Poemas Bonitos
Cruel –
Não estamos prontos para
a verdade.
Nunca estivemos, nunca
estaremos.
Sapos aparecem quando insetos
aparecem. — é a natureza
das coisas.
Embora o resultado disso (em que insetos são engolidos vivos), possa parecer, um tanto quanto, cruel, é apenas o fluxo natural
das coisas.
O SER HUMANO É CRUEL! — pois tem a consciência dos seus
atos — da dor do outro,
do sofrimento
do outro.
Mente conscientemente; maltrata conscientemente; mata
conscientemente.
Não estamos prontos para
a verdade:
Culpamos a sorte;
Culpamos o destino;
Culpamos a vida — nunca a
nós mesmos.
Culpamos deuses e diabos — nunca, nunca a nós mesmos.
Não estamos prontos para
a verdade.
Nunca estivemos, nunca
estaremos.
Circos Pobres -
As redes sociais são como
circos pobres — de essência.
Com palhaços infelizes, superficiais e sem
muito talento.
Mas quando as cortinas se abrem (ainda que as piadas sejam
repetidas, vãs e, muitas
vezes, levianas),
é preciso divertir a plateia
— também de palhaços —
tão infelizes, medíocres e
superficiais quanto
todos eles.
Traição –
Naquele dia eu morri.
Sim, eu morri.
Mas morri porque
mataram-me.
Eu não queria morrer. — em mim,
havia sonhos, havia desejos,
havia sentimentos.
Mas, naquele dia, mataram
tudo.
— Mataram os dias seguintes,
as semanas seguintes, os meses... aquele ano inteiro e todos os outros dias até este.
Mataram-me e dançaram sobre
meus restos mortais.
Ainda estou no chão
— quase imóvel, fragmentado, esquecido —
mas há um sol nascendo de dentro para fora,
forte como uma criança que cresceu,
mas não desaprendeu sua
melhor brincadeira.
O Cão Triste –
Certa manhã, enquanto eu cruzava um terreno que fica atrás da
minha casa,
fui surpreendido por um cão
que está sempre preso
naquele local.
Ao passar perto do animal
e quase pisoteá-lo,
ele tentou, por duas vezes,
morder-me.
No susto eu o olhei e,
só então, vi:
Olhos de tristeza. — tristes olhos de mágoas e tristezas de um pobre cão preso.
E eu quase o pisei.
O pisoteei em todos os outros
dias quando o ignorei.
Então, ele olhou-me com seus olhos de remela e mágoas e tristezas e, como num
clamor, parecia dizer:
"Olha, a minha vida é isto — esse chão sujo, áspero, quente, de dias e noites de solidão, preso a uma corda velha e suja, já tatuada
em meu pescoço.
Eu não sou aquela pedra imóvel
e alheia a tudo que está
aí à sua frente.
Nem esses gravetos secos e ponteagudos próximos
aos seus pés.
Eu emito sons, eu pulo, eu corro, eu me alimento, eu sinto dor,
eu preciso de carinho e cuidados, e dizem até que sou o melhor amigo do homem.
Mas, e o homem?
Vivo neste mísero espaço de terra e entulho desde que cheguei
aqui, amigo.
Nem nome deram-me.
Vejo outros cães livres (com seus problemas), mas livres — sem uma corda presa ao seu pescoço — servindo para lembrar-lhes que há uma saída, uma última saída,
mas, para mim, nem essa."
Aquilo me cortou o peito,
e tudo que eu pude fazer foi ir até minha casa, juntar um pouco de comida e água e levar até aquele sofrido cão revoltado que, àquela altura, me recebera com alguma cordialidade (animal).
Deixei-o comendo — apressado, voraz — aqueles restos de restos,
e vim embora.
Mas aqueles olhos tristes,
aqueles olhos sofridos e magoados.
Aquele quase clamor uivado
e interno,
aquela revolta, aquela corda
no pescoço ainda... ainda
sufocam-me.
Aqueles Tempos –
Que tempos foram aqueles:
A lua,
ainda quando era apenas
um pequeno risco feito a giz no céu,
em mim,
era o universo inteiro.
Quase Ninguém Vê –
Há sempre uma tragédia acontecendo
por trás de cada "estou bem",
"é normal", "não ligo", e
quase ninguém vê.
Infelizmente,
normalizamos e banalizamos
algo tão sério:
O coração das pessoas.
Abraço a Tristeza e Descanso -
Eu sinto-me menos mal quando
decido estar triste ao invés
de irritado.
