Poemas Bonitos
O homem inventou a igualdade.
Na natureza tudo é desigual.
A perfeição é invenção geométrica.
A ordem do mundo é o caos mutante.
A criação é sempre nova:
só acontece uma vez.
Se você aprender a ver
nunca mais dirá que o mundo
é o mesmo o tempo todo.
O que é um borrão
senão uma forma sem nome.
Não tem certidão geométrica.
É uma forma sem forma.
Um transgressor chamado amorfo.
Mas, acontece que a vida
é cheia de borrões
e não dos entes geométricos,
que o homem inventou.
Com qual medida medimos
o homem que tudo mede?
Que metro que não o homem
pode medir o além do humano?
Que metro pode medir
o infinito e a eternidade?
Qual a medida da alma?
Em que espaço e em que tempo
a alma é encontrada?
Como morre o que não é
capaz de ser mensurado?
Como nasce o que não é
feito de matéria e tempo?
Mas, o que faz esse corpo
pensar que é alma imortal?
Se afago a madeira,
afago a árvore.
A floresta persiste
em cada móvel.
Mesas, cadeiras e armários
são árvores amnésicas.
A cidade cresce para cima:
faz fronteira com o nada,
porque nada existe além
do último andar.
A cidade cresce para cima,
em edifícios cada vez mais altos:
aumenta seus subúrbios verticais.
Quarto de hotel é promíscuo.
Por mais que seja limpo
por zelosas faxineiras,
permanece sempre o cisco
de emoções e pensamentos
de seus hóspedes fugazes,
nos lençóis, nos travesseiros,
nas fronhas, mesmo lavados,
diligentemente trocados,
no chão e no guarda-roupa,
na cama e nas cadeiras.
Nos cabides pendurados
problemas ali deixados
e também mágoas dormidas
fedendo nos cobertores.
Misto de sonho e carne,
somos carne que sonha
ou sonho que se fez carne?
O sono é que nos divide
em dois seres paralelos.
Qual deles é o ser real?
O que não serve para nós
apenas não nos serve.
Quem percebe
a totalidade
sabe que nada é inútil,
e que as coisas existem
sem explicação.
Se tudo tem um sentido,
qual o sentido do homem,
da flor, da pulga, da estrela?
No agora não há palavras:
o que se fala, passou.
A palavra é sempre eco
do que não existe mais.
A percepção é agora.
O pensamento é depois.
Não vejo as tuas pegadas
nem escuto os teus passos,
pois és feito de silêncio
e de invisibilidade.
O real não é a medida
da nossa percepção.
Eu creio no que não vejo,
no que não ouço, nem toco.
Os sentidos me apequenam
e a razão me aprisiona,
o corpo me faz mortal.
Tempo e espaço são o cárcere
do prisioneiro ilusório.
Quem crê em suas paredes,
não pode ver o infinito.
Somente quando te fizeres vazio,
experimentarás o Vazio.
Somente quando não tiveres vontade,
conhecerás a Vontade.
Somente quando deixares de ser,
encontrarás o Ser.
Somente quando te despojares
do que julgas ser teu,
possuirás o que é teu.
Somente quando te sentires vazio de tudo,
reconquistarás a Plenitude.
Sentimos a flor conforme a vemos
não pelos átomos que a compõem.
Quem disseca a flor, não vê a flor.
É procurar o homem no cadáver.
Liberdade de uma folha
girando solta no ar,
nas circunstâncias do vento,
o vento que é sem caminho
embora seja caminho
onde vaga o seu voar.
Se o vento é que nos dirige
por que, folha, nós queremos
dirigir nosso voar?!
O vento sopra impetuoso,
vergando a copa das árvores.
As folhas caem no chão:
folhas secas, folhas verdes.
Por que não somente as secas?