Poemas Bonitos
Você Está Louco -
Lembro-me dela na mais peculiar
das lembranças:
ela bocejando em minha frente.
E ainda assim, ela
me atraía.
E me atrai como nenhuma
outra.
Como nem mesmo as melhores garotas
que vemos nas redes sociais
conseguem.
E todos dirão: "você está louco?
Você está louco? Você está
louco! — está apaixonado".
Num tom que denuncia algo como:
"você é um fraco, um idiota, um
derrotado! — está apaixonado.
Os mais fortes ignoram-nas.
Os mais fortes rejeitam-nas.
Os mais fortes usam-nas
como usam coisas e
descartam coisas.
Mas você é um fraco — está apaixonado.
Ela vai acabar com você."
E não é que eles estejam
certos,
não, definitivamente, não
estão.
Mas a verdade é que elas
sempre acabam
comigo.
Nossa Importância —
Que loucura!
Precisamos estar vivos
para que nos queiram
mortos.
E mortos para que nos
façam vivos.
Algumas pessoas merecem
nosso sorriso,
nunca, nunca nossas
alegrias.
Golpe Baixo –
E de repente você pensa
em quantas coisas conseguiu fazer
esta semana:
De quantos oportunistas conseguiu desvencilhar-se;
Quanta gente idiota, mesquinha
e mau-caráter conseguiu
evitar, entre ir ao supermercado pela
manhã e tentar entender o porquê
de tanta coragem antes de
dormir à noite.
E, naturalmente, há algo
a ser comemorado.
De certo modo, você tem
sido forte:
tem conseguido controlar alguns
desejos impulsivos, algumas paranóias,
alguns medos.
E tudo isso, por enquanto, tem segurado-o.
E isso é bom, ainda que passe. — e passa.
Mas quando você acha que,
finalmente, está começando a dominar
o adversário, a luta — o jogo —
de repente, num simples descuido,
acontece o golpe fatal.
E lá está você, outra vez, nocauteado, dominado, vencido.
Golpe baixo, às vezes,
é algo te fazer lembrar
dois belos olhos castanhos
e uma boca carnuda
mordendo você.
Por Eles -
Eu sempre vou amar os jovens,
os adolescentes.
Claro,
falo do verdadeiro espírito
dessa fase da vida — a liberdade,
a espontaneidade, os sonhos,
a urgência.
Alguns traços de rebeldia,
a malícia com um certo ar de ingenuidade,
a vivacidade, tudo isso que (por muitas vezes,
em conjunto ou não), extrapolam alguns limites, mas, ainda assim (envolto de algum traço de poesia), é uma necessidade
à alma — à vida.
Naturalmente, hora ou
outra,
também vou odiá-los,
mas,
logo em seguida,
perdoá-los.
Eles estão no lugar onde a vida mais entorta,
mais destoa, mais balança.
Ainda que, sob a benção da distração, não percebam a real de tudo isso.
Eles não sabem bem o que são,
nem mesmo sabem o porquê
de não saber o que são.
Mas eles precisam saber, urgentemente precisam saber e ser o que ainda desconhecem.
A vida cobra decisões de gente grande,
e eles ainda não o são.
Ser criança ou ser adulto é, de certo
modo, mais confortável:
Ou se vive num sonho
fantasioso, relativamente
ainda seguro,
ou numa realidade
palpável. — se não a ideal,
o mais próximo da
mais provável.
Ser jovem, adolescente
é viver tudo ao mesmo
tempo.
Uma mistura — agredoce — uma doce maldição poética,
e sem tempo (ainda que
tenham tanto), para maiores entendimentos.
E isso confunde, sufoca,
dá medo.
(E digo jovem, adolescente,
não somente falando
de idade).
Algumas adolescências
beiram os trinta, os quarenta anos...
Mas penso que todo ser
humano com alguma coisa
especial,
independentemente
da idade,
carrega algo jovem, algo adolescente
no espírito.
Acho que é, também,
por eles e por isso
que eu escrevo.
Sigo —
Sigo com uma enorme angústia em
formade mágoas e decepções.
Mas sigo.
E sigo,
simplesmente
porque é o que me resta.
Não direi-lhe mais nada, nem cobrarei nada.
Nem a deixarei mais me ver chorar.
Apenas seguirei... como um rio
calmo e esquecido que aparenta estar secando, mas ainda em fluxo.
Ainda.
E espero que um dia melhore;
Espero que um dia aceite;
Espero que um dia passe.
Espero... mas, por ora, não a
espero mais.
À Altura —
Gente fria me assusta, me desestimula,
me põe pra baixo.
Meus dedos querem dedos
e pele quentes.
Meus olhos querem olhos
admirados, devotos, sonhadores.
Meu coração, meu íntimo,
meu sentimento anseia,
implora por algo vivo, intenso,
desmedido — recíproco.
Nada menos.
Vai acabar logo (a gente
sabe),
vai acabar logo — não
há escapatória.