O estado de tristeza incomoda,
machuca,
porém muito menos do que
o de fúria.
A tristeza costuma acolher-me e,
de certo modo, acalmar-me.
A fúria não.
A fúria é destrutiva.
Extremamente destrutiva.
A maioria tem-na como uma forma
de defesa e de ataque, mas,
na verdade,
ela ataca-nos na mesma
intensidade, e isso causa um
enorme mal.
Prefiro ser um tolo triste e, talvez,
sábio — recolhendo-me e ficando
em silêncio —
a ser um tolo furioso e idiota,
cheio de ódio.
(Ainda que a vida cobre‐me o contrário).
Entre estar furioso ou estar triste
(em silêncio), afasto-me:
abraço a tristeza e descanso.
É de Partir o Coração, e Eu Sei. Mas Eu Preciso Dizer -
Quando sentir que tem algo imenso,
nobre e cuidadoso, alimenta-o
de mais vontade.
E se por acaso houver uma enorme
distância contra esse amor,
resista:
continua firme, diminuindo-a.
Se além disso há pessoas lutando
contra essa união,
mostra-se mais forte e corajoso
que essas,
e siga adiante, firme, em nome desse
sentimento.
Se ainda assim o mundo tentar impor "dificuldades", tais como:
Classe social;
Cor da pele;
Ou religião, então, revoluciona:
Inventa uma liberdade qualquer ou qualquer outra coisa sem nome, e continua mais
firme ainda.
Agora, se tem um sentimento imenso,
nobre e cuidadoso, e a única coisa
contra esse amor é o outro,
sinto muito. Sinto muito
mesmo:
É inútil!
Ainda Éramos Nós -
Eram sete e dezessete de uma noite
quente de segunda-feira, de um
fevereiro sem Carnaval.
E lá se vão quase duas décadas
de amizade.
Éramos jovens, cheios de sonhos
e de tempo,
e nem imaginávamos que,
quase vinte anos
depois, (meio às pressas),
ainda estaríamos assim, como antes.
Muita coisa aconteceu
desde então:
algumas nasceram para o bem,
outras se perderam,
mas, enfim,
ainda estávamos alí por algum motivo.
Por tantos motivos, afinal, mas
por uma única razão:
Ainda éramos
nós.
E,
então,
alí, naquele local,
por alguns segundos,
entre uma palavra e outra,
entre um acorde e outro,
entre um riso e outro,
eu reparei em nós quatro ali juntos
como nos velhos tempos,
como nos últimos encontros a cada
três anos e, enquanto nos despedíamos,
eu pensei:
"Poxa, será que teremos a chance
de um novo encontro?
Droga,
ainda somos tão jovens,
eu não deveria estar pensando
nisso."
Mas eu pensei.
A Frieza -
Gosto de gente interessada naquilo
que ouve, fala e faz.
Gosto de pessoas que se empolgam
ao falar de coisas simples.
Simples e nobres: um poema, um livro,
um filme,
o pôr do sol visto através de uma
vidraça quebrada.
A frieza das pessoas me desestimula,
me põe pra baixo, me desanima,
a ponto de me deixar quase
sem ação.
Logo,
eu procuro o caminho mais curto
da conversa e tento encerrá-la,
o quanto antes, por
alí mesmo.
Maldito Sentimento Verdadeiro -
Há guerra pior do que a que precisamos
matar nosso próprio coração
(já mutilado, esgotado),
infectado por um inútil e maldito
sentimento verdadeiro,
fielmente
não correspondido?
Não Há Evolução -
Não se pode falar em desenvolvimento, em evolução humana enquanto houver pessoas morrendo em decorrência da fome.
Nada evolue sem que, primeiro, se priorize e se alimente o básico, o vital, o essencial.
Mesmo nos dias em que as Bolsas de Valores estão em alta, pessoas continuam morrendo de fome.
(Não há evolução!)
No Estranho –
Uma boca oblíqua; olhos tristes;
cabelos imaculados.
Manias, gostos e gestos
peculiares. — a minha vida inteira
foi assim: enxergar beleza no quase invisível,
no estranho, no incomum.
Onde, para a maioria, desfocava,
destoava, distorcia,
eu via graça, encanto, inspiração.
Um olhar lírico e terno e devoto
à essência;
à mocidade;
à espontaneidade.
Uma visão, ora abstrata e distraida,
ora doce e real ao coração. — meu coração.
