado tamanho e formato. Milhões, bis, tris, lá sei, haja números para o Infinito. E cada mangueira dessas, e por diante, para diante, as corações-de-boi, sempre total ovo e cálculo, semente, polpas, sua carne de prosseguir, terebintinas.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
EM MIM
Paro à beira de mim e me debruço...
Abismo... E nesse abismo o Universo,
Com seu tempo e seu 'spaço, é um astro, e nesse
Alguns há, outros universos, outras
Formas do Ser com outros tempos, 'spaços
E outras vidas diversas desta vida...
O espírito é outra estrela... O Deus pensável
É um sol... E há mais Deuses, mais 'spíritos
De outras essências de Realidade...
E eu precipito-me no abismo, e fico
Em mim... E nunca desço... E fecho os olhos
E sonho — e acordo para a Natureza...
Assim eu volto a mim e à Vida...
Deus a si próprio não se compreende.
Sua origem é mais divina que ele,
E ele não tem a origem que as palavras
Pensam fazer pensar...
O abstrato Ser [em sua] abstrata idéia
Apagou-se, e eu fiquei na noite eterna.
Eu e o Mistério — face a face...
Sinto
Sinto, em meu coração, que gosto de você.
Só não sei o quanto eu gosto de você.
Mesmo sem saber qual é essa quantidade,
Nesse sentimento, eu encontro a felicidade,
O que fortalece a minha saúde mental.
Por isso, esse sentimento, para mim, é muito legal!
Sinto, em meu coração, que você gosta de mim.
Só não sei o quanto você gosta de mim.
Mesmo sem saber qual é essa quantidade,
Neste sentimento, eu encontro a felicidade,
O que fortalece ainda mais a minha saúde mental.
Por isso, este sentimento, para mim, é genial!
Quintana, Bandeira e Neruda
escreviam suas dores, as cores
deixando as almas em paz
Alimentavam assim, outros seres
aos leitores apaziguar
Seus escritos fazem até hoje
nos dias atuais, nossos corações
simplesmente pulsarem
Nossos grandes mestres, escritores
vem para nos inspirar
Quero Colo
Como eu queria muito
O colo de minha mãe!
E voltar a ser criança
Novamente.
E nunca mais me soltar
Nesse mundo hostil
E ficar seguro de teu amor
Imortal que era só da gente.
E mesmo se eu correr
Por essas esquinas escuras
E ralar meus joelhos
Grito teu nome, peço socorro
Minha heroína vem a mim
Nesses encontros dramáticos
Dos caminhos que escolhi mesmo.
Hoje estou solto no mundo
Não tenho mais o colo materno
Daquela que me deu a vida
E me amou incondicionalmente.
Hoje busco outras formas de colo
No mesmo molde de ternura
Carinho, afeto e muito amor...
A felicidade de um menino
Em meu colo inexistente.
Um colo é a coisa mais importante
No que a gente possa ter na vida.
Sem falar da segurança, proteção,
Você é bem guiado e orientado
Nos domínios sombrios desta terra
E isto precisa ser mais cedo
Como tive o colo da minha mãe
Como tive o colo da minha irmã
Hoje tenho colo da minha esposa
Hoje tenho colo deste meu afã:
Quero ser muito feliz ainda,
Mas tenho muito, muito medo!
O impossível é um infinito.
O infinito sempre será infinito,
até escolhermos entendê-lo,
colapsando-o e tornando-o finito
em um espaço único e limitado.
Da mesma forma acontece
quando você busca alcançar o impossível:
você o torna possível.
O impossível é um infinito
que ainda não foi colapsado por alguém.
Poema Canção Amiga
Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Nota: Trecho do poema Para Sempre Link.
...MaisComo a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nula.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!
O quarto em desordem.
Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor
que não se sabe como é feita: amor,
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar
a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,
verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.