Então,
o que estamos fazendo,
afinal?
O que realmente importa?
Há um fluxo sanguíneo,
e neurônios, e sentimentos
vivos justificando vida.
E enquanto vivo, não suporto
gente fria demais, gente distante
demais, gente rasa (demais).
Toquem um cadáver!
Digo,
toquem um cadáver e entenderão
a necessidade de uma resposta
à altura do seu sentimento.
Cegos de Coração –
É bem provável que a grande maioria
das pessoas que veem as coisas,
simplesmente não
as sinta.
Por isso todo esse desapego nos
desejos e gestos;
Por isso toda essa superficialidade
nos gastos e gostos;
Por isso todo esse desperdício,
toda essa futilidade, toda
essa cegueira.
Talvez sejam esses, cegos de coração.
O Inferno de Um Amor –
E enquanto aquela velha angústia
— intimamente — despedaçava
minh'alma que, por vezes,
já não reagia mais,
eu pensava:
O grande risco eram as grandes paixões confessas — com suas urgências,
suas entregas, suas intensidades —
dolorosa e amargamente
silenciadas, quebradas,
emudecidas.
Assim,
o inferno de um amor é a mistura de
rejeição e esperança, transformada
em ciúmes, ódio e saudades.
E não há poesia pra isso.
Estranha Culpa —
Cedo:
é no primeiro abrir de olhos
que eu sinto a maior das angústias.
Tem sido assim: cedo.
O dia amanhece, e eu continuo turvo,
sombrio, acuado, com medo de
sair de baixo do cobertor.
Que agonia, que angústia essa sensação
de vazio, de abandono, de desperdício...
este peso, esta culpa, meu Deus! — esta estranha culpa.
Mas os deuses ou o diabo (não sei),
parecem se divertir com
tudo isso.
Estamos no inverno, mas hoje
é um dia de sol e, enquanto
eu ia até o carro,
deparei-me com um beija-flor
morto, próximo
ao meio-fio.
Já na rua, ao virar à direita, espantei-me
com um cão desfigurado, arrastando
as patas traseiras, tentando (com
todo esforço do mundo,
coitado), alcançar a sombra
debaixo de um carro.
Não sei o que aconteceu,
mas a culpa está
em mim;
O perturbador silêncio do pequeno corpo
do beija-flor, ali no chão — estático —
está em mim;
A dor angustiante daquele cão-quebrado,
arrastando-se miseravelmente,
está em mim. — por quê?
Desperdiçados —
Eu posso sentir...
sim,
pela janela, aqui do
alto,
de olhos fechados,
com um dos braços para
fora,
tentando achar os tímidos
pingos de chuva,
eu posso sentir os dias frios
sendo desperdiçados.
É como se esses dias
tivessem uma quantidade
limite em minha vida
(e claro, tem),
e esse limite estivesse
por se esgotar.
Eu sinto,
tristemente eu sinto.
Eu sinto como uma perda
irreparável estar triste e
desanimado e
solitário
nestes dias cinza
de chuva e
frio que,
antes,
eu amava estar.
Hoje — tarde — dói-me tanto
assisti-los (inerte),
morrendo.
Eu sempre me dei bem
com a solidão,
até me sentir realmente
só.
As Estranhezas das Pessoas —
As particularidades, as peculiaridades
— as estranhezas das pessoas —
soam, quase sempre, como
um convite ao confronto,
ao embate — à guerra.
Quando, na verdade dali (por essência
e poesia), deveriam nascer flores,
erguer-se jardins.
A verdade das coisas da Vida,
antes de ser boa ou má
(sendo a essência do ser),
tem grande força e deve
prevalecer.
Gente Infeliz —
Julgar que alguém é ruim porque
é infeliz, é uma enorme
crueldade.
Pois parte da premissa de que se conhece as causas, os motivos e as circunstâncias do íntimo particular do sofrimento do outro, quando, na verdade,
na grande maioria dos
casos,
vê-se, quase sempre, somente a
superfície do problema.
Contudo,
ainda assim, ignora, desdenha
e condena-o mau.
Os Meus Nove Anos —
O que aqueles anos me traziam?
Bem,
eram dias e tardes e, muitas vezes, noites preenchidos por brincadeiras.
Evidentemente
havia horários para outras coisas:
uma coisa ou outra em casa,
escola, igreja.
Mas a maior parte do tempo era gasta mesmo com brincadeiras: jogo de botão, futebol na rua, pega ladrão... e, em especial, uma brincadeira com carrinhos e bonecos, em que revivíamos personagens de uma novela.
Eram os meus nove anos e, quando se
é criança, naturalmente, esquece-se
de se observar sendo.
Fantasiamos outras idades:
a juventude, a vida adulta, e só assim podemos, verdadeiramente ser
e estar criança.
Nós, adultos, emburrecemos: perdemos a capacidade legítima de sonhar, de divertir-se verdadeiramente.
O que aqueles anos me traziam?
Bem,
traziam-me a mim.