Que combinação perfeita à solidão:
estranho, melancólico e
sentimental. — sou eu.
E penso que, ao menos aqui, estou
seguro: quase ninguém me nota,
quase ninguém me sente,
quase ninguém me vê.
Parece Ontem –
Naquela tarde o vento (leve),
era por nós dois;
O céu (claro), era por nós dois;
Os pássaros e animais e insetos,
e todas as flores naquela tarde
eram por nós dois.
Despedi-me entregando-lhe flores
e dizendo:
Que saudade! — a primavera já
parece ontem.
A Nudez da Alma —
Vamos escancarar o ser humano:
abri-lo com uma faca
cega.
Rasgar suas frias e
falsas carnes.
Falhando, e cortando.
Falhando, e cortando.
Falhando e cortando com força,
com mais força, mais força ainda para compensar a cegueira da faca;
A cegueira da consciência;
A cegueira da raça.
Vamos envergonhar a raça:
mostrar a falsidade, a crueldade,
o cinismo. — nas falas, nos
atos, nos gestos.
Vamos gritar os piores silêncios!
Silenciar os piores gritos!
Desconfiar! Desconfiar!
Desconfiar de tanto!
De tudo!
De todos!
Vamos cortar o básico,
o essencial: deixando-o com todo
o resto que é só vaidade.
Só vaidade, meu Deus!
Vaidade que não se come
nem se bebe.
Vaidade que dá fome
e adoece.
Vamos escancarar o ser
(humano?): abri-lo com uma faca
cega e dar-lhe a vergonha
num espelho limpo,
cristalino.
Dar‐lhe a nudez da alma sob a carne,
inocentando o destino, inocentando a sorte,
o acaso. — inocentando
Deus e o diabo.
11h11 —
Ainda estávamos a sós na sala,
esperando o resto das pessoas chegar, quando dividimos uma cadeira,
um violão e uma canção.
Havia uma estranha falta que a pele ali implorava preencher-se em cada esbarrar de mãos e pernas (sob as roupas).
(Também pudera: passara-se alguns dias que não nos víamos), e era nítido a saudade no fitar de olhos e no entusiasmo com que nos procurávamos entre as pessoas que, enfim, ali estavam para o ensaio daquela manhã.
Dera, então, onze e onze, e de repente,
ela olhou-me, deu-me o sinal
e, juntos, sorrimos.
(Sim, sorrimos e ninguém, além
de nós dois ali, entendeu),
e digo que assim foi bonito.
Talvez, naquele instante, estivéssemos num grau — interno — mais elevado que
todo o resto do mundo.
As pessoas, em sua maioria,
quando se fala em
Universo,
pensam logo em algo
grandioso para
fora.
Eu penso em algo grandioso
para dentro.
Há um perigo aí (um perigo
estranho e bom): ela me liga à arte.
E as mulheres que me ligam à arte,
me ganham para a vida.
Uma Xícara de Café —
Uma xícara de café com (exageradas),
cinco colheres de açúcar, esfria (solitária),
na mesa da sala.
Olho-a com algum desconforto
e demasiado respeito. — é café.
Segundos antes, de súbito, ela precisou abandoná-la ali (com o café
ainda quente, ainda por provar...
querendo, desejando-o).
Ela agora atravessa o corredor,
vai até a sala principal, e volta (ritmada), cruzando os meus olhos de menino pagão, em passos debochados.
Que demora! — quantas pessoas
mais (e más) surgirão ainda
para segurá-la por lá?
Quantos papéis (documentos), ela
precisará dar conta até a
parcial liberdade?
Quantas eternidades cabem
neste instante infinito que
nos separa, ó Tempo?
E então volto os meus olhos para a xícara
de café (agora já frio),
que espera, espera... espera-a,
mas não tanto o quanto eu.
Uma Quase Revolta Gritada —
As mentes — otimistas — que servem para viver neste mundo caótico e injusto, adaptando-se a ele, não servem
para mudá-lo.
É preciso que haja uma dose crônica de pessimismo, de insatisfação — uma quase revolta gritada — (sem que
se perca o ânimo).
Estar, de certo modo, em paz neste mundo caótico e injusto, é ser parte significativa deste caos, desta injustiça.
Sobre Ser Poeta -
E como é fácil bancar o idiota.
Por mais belas que sejam as palavras.
Por mais intensas que sejam as atitudes.
Por mais sinceros que sejam os sentimentos...
É tão fácil bancar o idiota.