Poemas Bonitos
O Peso Maior –
São tempos de abandonos:
alguns cruéis, outros
necessários.
Alguns outros cruéis e
necessários.
É um mundo dividido
entre os que ferem e
os que são
feridos.
Entre os que ferem,
há também
feridos.
Entre os feridos,
muitos que
ferem.
Não está fácil para
ninguém, mas os bons
— sobretudo os bons —
carregam o peso maior
da vida.
A Esperança Morreu —
Era um amor (assim eu o chamava),
e quando se fez tormenta — de anos —, onde se queria paz,
parecia insuportavelmente insuperável,
e a saída intransponível.
Então, a esperança que (tantas vezes
é sonho e liberdade,
mas também âncora e abismo;
Que alimenta-se de sonhos e grandezas,
assim como de correntes e migalhas;
Que sustenta tal como aprisiona-nos),
essa mesma — a esperança — um dia, num choque, morreu e, estranhamente
aliviou-me.
Como explicar o que aconteceu?
Não sei. — nem antes
nem depois.
O Inferno de Um Amor –
E enquanto aquela velha angústia
— intimamente — despedaçava
minh'alma que, por vezes,
já não reagia mais,
eu pensava:
O grande risco eram as grandes paixões confessas — com suas urgências,
suas entregas, suas intensidades —
dolorosa e amargamente
silenciadas, quebradas,
emudecidas.
Assim,
o inferno de um amor é a mistura de
rejeição e esperança, transformada
em ciúmes, ódio e saudades.
E não há poesia pra isso.
O Peso do Vazio –
Os dias de dor e solidão em
que eu ainda encontro
a luz da escrita,
são dias ruins,
mas não são
os piores.
Os piores dias são aqueles
em que há a angústia,
o sofrimento,
e falta-me a ideia,
a palavra.
Nesses dias
eu meio que sinto um
gosto precoce da morte
ou, talvez,
do processo de morrer.
Uma espécie de erro:
um espaço não habitável,
habitado por algo — ao mesmo
tempo íntimo e desconhecido.
Um estranho peso:
o peso do
vazio.
Em Silêncio –
Os instantes do dia em que eu
fico em silêncio (pensando),
são sempre os momentos em
que,
essencialmente,
me ouço.
A fala,
diante de um interlocutor,
é corruptível.
Somos,
verdadeiramente,
honestos,
em pensamento.
Instante Infinito -
Estou com excesso de palavras
presas ao peito.
Excesso de vontades vorazes
— abraços e beijos não dados —
e uma falta gigantesca de qualquer
coisa nossa.
É uma canção por terminar,
um verso por concluir,
um... quase
isto.
E no meio disso tudo,
no instante infinito que
separa a gente,
eu quase não
existo.
A Pedrada e o Silêncio —
Foi um dos golpes mais
duros que eu
já recebi:
Ouvi tudo que sempre
quis ouvir e, feliz,
extremamente
feliz,
virei-me para
continuar a andar,
mas, passos
depois,
a pedrada e o silêncio.
(Alguém tocou a vida
normalmente depois
disso:
E não fui eu).
Abreviada —
Certo dia,
numa conversa com
uma adolescente de 16 anos,
(através de uma rede
social),
eu fiz-lhe duas perguntas em
que as respostas, de um
ponto natural,
eram as mais simples:
sim ou não.
Mas ela conseguiu "simplificar"
ainda mais:
A primeira respondeu-me
com um "Nn".
E para a segunda ela usou
um "Ss".
Ainda um pouco confuso,
pensativo,
eu deduzi que esses
"sinais",
seriam abreviações do
sim e do não,
e então questionei-me:
O que será desta e das
próximas gerações?
(Ora, a grande maioria das pessoas
já não é lá grande coisa,
imagina só abreviada).
Um Grande Inferno —
Aquela situação (o sentimento — de anos — não correspondido, a saudade, o ciúme), tudo aquilo me consumia de uma maneira assustadora, e eu não podia controlá-la, não encontrava uma saída.
Eles eram jovens e saudáveis — embora
idiotas — e faziam parte da geração dela.
Eu não poderia nunca vencê-los fazendo o mesmo que eles.
Eu só poderia vencê-los, de alguma maneira, fazendo, naturalmente, diferente. — sendo o diferencial na vida dela.
Assim, quando ela lembrasse de um deles, lembraria de todos eles ao mesmo tempo.
Mas quando, por ventura, lembrasse-se de mim, então lembraria somente de mim.
Naquela noite eu fui dormir sabendo que ela estava com outro, fazendo tudo que se pode fazer com um outro e, aquela noite, como tantas outras, foi uma noite longa, terrivelmente longa e dolorosa,
e meu sentimento — nobre — que, por grandeza, deveria ter morrido ao amanhecer, acordou comigo, levantou-se comigo, (droga!), vive vivo comigo,
e isso é um grande inferno,
meu Deus!