Contra o Desespero —
Dizer,
como uma confissão,
que eu já sei que essa pequena
chama de ânimo e esperança
logo se apagará, e assim
eu terei de, mais
uma vez,
buscar algo para tentar inflamá-la
contra o desespero,
é só uma parte da lucidez sobre
a realidade. — minha realidade.
A outra parte, dentre tantas outras,
e o que, constantemente, em mim falta,
é suportar essa realidade sem alarde,
com alguma decência — íntegro.
Gestos Nobres —
Quais gestos traduzem melhor
o amor?
Minha mãe costuma fazer tudo por nós
aqui em casa:
O essencial;
O necessário;
O exagerado. — progressivamente
(que eu me lembre), sempre
foi assim.
Dizemos: "não é preciso tudo isso,
mãe! — acabará adoecendo."
"É o certo: se eu não o fizer é que
adoeço." — responde-nos.
Na infância e na adolescência,
naturalmente, não percebemos tais
gestos nobres (muitas vezes
sacrificantes), de amor,
vindos dos nossos pais, nossos avós.
A Luz Maior veio-me depois que eu
me tornei pai, tornando-a vó.
E é aí que está a magia:
Num processo, aparentemente
natural, de renovação do espírito humano, dando-lhes a sabedoria infantil de,
outra vez, tornarem-se puros,
dotados de mais cuidados
e mais afeto e mais amor,
"Deus" — com ternura — (como para as
crianças e para os animais), olha
muito mais para os avós.
Mudados —
Depois de mais de dois anos
ausentes — numa distância que nos aproximou por um tempo,
enquanto afastava-nos
para sempre (talvez) —,
estávamos, outra vez, sob o mesmo
céu, o mesmo cep. — (e sem que eu soubesse): mudados.
Então,
naquela tarde de brisa e sol suaves,
num casual encontro-despedida,
ao perceber-me e eu ela,
viramo-nos as costas,
e o Universo a
página,
e a Vida continuou (normalmente),
um piscar de olhos
depois.
Mal Alcanço —
O mundo — este mesmo, feio,
feito de gente — roubou minha
doçura auroreal;
Meu olhar afetuoso e admirado;
Minha essência nobre e
esperançosa.
Agora, tenho tido raiva de ser bom,
de ser amoroso, de ser gentil...
sentimental.
Deixei de acreditar nos fins
de tardes dos sábados;
Nas manhãs amenas
dos domingos;
Nos dias cinza de chuva
e frio. — ah, que desperdício!
O mundo — este mesmo, feio,
feito de gente — poupou-se
esgotando-me.
Hoje, quase tudo que me faz bem
é passado, distante, antigo — mal alcanço.
Não Identificado —
E,
de repente,
contra a única luz que ali havia,
surge-me um objeto voador logo ou,
melhor, não identificado.
"Um pernilongo! Por onde
entrara?" — pensei aos berros na minha
cabeça —, erguendo-me num impulso
até a luz do quarto, para confirmar
e expulsar o invasor
inconveniente.
Com o auxílio de luz intensa
não se via inseto algum.
Mexia pra lá, sacudia pra cá.
Confere, percorrendo detalhadamente,
cada centímetro de pele e roupa e cabelos
do outro eu — meu filhote —,
e nada da iminente ameaça. — "então,
na escuridão do vazio da escuridão de um
quarto escuro e uma mente
obscura e cheia,
contra a luz na escuridão do vazio
da escuridão de uma mente
obscura e cheia,
o tal delinquente — gigante — neste
meu universo — subjetivo —,
era só um inseto menor — bem menor,
ínfimo — alongado pela pouca luz
na grande escuridão (do vazio da
escuridão de um quarto escuro
e uma mente obscura e cheia),
sem arma, sem fama, sem
alma de pernilongo?"
(...)
Como um zumbido ouvi
(vindo de fora):
Apaga a luz e dorme!
Um Convite —
A noite foi péssima, o dia está
cinza,
mas eu amanheci.
E como, quase sempre, me sinto melhor
nos dias cinza de tempestade
do que nos dias dourado
de sol,
a escuridão da noite tem se tornado
um convite quase que irrecusável
à luz:
Interna.
Abismos —
Há um abismo entre cada
um de nós.
Entre alguns, há uma ponte — larga
na ignorância, na mediocridade, na superficialidade. — raramente
sólida, segura.
Decerto, entre distintos e sublimes,
quase sempre, estreita, irregular,
arriscada, que, vez ou outra,
balança e assusta — ainda
assim, uma ponte:
um acesso, um alcance,
uma conexão,
ligando solidões, medos,
sonhos — vidas.
Mas entre a maioria
— a grande maioria —
e a parte que salva, só há o abismo:
enorme, sem ponte, sem pontos
de conexão, nem acesso, nem alcance.
Do raso ao profundo;
Do descartável ao raro;
Do extremo vazio à poesia:
Um Abismo.
Não quero pensar. — pensar abre abismos.