Objeto Pontiagudo —
Um jogo de futebol na TV
quase sempre me salva.
Uma bebida, uma conversa com um amigo,
a leitura de um poema me salvam.
Um cochilo de quinze minutos à tarde;
uma corrida de meia hora; um dia frio de chuva, todas essas coisas,
momentaneamente
me salvam.
Me salvam durante o tempo em que
estou ali concentrado, distraído.
A realidade crua da vida me cai como
um objeto pontiagudo sobre a pele nua,
por dentro: na alma. — e isso dói tanto.
A Receita —
Eu poderia dar a receita àqueles
que querem destruir-me.
É tudo muito simples,
fácil.
Há, porém, um detalhe:
A grande crueldade é que,
ironicamente, não
funciona para
o inimigo.
Somente os que têm meus
mais sinceros sentimentos
conseguem destruir-me
facilmente.
Os inimigos ainda correm
algum risco.
Já é Morrer —
Meu desespero, minha agonia
não é a solidão de uma
vida triste.
Meu desespero, minha
angústia, minha
agonia,
é a insignificância de uma
vida medíocre. — medíocre,
solitária e triste.
Final de Ano —
Fiquemos atentos, tomemos
cuidados.
Não sei o quanto há de superstição;
O quanto há de medo, de verdade,
de maldição.
Mas sei que há a caminho um fim
que se aproxima. — o fim de um
ciclo — onde um Deus vai precisar
prestar contas.
Fiquemos atentos, tomemos
cuidados.
Sorte!
De Coração Menino —
Ouvi dizer que,
lá pras bandas do sertão
da Bahia,
um Poeta (de coração
menino),
explodiu o peito de tanto
sentimento reprimido.
Olhos de Tempestade —
Direi sempre que é por algum
outro motivo qualquer:
Mal-estar crônico;
falta de grana;
tédio;
a alta do dólar;
o horóscopo do dia;
o cabelo num dia ruim;
muito quente, muito frio...
Mas nunca, nunca que é por
conta de um coração
partido.
O Chão da Estação —
Olha só:
parece-me que as pessoas estão
indo muito bem sem você,
garoto.
(Que já não é mais tão
garoto assim).
Ela parecia importar-se com você
há algum tempo. — com o que
você pensava e falava
e sentia —
mas agora... agora não!
Ela parecia querer estar com você,
dividir coisas com você: risos,
gostos e sons.
Talvez anos, talvez sonhos — talvez a vida.
Mas olha só agora:
Ela veio e não disse que vinha;
Foi sem dizer que ia.
E você foi só o chão da estação
pela qual ela passou (acompanhada,
sorridente, distraída),
sem a mínima vontade
de ficar.
Sorriso Sincero e Genuíno —
Quando um dia (se um
dia),
porventura,
eu deixar escapar no rosto
um meio sorriso sincero e
genuíno de felicidade (felicidade
de alma cândida),
eu saberei, tão logo,
tão certo, exatamente, a quem
(não) contar o
motivo.
16/12 -
Ora,
por que haveria de ser
diferente?
Apenas deite
e durma.
Amanhã será só mais um dia
a menos como todos
os outros.
O sol nascerá a leste;
A vista da janela
ainda será a
mesma;
O tempo se desenrolará
na mesma velocidade
de todos os outros
dias.
Então,
arrumarei a cama e
os cabelos como
em todos os
outros;
Escovarei os dentes
e mijarei como em
todos os outros;
Prepararei o café e os
ovos e os pães (se houver
pão), como em todos
os outros dias.
Ao fim da tarde
sentirei fome e sede
e saudade como
em todos os
outros.
Ao fim do dia
estarei aqui sozinho,
assim, como estou:
no escuro do quarto,
deitado na cama,
como há sete dias,
como ontem,
como agora e em
todos os outros.
Vamos,
apenas deite e
durma. — amanhã será só
mais um hoje a
menos.
Você Está Louco -
Lembro-me dela na mais peculiar
das lembranças:
ela bocejando em minha frente.
E ainda assim, ela
me atraía.
E me atrai como nenhuma
outra.
Como nem mesmo as melhores garotas
que vemos nas redes sociais
conseguem.
E todos dirão: "você está louco?
Você está louco? Você está
louco! — está apaixonado".
Num tom que denuncia algo como:
"você é um fraco, um idiota, um
derrotado! — está apaixonado.
Os mais fortes ignoram-nas.
Os mais fortes rejeitam-nas.
Os mais fortes usam-nas
como usam coisas e
descartam coisas.
Mas você é um fraco — está apaixonado.
Ela vai acabar com você."
E não é que eles estejam
certos,
não, definitivamente, não
estão.
Mas a verdade é que elas
sempre acabam
comigo.
Nossa Importância —
Que loucura!
Precisamos estar vivos
para que nos queiram
mortos.
E mortos para que nos
façam vivos.
Algumas pessoas merecem
nosso sorriso,
nunca, nunca nossas
alegrias.